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 Em   2010, o Instituto de Pesquisa da China para a Divulgação da Ciência   submeteu, mais uma vez, seus cidadãos a uma pesquisa nacional sobre   alfabetização científica. Esta foi a oitava iniciativa sobre tal   temática no país desde 1991. De acordo com os resultados da pesquisa, a   proporção de cidadãos chineses que foram considerados alfabetizados   cientificamente chega a 3,27%. Os números sofreram um ganho de 1,02% em   relação a 2007, e 1,67% a 2005. Sem levar em conta as diferenças de   metodologias usadas em levantamentos similares no cenário global, os   dados disponíveis de alguns países podem ser apresentadas como: os   canadenses aumentaram seus níveis de alfabetização científica em 4%, em   relação a 1989, os japoneses em 3%, desde 1991, e os europeus em 5%, na   comparação com 1992. A comparação indica que o povo chinês está,   aproximadamente, lado a lado com as populações dos países acima citados   em torno dos anos 1990, no que diz respeito a alfabetização científica,   que é um objetivo traçado em um projeto nacional do país em 2006.   Entretanto, apenas a pesquisa chinesa como único indicador não diz   muito. Outros resultados e atividades podem ser indicativos de que a   China tem participado do debate sobre comunicação da ciência.  
Povo chinês favorece a ciência  
Pesquisas anteriores mostram, a despeito  da deficiência da alfabetização científica, que uma grande proporção de  cidadãos chineses, entretanto, possui atitudes positivas em relação à ciência e  tecnologia (C&T). Os resultados da pesquisa de 2010 indicam:  
• Na compreensão geral sobre C&T, 74,8%  dos cidadãos chineses concordam que a “ciência e a tecnologia são tanto benéficas  quanto prejudiciais; e o beneficio compensa o prejuízo”.  
• Mais de sete dentre dez pessoas acreditam  que o governo deve financiar pesquisas científicas mesmo que elas não tragam  nenhum benefício imediato.  
• Dentre várias profissões, a reputação de  profissionais relacionados à C&T é mais favorável do que a de outros profissionais,  de acordo com o ponto de vista do público chinês. Os cientistas mantêm-se em  segundo lugar no ranking de prestígio  ocupacional nas pesquisas de 2005, 2007 e 2010.  
  
  O poder mágico da ciência e tecnologia  
Fica óbvio que os chineses favorecem  positivamente a ciência e a tecnologia e possuem grandes expectativas em  relação à carreira profissional nessas áreas. Isso ocorre, em parte, porque eles  testemunharam e experimentaram o poder da ciência e da tecnologia que mudaram grandemente  suas vidas e o mundo em torno deles e, em parte, por conta do senso comum formado  a partir de uma longa relação de defesa da ciência e tecnologia, que estabeleceu  uma imagem de admiração.  
Embora a admiração pela ciência e  tecnologia tenha sido substituída por uma atitude mais objetiva, a expectativa  em relação a essas áreas é ainda muito forte na China. Os chineses são atraídos  pela “mágica” da ciência e tecnologia, o que gera uma grande confiança e cria  um ambiente favorável para o desenvolvimento dessas áreas. Comparando com os  países desenvolvidos, os chineses compartilham de menos senso crítico em  relação ao que a C&T pode nos proporcionar. Mas, recentemente, sob a  influência da campanha mundial para a comunicação da ciência, o governo  incentiva as pessoas a se envolver com o assunto, o que demanda o desenvolvimento  da alfabetização científica em sentidos mais sofisticados. 
Atualmente, a alfabetização pública da ciência se refere às seguintes  habilidades:  
• Possuir conhecimento científico, método, pensamentos e ethos. 
  • Aplicá-los na resolução de problemas práticos e na participação de questões  públicas que envolvem a ciência e a tecnologia.  
A percepção multidimensional sobre ciência e da tecnologia, em seus  papéis na sociedade, expande e aprofunda a percepção pública de C&T. Os  chineses perceberam que a relação interativa entre a ciência e o mundo muda em  uma perspectiva de maior entendimento. 
As políticas desempenham papel importante  
Na China, a comunicação da ciência é normalmente definida como “popularização  da ciência”. O termo tem sido bastante usado por muito tempo, aproximadamente mais  de 60 anos, embora a prática no campo possa ser traçada até um século antes. Do  ponto de vista chinês, a popularização da ciência é um tipo de comportamento  social que ajuda as pessoas a compreenderem e aprenderem sobre o conhecimento  científico e tecnológico e a usufruir deles para uma vida melhor. Uma das  primeiras organizações a se dedicar especialmente à popularização da ciência,  depois da Nova China, é a Associação Chinesa para a Ciência e a Tecnologia (Cast),  fundada em 1958. Desde então, as atividades da popularização da ciência se  desenvolveram enormemente. Para que a popularização da ciência florescesse em  práticas sociais mais benéficas, a China viu muitas políticas serem estabelecidas  pelo governo central e pelos diferentes governos em níveis inferiores, das quais  três políticas nacionais são consideradas de grande importância. 
A primeira é a “Diretrizes para o reforço da popularização de C&T”  instituída pelo Comitê Central do Partido Comunista da China e pelo Conselho  Estatal em dezembro de 1994. O documento reafirmava a importância da popularização  da ciência e indicava o enfoque do trabalho futuro naquela época. A segunda é a  Lei da República Popular da China na Popularização da Ciência e da Tecnologia,  decretada em 2002, que se tornou um marco na história da popularização da  ciência na China por ter propiciado proteção legal e apoio político a essa  empresa (1) sem fins lucrativos. Em 2006, o Conselho Estatal endossou o esboço  do Esquema Nacional para a Alfabetização Científica (2006-2010-2020). Trata-se  de uma estratégia nacional de planejamento do desenvolvimento da popularização  da ciência em longo prazo. Sob o escopo dessa estratégia, a mão de obra e os  recursos sociais são plenamente mobilizados e há o investimento de uma grande  quantidade de recursos públicos. Nunca antes na história da China se vira tal  projeto. Das três políticas, o Esquema é extremamente notável por seu escopo e  escala.  
  
  Museus de C&T itinerários: Vagão da Ciência com atividades ao alcance de todos  
O Esquema foi lançado no  contexto chinês quando a nação estava com pressa de administrar seu progresso  econômico e social. Cidadãos com níveis inferiores de alfabetização científica  são um dos gargalos que contiveram o desenvolvimento econômico e o progresso  social na China. Assim, o ponto chave está em melhorar os níveis de alfabetização  científica nos cidadãos. É de grande importância reforçar a capacidade em  adquirir e usar o conhecimento da ciência e tecnologia, melhorar a qualidade de  vida, perceber o desenvolvimento como um todo, bem como tornar a China um país conduzido  pela inovação e ter um desenvolvimento econômico e social compreensível,  equilibrado e sustentável. 
O processo de produzir o Esquema foi cuidadosamente projetado, começando  com pequenos grupos de estudos com o foco em um pacote de doze temas inter-relacionados.  Foram criados círculos de discussões e de seminários consultivos. Após três  anos de esforços conjuntos, o Esquema conseguiu o efeito desejado em fevereiro  de 2006.  
O Esquema é um plano de ação  estratégico a longo prazo projetado para promover a melhoria da capacidade de alfabetização  científica da população chinesa por meio do desenvolvimento da educação,  comunicação e popularização da ciência e tecnologia. Ele deixa claros as  orientações e os esforços necessários para a comunicação e popularização da  ciência e a tecnologia (PST) em um período de 15 anos.  
  
  Divulgadores da ciência falam sobre a capacitação de agricultures no cultivo da uva  
O princípio estratégico do  Esquema é o “impulso governamental, participação pública, aumento da  alfabetização da ciência e a promoção de harmonia”. Guiado por esse princípio,  o objetivo da estratégia foi projetado para ser concluído em duas fases, que é de  2006 a  2010, e de 2010 a  2020:  
•     Em 2020,   a China  assistirá ao aumento da educação, comunicação e popularização relativas ao  desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Isto estabelecerá um sistema, infraestruturas,  e condições bem estruturadas para esse propósito, e também um sistema para  avaliar o desenvolvimento da capacidade de alfabetização científica da  cidadania. A alfabetização científica dos cidadãos deverá passar por uma grande  melhoria, alcançando os níveis dos principais países desenvolvidos no início do  século XXI.  
•   Em 2010, a educação,  comunicação e popularização relativas à ciência e tecnologia deverão ter um  grande desenvolvimento, com crescimento visível na alfabetização científica dos  cidadãos, alcançando o nível da maioria dos países desenvolvidos nos anos 1980.  
Na mesma linha do  objetivo do Esquema, programas e atividades são conduzidos em relação estreita  com os seguintes temas: economia de energia e de outros recursos naturais, preservação  ecológica do ambiente,  cuidados com a saúde e proteção da vida, e inovação e estímulo do processo criativo. 
Esforço conjunto e realizações  
Para alcançar os objetivos e capacitar o serviço público em popularização  da ciência, o Esquema possui cinco ações e cinco projetos dentro de sua estrutura  de funcionamento. Em resposta às necessidades da população, as cinco ações têm  como alvo cinco grupos sociais: fazendeiros, trabalhadores de áreas urbanas,  jovens, líderes e funcionários públicos, assim como os moradores da comunidade.  Os cinco projetos se concentram na implementação de capacidade e são elaborados  para permitir ao cidadão mais oportunidades de acesso e de envolvimento com ciência  e tecnologia, o que inclui a educação e formação em ciência, o desenvolvimento e  o compartilhamento de recursos de popularização da ciência, capacitação da mídia  em popularização da ciência, a construção da infraestrutura e o treinamento dos  práticos em popularização da ciência. No âmbito dos cinco planos de ação e dos  cinco projetos chaves, as atividades existentes, recém lançadas, foram  integradas e deram um grande impulso ao desenvolvimento da popularização da  ciência no país. 
  
  Visitantes descobrem sobre o mistério das engrenagens no Museu de Ciência e Tecnologia da China 
O Esquema em si é um projeto extraordinário. Para garantir suas conquistas,  é crucial que haja uma administração eficaz. No início, foi formada uma força  tarefa especial para o funcionamento do projeto composta por 14 agências  governamentais, organizações nacionais e academias, tais como o Ministério da  Ciência e Tecnologia, o Ministério da Educação, o Ministério da Agricultura, o  Ministério do Trabalho e da Previdência Social, a Administração Estadual do  Radio, Cinema e Televisão, a Academia Chinesa de Ciências, a Academia Chinesa  de Ciências Sociais, a Associação Chinesa da Ciência e Tecnologia, a Federação  de Todas as Mulheres da China etc. Depois que o Esquema foi posto em prática, foi  construído um escritório sede para facilitar a sua implementação. A equipe de  trabalho desse escritório consiste na participação de 20 representantes vindos  dos ministérios e das organizações acima mencionados. Seguindo o princípio do “incentivo  do governo e participação pública”, as agências governamentais, as instituições  públicas e as ONGs, alinhadas com as exigências do Esquema, tomam as atividades  como parte de  seu plano ou programas de trabalho, cumprindo as obrigações exigidas nelas  atribuídas. Um mecanismo de trabalho matriz foi adotado a fim de integrar os  recursos materiais e humanos, sob a orientação do escritório. 
De acordo com as estatísticas do Ministério da Ciência e Tecnologia, o  financiamento anual para a popularização de C&T de 2006, 2008 e 2009 foi,  respectivamente, 4,6 bilhões, 6,4 bilhões e 8,7 bilhões de RMB (Renminbi ou Yuan), que vêm do financiamento governamental, financiamentos especiais, doações  privadas, fundos auto estabelecidos e outros recursos. Com o apoio e a  participação de diferentes setores sociais, foram realizadas iniciativas  relativas à popularização da ciência e tecnologia por todo o país com engajamento  público maciço. De 2006 a  2010, os primeiros cinco anos de execução do Esquema, quase 200 milhões de  atividades temáticas foram organizadas, atraindo mais de 500 milhões de participantes.  Por exemplo, houve um relativo aumento no alcance da participação pública durante  a Semana Nacional da Ciência desde que a estratégia entrou em vigor (veja a tabela  abaixo).  
  
    
      Ano   | 
      Exposições de popularização de C&T   | 
      Semana de Ciência   | 
     
    
      Número de exposições PST exibidas   | 
      Número de participantes   | 
      Número de iniciativas conduzidas   | 
      Número de participantes   | 
     
    
      2009   | 
      130.198   | 
      196.691.959   | 
      98.409   | 
      97.333.897   | 
     
    
      2008   | 
      115.339   | 
      197.195.420   | 
      96.335   | 
      89.868.572   | 
     
    
      2006   | 
      103.090   | 
      145.242.698   | 
      104.132   | 
      86.693.702   | 
     
  
 
Presentemente, a popularização da ciência está conquistando ainda mais participação  e chamando a atenção do público e dos tomadores de decisões. A consciência  pública e o interesse pela ciência e tecnologia estão claramente crescendo. A  capacidade de serviços de PCT para o público tem melhorado grandemente através  do desenvolvimento de cinco projetos de capacitação. Os três meios mais utilizados  por cidadãos chineses para obter informação sobre C&T são a TV, os jornais  e conversas pessoais. O papel dos meios de comunicação de massa na popularização  da ciência tem ganhado importância por ser um meio eficaz não apenas para  comunicar o conhecimento científico e divulgar ideias tais como fontes de  energia, preservação ecológica, vida saudável etc, mas também para disseminar  informações sobre ações que aumentem a chance de sobrevivência sob  circunstâncias de emergência, seja na saúde pública ou em desastres naturais.  Para atender a grande demanda dos cidadãos, o número de livros de divulgação da  ciência publicados em 2009 era de 69 milhões de exemplares, o que é 40,82%  superior àquele de 2006. Igualmente no mesmo ano, as transmissões de programas  de rádio e televisão sobre divulgação da ciência totalizaram 197 e 243 mil  horas, o que é 98,29% e 113,53% mais longo do que as transmissões de 2006. A infraestrutura de popularização  da ciência também se desenvolveu enormemente. O número de museus de ciências  naturais aumentou de 250, em 2005, para 582, em 2010.  
A popularização da ciência, como outras práticas  sociais, está entrando em uma fase favorável sem precedentes. A grande demanda,  de diferentes grupos sociais, em áreas distintas produz várias iniciativas e  programas. Para torná-los mais acessíveis e populares, algumas áreas devem ainda  ser fortalecidas com novos esforços, por exemplo, o treinamento da mão de obra  para a popularização da ciência, o estabelecimento de um padrão de trabalho  entre pesquisa e divulgação científica gerando benefícios mútuos, a otimização  da produção e compartilhamento de recursos etc. Não importa o que aconteça, a  popularização da ciência está galgando um esplêndido amanhã nessa parte do  planeta. 
Yin Lin,   pesquisador do China Research Institute for Science Popularization.   Possui estudos sobre teoria da escrita em popularização da ciência na   China, a situação da divulgação científica e tecnológica na China, a   visão geral sobre atividades de educação de C&T em jovens   americanos. E-mail: yinlin213@126.com  
Shi Shunke   é pesquisador senior do China Research Institute for Science   Popularization e atua na pesquisa com teoria, política, história da   popularização da ciência. Email: shishunke@yahoo.com.cn  
Este artigo foi originalmente escrito em inglês para a revista ComCiência
  Nota da tradutora  
1. Os autores se referem ao China Research Institute for Science Popularization, instituto de pesquisa do qual fazem parte.  
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