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                            10/05/2012
                             “A união faz a força” é com certeza um ditado popular  muito conhecido nas conversas incentivadoras e motivacionais que acontecem em  movimentos sociais, reuniões de empresas, palestras e até em finais de  campeonatos de diferentes esportes coletivos. Afinal, a sensação de um grupo  alcançando um objetivo comum resume uma das maiores essências do ser humano: a  coletividade. É esse ditado que o engenheiro de produção e doutor em economia  política, Luiz Orenstein, usa como a máxima de seu livro A estratégia da  ação coletiva, publicado em 1998 pela Editora Revan em parceria com o  Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). 
Orenstein não apenas mostra sua crença na coletividade  e na ação social. Ao longo de seus três capítulos, o livro se torna um  complemento para estudos de cientistas políticos e economistas ao propor uma  nova abordagem para conhecidas teorias, como o Dilema do Prisioneiro, a Teoria  Social e a Teoria da Ação Social. A abordagem é feita através denovas noções e  conceitos, utilizando equações inspiradas na Teoria dos Jogos, ramo da  matemática que estuda situações estratégicas onde jogadores (indivíduos, empresas,  políticos, entre outros) escolhem diferentes ações na tentativa de um melhor  retorno individual e/ou coletivo. Essa teoria é muito estudada e divulgada por  acadêmicos de economia, como o ganhador do Nobel de economia de 1994, John  Nash, que teve sua biografia retratada no filme Uma mente brilhante, de  2001. 
A teoria mais citada e revisada por Orenstein em seu  livro é o Dilema dos Prisioneiros. Trata-se do famoso problema formulado pelos  matemáticosMerrilFlood e Melvin Dresher, e formalizado por Albert Tucker, que  descreve a situação de dois prisioneiros diante de uma escolha a ser feita: se  um delatar o outro, o delator ganha a liberdade e o delatado, a sentença de dez  anos em confinamento; se os dois delatarem um ao outro, ambos ficam presos por  cinco anos; e, por fim, se ambos ficarem em silêncio, serão sentenciados por  seis meses, tornando esta a melhor saída para os ambos. 
O autor observa que boas escolhas, do ponto de vista  individual, levam a situações que podem trazer algum custo para outros  indivíduos da coletividade. Mas, segundo Orenstein, o Dilema dos Prisioneiros  não propõe diferentes alternativas.Com muita análise, e também cálculos, o  autor procura desenvolver resultados mais otimistas para os problemas da ação  coletiva. Para ele, em um grupo social, mesmo que plural e com a combinação de  diferentes tipos sociais, podem surgir inúmeras outras configurações  estratégicas mais apropriadas, com resultados muito menos desanimadores e não  apenas resultados satisfatórios individuais. 
Para comprovar sua tese, Orenstein abusa de  ferramentas, como equações e gráficos, para desenvolver um raciocínio no qual  busca a comprovação de que, sim, é possível encontrar um nível de cooperação  social capaz de atingir um bem coletivo, independente das inúmeras variáveis de  decisão, consequência e métodos envolvidos. Nas palavras do próprio autor, o  livro “trata de uma proposição teórica, limitada por suas hipóteses de  construção, que se junta ao coletivo de modelos que tentam entender como  indivíduos podem contribuir para o bem comum sem estarem obrigados ou  privadamente estimulados a fazê-lo”. 
Pessimismo? 
O autor busca sempre, ao longo de todo o livro,  argumentos que combatam as premissas de outras teorias segundo as quais ótimas  escolhas sociais podem ser ruins do ponto de vista individual. E, para isso,  ele defende que “se em teoria, racionalidade e ação coletiva se tornavam  incongruentes, na prática isso não acontecia”. 
Se existe alguma ponta de pessimismo do leitor – mesmo  o leigo – sobre a ação coletiva, ele pode se surpreender com Orenstein utilizando  as próprias teorias de ação social para demonstrar seus possíveis erros,  caracterizando-as como“teorias falsificadas”, que tentariam corroborar a tese  de que seria quase ou totalmente impossível uma ação coletiva alcançar sucessopara  todos devido à complexidade de um grupo social. 
E, por tudo isso, o livro se torna um incômodo para os  teóricos sociais, e também para economistas. Orenstein alega que os economistas  brasileiros têm evitado “o diálogo mais profícuo com a ciência política, com  grandes prejuízos ao debate acadêmico”. 
De uma forma otimista o autor tenta nos fazer  acreditar que “o bem coletivo é produzido com a finalidade de eliminar ou  reduzir os custos que um determinado mal coletivo impõe a uma população”, e que  o sucesso desse bem coletivo depende do sucesso da ação coletiva, mesmo quando  a situação é semelhante à do Dilema do Prisioneiro. 
A estratégia da ação  coletiva 
Luiz Oreinstein 
Ano: 1997 
Editoras: Revan e Iuperj 
Nº de páginas: 192 
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