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 Um  traço peculiar do imaginário brasileiro, ou pelo menos daquele mais  presente nos principais centros de produção midiática (Rio de  Janeiro-São Paulo-Brasília), é a ideia de que “no Brasil não  tem desastre”. Uma piada muito difundida no passado, e ainda  presente na memória das pessoas e na internet, diz que, frente à  indagação do anjo Gabriel sobre a razão pela qual Deus teria  poupado o Brasil dos desastres naturais, quando da criação do  mundo, este teria respondido que desastroso seria o povo que ele  colocaria aí. Racismo ou “complexo de vira-latas” (Rodrigues,  1993) à parte, a ideia de um Brasil sem desastres é tomada aí como  senso comum, como elemento de obviedade na elaboração da anedota  (Taddei, 2014a).
 Ocorre,  no entanto, que os desastres são parte da relação entre humanos e  o meio ambiente no Brasil desde pelo menos os primeiros anos de  colonização. De acordo com o historiador Raimundo Girão, Pero  Coelho de Souza, o primeiro português a tentar estabelecer-se no  Ceará, em 1603, foi obrigado a retirar-se, poucos anos depois, em  função da estiagem. Os registros históricos dizem que, na  empreitada, perdeu sua fortuna e filhos seus morreram de fome e sede  (Girão, 1985, p. 69). Esse não era o primeiro desastre do  continente: acredita-se que as secas foram fator fundamental para o  colapso do império Maia (Webster, 2002), na região do sul do  México, cinco séculos antes de espanhóis e portugueses cruzarem o  Atlântico. E também não seria o último em solo brasileiro, como  bem sabemos. 
 Frente  a esse panorama, uma contribuição possível das ciências sociais  aos estudos dos desastres é a tentativa de responder à pergunta: o  que constitui um desastre, e como tal forma de pensamento está  embutida na realidade social e política brasileira? 
 O  que é um desastre 
 Uma  definição de desastre bastante utilizada nas ciências sociais é  aquela que sugere que o desastre é um acontecimento que desorganiza  a ordem social, cultural, econômica e política de uma coletividade,  a ponto de que esta não é capaz de reorganizar-se de forma  espontânea e autônoma (Blakie et  al apud Briones, 2010). Ainda que essa forma de entender o desastre seja  instrutiva, não é incomum que ela seja entendida como sugerindo que  o desastre sempre vem “de fora”, da natureza, e é exógeno ao  meio sociocultural. Essa abordagem reproduz a ideia de que se trata  de uma questão de domínio humano sobre a natureza; quando as coisas  saem do controle, evidenciam-se os limites de tal domínio, e a  natureza mostra sua força. 
 Para  entendermos por que essa conceituação é limitada (e limitante),  tomemos o exemplo das secas, sem dúvida o desastre mais comum e  recorrente em território brasileiro: o que exatamente vem de fora  para desorganizar as coisas? Vejamos: a caatinga, ecossistema  dominante no chamado “polígono das secas” do Nordeste, é  formada sobretudo por vegetação xerófila, aquela capaz de  sobreviver em situação de escassez extrema de água. Se indagarmos  nossos colegas botânicos e biólogos qual o tempo necessário para  que os organismos se adaptem a um ecossistema, através dos processos  de geração de novas espécies e seleção natural – o mesmo que  supostamente gerou a vegetação xerófila da caatinga –, eles nos  responderão que se trata de um processo longo, de milhares de anos.  Ou seja, a existência de vegetação xerófila na caatinga evidencia  que os períodos longos de estiagem ocorrem aí há milênios. Nessa  perspectiva, um período longo sem chuvas não é novidade alguma na  região. 
 E  qual a forma mais universalmente disseminada de convivência dos  seres vivos com ecossistemas áridos e semiáridos? O nomadismo, a  migração sazonal, em todas as suas variações possíveis. Animais  e populações indígenas moviam-se no território de modo a tentar  adaptar-se à periódica escassez de chuvas. Uma novidade trazida  pelos portugueses, no entanto, o conceito de propriedade privada,  mostrou-se incompatível com tais práticas adaptativas. O  estabelecimento das fazendas e dos núcleos permanentes de povoamento  expôs a população a uma rigidez espacial inconciliável com os  fluxos e variações climáticas da região. Adicionalmente, a  fartura dos anos de chuvas regulares fez com que a densidade  demográfica aumentasse para muito além dos níveis pré-coloniais.  O resultado disso tudo: quatro séculos de epidemias recorrentes de  fome e sofrimento no sertão nordestino (Taddei, 2014b). 
 No  exemplo acima, qual foi, exatamente, o elemento desastroso? A  estiagem não é uma anomalia climática na região semiárida; foi a  forma de domínio e uso da terra trazida pelos europeus que  se mostrou uma verdadeira anomalia sociopolítica. O caso das secas  evidencia que necessitamos de uma outra forma de entender os  desastres, que não separe radicalmente os meios social e natural. De  maneira geral e simplificada, podemos propor como alternativa a ideia  de que quando as coletividades têm conhecimento das variações e  calendários dos ecossistemas locais e se organizam tomando-os em  consideração, acumulam certa quantidade de recursos como reserva  que os proteja de imprevistos, e escolhem práticas produtivas,  sociais e políticas comprovadamente compatíveis com o ecossistema  local, são capazes de atravessar períodos extremos, ou de  sobreviver a eventos críticos, sem que a situação se configure  como um desastre. Um desastre é, então, fruto das formas como  ecossistema e grupos sociais relacionam-se entre si. Por isso, um  desastre jamais está “na” natureza, e sim na relação que se  tem com ela (Oliver-Smith, 1999). Um exemplo disso é a constatação,  fruto de uma pesquisa por mim coordenada durante o ano de 2005 –  ano em que houve secas de grande porte e praticamente ao mesmo tempo  no Nordeste, na Amazônia e no Rio Grande do Sul –, de que os  efeitos da estiagem motivaram manifestações populares e a invasão  de prédios públicos em diversas cidades cearenses, enquanto a falta  de chuva em intensidade equivalente sequer foi notada por moradores  de cidades das serras gaúchas (ver Taddei e Gamboggi, 2010). 
 Essa  forma de entender desastre tem duas vantagens: a primeira é que o  desastre deixa de ser um evento isolado no tempo e no espaço, e  passa a ser entendido como um processo que se desdobra ao longo do  tempo (Valencio, 2009), e que, em geral, afeta coletividades humanas  e animais em uma dimensão espacial muito maior do que o local  específico do evento crítico. A segunda é que podemos facilmente  retirar a natureza da equação e substituí-la por ambientes e  processos técnicos, e temos aí uma forma interessante de pensar os  desastres ditos “tecnológicos”. A realidade é que não há  desastre que não tenha, concomitantemente, componentes  ecossistêmicos e componentes tecnológicos e, em razão disso, a  diferenciação entre desastres naturais e tecnológicos é apenas o  destaque, para fins operacionais ou jurídicos, do fator  preponderante em cada caso. 
 Voltemos  por um minuto à definição proposta acima, de modo a exemplificá-la  melhor. Recorrentemente, o que chamamos de seca, no que tange à  produção agrícola, ocorre em situações em que a terra é  arrendada, de modo que as relações comerciais de curto prazo fazem  com que o conhecimento sobre as variações de longo prazo do  ecossistema local se percam de vista; a necessidade de se atingir  níveis de lucratividade compatíveis com os praticados no mercado  financeiro faz com que frequentemente os recursos sejam investidos de  forma intensiva, o que aumenta os riscos envolvidos e coloca o  produtor em situação de vulnerabilidade a variações climáticas;  e a seleção das culturas, quase sempre, está ligada aos preços do  mercado, e raramente às condições específicas do ecossistema onde  se dará a produção (grande parte da qual é destruída para ceder  espaço às áreas agricultáveis). Ou seja, o que estou dizendo aqui  é que o modelo de produção agrícola vigente na atualidade está  fundado em uma forma de relação entre o ecossistema e a atividade  humana altamente vulnerável a variações naturais, o que produz um  contexto propício ao desastre. Não é à toa que, em um ano “bom”, cerca de um quarto dos municípios do país declaram situação de emergência. Em um ano ruim, esse número sobe para mais de um terço. O desastre está praticamente embutido nas formas de organização econômica e política brasileiras (Taddei e Gamboggi, 2010). 
 Nem  todas as declarações de situação de emergência se dão em função  de secas. No entanto, a coisa não é diferente com as inundações,  os deslizamentos de terra, ou as ressacas que destroem a  infraestrutura pública e privada nas zonas costeiras. Os fluxos de  água têm ciclos que se repetem, muitos dos quais, por razões  distintas, desconhecemos. O curso de um rio nunca pode ser  determinado com exatidão; um rio “pulsa”, isto é, tem seu ciclo  natural de retração e expansão. Esse ciclo é, em geral, anual,  mas há outros ciclos na natureza que afetam os cursos de água e que  são mais longos. O fenômeno El Niño é um deles: tende a ocorrer  duas vezes por década, em geral diminuindo as chuvas na região  Nordeste e as aumentando na parte Sudeste e Sul do Brasil. Há ainda  ciclos mais longos: existem evidências de que alguns ecossistemas  podem alternar séries de duas ou três décadas com menos chuva com  outras consideravelmente mais chuvosas (Marengo et  al, 1998). Grande  parte desses ciclos não são conhecidos. Desta forma, um  empreendimento no entorno de um rio pode, sem que as pessoas  envolvidas se dêem conta, estar na verdade dentro do curso histórico do rio. 
 Um  rio, por sua vez, não se resume à calha onde a água corre em  grande volume. Esta é apenas o resultado da relação entre a água  da chuva e determinada configuração topológica e geológica. A  água infiltrada no solo, escoando lentamente para baixo e ao longo  de uma camada de solo impermeável, até finalmente avolumar-se na  região mais baixa (formando o rio propriamente dito), já é o rio  em atividade. Em uma cidade, a ideia de que um rio foi “canalizado”  envolve um equívoco conceitual diretamente ligado às inundações  urbanas. Não se pode canalizar um rio, mas apenas sua calha  principal. Quando isso é feito e o solo é impermeabilizado com  concreto e asfalto, separa-se duas partes do rio, a que escoa pela  topografia do terreno, e que obviamente continuará escoando, e a que  escoa na calha do rio. A calha do rio é uma solução geológica  para o escoamento de água; a separação entre o escoamento nos  terrenos inclinados e a calha – ou a limitação da conexão entre  ambas – é a construção das condições para a ocorrência dos  desastres. A ideia de que o poder público tem que “resolver a  questão das inundações urbanas” é fruto daquela mesma visão de  “controle sobre a natureza” que criticamos no início deste  texto. Uma solução mais apropriada para essa questão é considerar  que o rio tem direito a estar na cidade, de forma íntegra e com toda  sua variabilidade espacial, e que a cidade deve ser construída  tomando isso em conta. Caso contrário, as cidades serão, como são,  aparatos produtores de inundações. Ou seja, a inundação não é  resultado da chuva, mas de uma certa relação entre a forma como os  humanos transformam o espaço e o ciclo natural das águas. 
 Em  resumo, o que quero dizer aqui é que, no mundo contemporâneo, somos  frequentemente levados a agir pautados por agendas que não apenas se  mostram incompatíveis com ciclos naturais dos ecossistemas, mas  também afetam nossa capacidade de perceber detalhes dos mesmos que  são importantes para a redução dos riscos de desastres. Desta  forma, muitas de nossas formas de organização econômica, social e  política têm que encontrar maneiras de lidar com a pouca eficácia,  ou mesmo com a inconveniência, de nossas formas estabelecidas de  ocupação do mundo. Por isso, desenvolvemos coisas como seguros  financeiros, um complexo sistema de defesa civil em todos os níveis  políticos, tecnologias de monitoramento e previsão de  características importantes do meio ambiente, legislação  específica, agências reguladoras, e muito mais. Temos também  práticas sociais pautadas em relações de clientelismo, nas quais o  detentor de poder político ou recursos econômicos oferece a  determinada coletividade proteção contra os efeitos das variações  dos ecossistemas (e contra coisas não relacionadas ao meio ambiente)  em troca de apoio político; e a chamada “indústria das secas”  (Callado, 1960), estratégias econômicas e sociais que geram riqueza  para as elites locais a partir dos mecanismos federais de mitigação  dos impactos das secas (Albuquerque Jr, 1999). 
 Particularmente  no que diz respeito à nossa incapacidade de perceber as variações  e ciclos dos ecossistemas, nossa base científica de monitoramento  dos ecossistemas e da atmosfera começou a operar efetivamente apenas  na década de 1960, o que fornece uma base bastante limitada de dados  históricos. Neste contexto, é digno de nota o fato de que, em  geral, são as populações tradicionais – indígenas, caboclos,  ribeirinhos, caiçaras – que habitam os ecossistemas por muitas  gerações que possuem tais conhecimentos (Taddei, 2015). Ocorre, no  entanto, que a forma de codificação e transmissão de conhecimento  de tais populações, através de transmissão oral e sobre uma base  narrativa que faz amplo uso do que chamamos de folclore e pensamento  mítico, é não apenas incompreensível para as populações  urbanas, mas ativamente desvalorizada como superstição e atraso,  frente aos poderes do conhecimento científico. São muito poucas, ao  redor do mundo, as iniciativas de transformação de conhecimento  tradicional em material que possa engajar-se de forma significativa  com as discussões técnicas e científicas a respeito de como  entender o meio ambiente e os desastres a eles relacionados. Um dos  exemplos mais interessantes a esse respeito são os estudos dos  manuscritos pré-hispânicos (os códices)  maias e aztecas no que tange à forma como tais populações  entendiam e lidavam com terremotos (ver Acosta e Suarez, 1996). 
 Riscos  e desastres tecnológicos 
 Como  mencionei acima, posso trocar “natureza” por “tecnologia” e a  frase continua fazendo sentido: no mundo contemporâneo, somos  frequentemente levados a agir no mundo pautados por agendas que não  apenas se mostram incompatíveis com certas características dos  sistemas técnicos em que atuamos, mas igualmente afetam nossa  capacidade de perceber detalhes importantes dos mesmos (Taddei,  2014c). Na década de 1980, o sociólogo alemão Ulrich Beck (1992)  propôs a "teoria da  sociedade do risco", na  qual argumentou que as sociedades modernas, através da inovação  tecnológica, criam riscos inéditos e que não somos capazes de  mensurar. O sociólogo americano Charles Perrow, por sua vez, criou o  conceito de "acidentes  normais" (1999), nos  quais sistemas complexos podem assumir configurações indesejáveis  sob o ponto de vista humano, mas que são apenas configurações  “normais”, isto é, possíveis, do sistema. Ou seja, quando  projetamos sistemas complexos, como computadores, por exemplo, não  somos capazes de prever todas as suas configurações possíveis. No  caso particular dos computadores, o “travamento” do sistema  operacional, em geral, não representa qualquer dano ao aparato, em  suas dimensões físicas ou lógicas. Por isso, reinicializamos a  máquina e ela volta a funcionar perfeitamente. Uma possibilidade de  entender o que houve é justamente a ideia de que a máquina pode ter  assumido uma configuração que, apesar de ser uma das muitas  possíveis para ela, é inconveniente para o usuário. O caso do  computador pessoal pode ser inócuo; ocorre que, segundo Perrow, não  há razão para imaginar que o mesmo não possa ocorrer com aviões  em pleno vôo, com usinas nucleares ou com barragens. 
 Essa  constatação evidencia os imensos desafios que as coletividades têm  no que diz respeito à governança dos riscos aos quais estão  submetidas. O mercado em sociedades liberais mostrou, repetidamente,  que não é um bom instrumento de gestão de riscos na perspectiva da  coletividade – a crise mundial de 2008 foi apenas a última em uma  sequência longa de crises associadas à incapacidade das corporações  capitalistas em gerir riscos de modo benéfico, não apenas para seus  interesses particulares, mas para a sociedade como um todo. Os  governos dos países capitalistas em geral pautam-se por indicadores  de mercado (como o PIB) para avaliar o sucesso e a eficácia de seus  governantes e, por essa razão, tendem a ser ineficientes no que  tange a usar seu poder regulatório coercitivo contra o próprio  mercado. Desta forma, com exceção de setores historicamente  marcados por desastres em larga escala, como a geração de energia  nuclear e a prospecção de petróleo, em geral, o setor corporativo  cria novas tecnologias e as coloca no mercado sem que os riscos a  elas associados sejam conhecidos. Aliás, no que tange à questão  nuclear, o Brasil tem a infelicidade de figurar no seleto grupo de  países1 que foram palco de acidentes radioativos, devido ao evento do Césio  137 em Goiânia, no ano de 1987 (Da Silva, 2001; Vieira, 2013). 
 Os  desastres em tempos de mudanças climáticas 
 Particularmente  no Brasil, como demonstram os exemplos das secas no Nordeste, os  deslizamentos da serra fluminense de 2011, ou o desastre de Mariana  em 2015, o poder público age de forma notoriamente reativa,  esperando a catástrofe e apenas posteriormente ajustando sua  configuração institucional e suas formas de ação aos riscos  envolvidos – e, ainda assim, com variados graus de eficácia. Neste  contexto, a perspectiva de futuro trazida pelas mudanças climáticas  é duplamente sombria: por um lado, as alterações ecossistêmicas  previstas (bem como as não previstas) devem desestabilizar até  mesmo os arranjos adaptativos mais efetivos entre ecossistemas e  coletividades; por outro, como o exemplo das reuniões do clima da  ONU (as chamadas “conferências das partes” ou COPs) deixa  evidente, os estados nacionais e seus aparatos institucionais se  mostram ineficazes e despreparados para lidar com o desafio que se  aproxima. A crise migratória europeia dos últimos anos é outro  exemplo contundente: em quase todos os casos envolvidos (e  particularmente nos casos dos conflitos do Sudão e da Síria), o  componente climático é uma das variáveis mais importantes; os  países europeus e a própria ONU, no entanto, evitam qualquer  associação entre tais migrações e as secas dramáticas que  assolaram tais países, uma vez que isso desorganizaria o arcabouço  jurídico para lidar com questões migratórias desenvolvido pelos  países ocidentais. Ou seja, não existe, até o momento, a figura  jurídica do refugiado climático. E a principal razão para tanto é  o fato evidente, já mencionado anteriormente neste texto, que  limites territoriais fixos, como as fronteiras nacionais, são  incompatíveis com a estratégia mais óbvia de sobrevivência a  variações extremas do ambiente, justamente a migração. Desta  forma, a crise migratória atual é apenas uma amostra do que está  por vir, e não há razões para acreditar que os estados nacionais,  que têm em suas configurações espaciais parte da causa da crise,  sejam os atores que irão propor soluções sustentáveis ao  problema. É mais provável que as soluções venham de fora do  sistema e, desta forma, a pesquisa científica sobre ambiente e  desastres deve estar aberta para o diálogo com outras formas de  conhecimento e ação no mundo. Novamente, aqui as populações  tradicionais talvez tenham um papel fundamental a desempenhar  (Danowski e Viveiros de Castro, 2014);  e não há campo mais apropriado, dentro do mundo acadêmico, para  fazer tal interlocução do que as ciências sociais. Para isso, no  entanto, a agenda de pesquisa em sociologia e antropologia dos  desastres tem muito que avançar. 
 
 
 Renzo  Taddei é professor de antropologia na Universidade Federal de São  Paulo. 
 
 Este artigo foi produzido no contexto dos projetos de pesquisa CRN3035 e CRN3106, financiados pelo Instituto Interamericano para Pesquisa em Mudanças Globais (IAI). 
 
 
 Referências  bibliográficas 
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