Uma das promessas de medalha brasileira nos  Jogos Paralímpicos Rio-2016 é a equipe masculina de goalball –  esporte coletivo praticado por jogadores com deficiência visual e  que tem sido estudado por pesquisadores do Laboratório de  Biomecânica e Instrumentação (Labin), da Faculdade de Ciências  Aplicadas, na Unicamp, em Limeira. 
  Um dos pesquisadores envolvidos é Thiago  Magalhães, que fez a análise cinemática das ações ofensivas no  goalball, a partir da descrição dos movimentos e ações de atletas  em jogo. Ele apontou os resultados em sua dissertação de Mestrado,  defendida em abril pelo programa de Ciências da Nutrição e do  Esporte e Metabolismo (FCA-Unicamp). 
 “Outros pesquisadores já buscaram  estudar o esporte, mas por meio de metodologia observacional, que é  uma forma qualitativa, na qual os dados se fundamentam na  interpretação do observador. Nessa pesquisa, fizemos uma análise  quantitativa do jogo por meio da videogrametria, que utiliza câmera  de vídeo e computador e possibilita tanto a obtenção da posição  de todos os jogadores em função do tempo como a visualização de  cada evento ocorrido na quadra”, explica Magalhães, que  complementa: “Uma das contribuições dessa metodologia consiste em  trazer informações quantitativas do jogo com acurácia”. 
 O goalball baseia-se na troca de arremessos  com bola entre as equipes – e vence a que fizer mais gols no fim de  dois tempos, de 12 minutos cada. Embora cada time seja formado por  até seis jogadores, apenas três atuam em quadra: um pivô e dois  alas. A baliza estende-se sobre todo o fundo da quadra, e os atletas  tentam bloquear o arremesso adversário, considerado válido apenas  se a bola tocar no chão ao menos uma vez em sua área de lançamento  e na área neutra do concorrente. A intenção é evitar bolas aéreas  para não dificultar a percepção dos guizos em seu interior. Os  atletas também se orientam na quadra – de tamanho similar a do  voleibol – a partir das linhas demarcatórias em alto relevo. Como  jogadores de graus diferentes de perda visual competem juntos, eles  usam tampões sob seus óculos para evitar vantagens àqueles com  maior acuidade visual.  
 Milton Shoiti Misuta, orientador da  dissertação e coordenador do Labin, ressalta que, até o momento,  não existiam referências da aplicação baseadas na videogrametria  (já bastante utilizada em esportes como futebol, basquete e tênis)  no goalball, modalidade com a qual teve contato durante seu  doutorado, depois de trabalhar com outras modalidades paralímpicas,  como o futebol de cinco e o rugby sobre rodas. “A importância  dessa pesquisa já começa por se tratar do primeiro projeto que usou  videogrametria para levantar características dos arremessos a partir  das técnicas utilizadas, o tipo de bola, além da velocidade e sua  trajetória”, explica. 
 Segundo ele, essa identificação é  importante, dado que a velocidade da bola durante a trajetória de  arremessos relaciona-se com a capacidade de o jogador adversário  interceptá-la. “Uma bola veloz reduz o tempo de o adversário  reagir”, escreve Thiago Magalhães em sua dissertação. A partir  dos resultados da pesquisa, Magalhães concluiu que a velocidade da  bola sofre influência também da posição dos jogadores, da técnica  dos arremessos e do tipo de bola. “De modo geral, foram verificadas  diferenças entre as posições, as técnicas e também os tipos de  bola, com futuras implicações no planejamento e controle do  treinamento de goalball para melhorar o nível técnico”, conclui.  
   
 Rastreamento  de atletas captado pelo software DVideo, em partida de goalball  filmada por duas câmeras digitais, acopladas em lugares diferentes  da quadra. 
 Assim como outras modalidades paralímpicas,  o goalball foi criado após a Segunda Guerra Mundial durante  programas de reabilitação de feridos em combate, e foi incorporado  ao programa paralímpico em Toronto, Canadá, em 1976, mas apenas o  masculino. As atletas começaram a participar em 1984. No Brasil, as  primeiras partidas foram realizadas no início da década de 1980, e  a primeira medalha, a de prata, foi conquistada pela seleção  masculina em 1994, nos jogos Parapan-Americanos de Buenos Aires. Em  Londres, em 2012, uma edição após a sua estreia nos Jogos  Paralímpicos de Pequim, a equipe masculina brasileira conquistou o  vice-campeonato e, em 2014, garantiu o Campeonato Mundial.  
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