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 Um  cirurgião sentado em um equipamento robótico controla os braços  mecânicos do dispositivo, que carregam uma câmera, pinças e outros  instrumentos cirúrgicos – todos com menos de um centímetro. Pela  câmera, ele enxerga tridimensionalmente e ampliado o interior do  paciente. Com um console, ele controla os instrumentos que realizam a  cirurgia, minimamente invasiva, com incisões de um a dois  centímetros para passar o braço mecânico para o interior do corpo.  Os movimentos realizados são impossíveis para uma mão humana. É  assim que o robô Da Vinci opera. 
 .jpg)  As  pinças do robô Da Vinci comparadas ao tamanho de um pirulito
 A  cirurgia com o uso de robôs chegou ao Brasil em 2008, e há  atualmente 14 dispositivos do Sistema Cirúrgico Da Vinci. O SUS,  inclusive, já incluiu a robótica no rol de procedimentos. O  primeiro hospital a utilizar essa tecnologia foi o Instituto Nacional  de Câncer, o Inca, que em agosto de 2015 completou 500 cirurgias  feitas com o auxílio do robô Da Vinci. 
 Uma  cirurgia de retirada de tumores é extremamente delicada e com  elevados índices de complicação. Segundo Fernando Luiz Dias,  chefe da seção de cirurgia de cabeça e pescoço do Inca e  idealizador da cirurgia robótica no instituto, o  que mais faz o paciente sofrer são as incisões externas e eventuais  acessos cirúrgicos, mais do que a retirada do tumor em si. “A  realização das cirurgias robóticas trouxe diversos benefícios aos  pacientes, como visão do campo cirúrgico magnificada, possibilidade  de execução de manobras cirúrgicas em espaços restritos, e,  principalmente, pela diminuição do trauma cirúrgico. Foi possível  oferecer aos pacientes procedimentos mais breves, associados a menor  incidência de complicações e menor tempo de internação“,  completa. Com o uso do robô, se a cirurgia for na cabeça ou  pescoço, nem é feito corte, já que o procedimento pode ser feito  pela boca; o tempo foi reduzido de quatro a cinco horas para menos de  uma hora de cirurgia; e a internação, que era de sete a oito dias  foi reduzida para três a quatro dias. Como é mais rápido, mais  cirurgias podem ser realizadas em um dia, atendendo maior número de  pacientes. Ou seja, embora o equipamento seja caro, ele elimina  outros gastos. 
 “O  uso do instrumento robótico permitirá a realização de  procedimentos cirúrgicos cada vez mais sofisticados e radicais,  sempre associados a menor morbidade e maior efetividade”, completa  Dias.
 Os  robôs na medicina
 Até  há pouco tempo, os robôs eram vistos como pura ficção científica,  algo distante da realidade – e mais ainda da área de saúde. Mas,  gradualmente, eles foram surgindo, em formatos primitivos, realizando  funções fáceis e repetitivas, nas indústrias automobilísticas. 
  De acordo com o artigo “Realidade  virtual e robótica em cirurgia – aonde chegamos e para onde  vamos?”, na década de 1980, os primeiros conceitos de robôs  cirurgiões se iniciaram com o trabalho de Scott Fisher, na Nasa, que  desenvolveu a ideia de realidade virtual e imagens 3D. Na mesma  década, Jacques Perissant apresentou um vídeo de uma  colecistectomia (retirada da vesícula biliar) no congresso da  Sociedade Americana de Cirurgiões Gastrointestinais e Endoscópicos,  causando grande impacto. Também na Nasa, Richard Satava e uma equipe  desenvolveram um programa de cirurgia por telepresença (a  distância), para fins militares. 
 No  início da década de 1990, foram desenvolvidos diversos sistemas de  cirurgia robótica, como o RoboDoc e o Artemis, que podia ser  manipulado a distância. Em 1992, novamente para fins militares, os  americanos desenvolveram uma tecnologia chamada Darpa, que servia  para atender soldados de campos de batalha por meio de telecirurgia  robótica. Ela funcionava por meio de um veículo com controle remoto  que combinava sensoriamento remoto, robótica e realidade virtual.  Alguns anos depois foram desenvolvidos para uso comercial os sistemas  cirúrgicos Zeus e o Da Vinci, e em 1997 foi realizada a primeira  cirurgia robótica, em Bruxelas.
 Treinamento  com realidade virtual
 Atualmente  na Faculdade de Medicina São Leopoldo Mandic, unidade de Campinas,  os alunos têm a oportunidade de trabalhar em um laboratório de  simulação realística com uso de robôs, e são treinados a lidarem  em complicações cirúrgicas, e até a realizarem partos, sendo uma  das poucas faculdades no Brasil com esse acesso. 
 Adquiridos  em setembro de 2015, os robôs SimMom e Sim NewB permitem que os  alunos treinem um parto, assim como todas as etapas, desde o controle  de contrações até os primeiros atendimentos do bebê, como explica  o coordenador do curso, Guilherme de Menezes Succi. “Os alunos  conseguem fazer os monitoramentos da atividade uterina e fetal, o  controle de contrações, a indução do trabalho de parto, até a  supervisão de possíveis complicações maternais durante o  procedimento. Este robô também possibilita o controle da frequência  respiratória, do líquido amniótico e urina, funções cardíacas,  acesso vascular, medição de pressão sanguínea e funções das  vias aéreas”, diz.
 
 .jpg)  Aluno  da Leopoldo Mandic ao lado do robô SimMom
 A  tecnologia permite que esses robôs tenham reações como se fossem  pacientes reais, por isso conseguem simular complicações  cirúrgicas, como casos de feto mal posicionado, hemorragia materna  ou parada cardiovascular. “A vantagem da simulação é expor o  futuro médico a todas as situações consideradas fundamentais para  a formação. Quando o estudante treina somente na vida real, algumas  dessas situações podem não ocorrer, já que dependemos do  aparecimento espontâneo, ao acaso”, exemplifica Succi.
 A  realidade virtual é uma tecnologia gerada por computação que  permite simular alguma ação da vida em seu ambiente natural. Essa  tecnologia está presente desde os anos 1940 em programas para  avaliar e treinar pilotos de aviação militar ou comercial, e agora  está migrando para o ensino médico. O artigo “Realidade virtual e  robótica em cirurgia” destacou também estudos que provam que as  habilidades adquiridas por cirurgiões que se iniciam em  videocirurgia são desenvolvidas de maneira mais rápida. Isso se  deve ao fato de que, além de poderem repetir exaustivamente  procedimentos, os alunos são avaliados pelo próprio programa de  simulação, fazendo com que erros sejam reconhecidos e corrigidos de  maneira mais precisa. Uma das desvantagens dessa tecnologia, porém,  é o alto custo.
 Succi  acredita que, mesmo com o avanço das tecnologias de inteligência  artificial na medicina, o papel do médico jamais será dispensado.  “A  tomada de decisão nas situações imprevistas depende da experiência  e senso crítico de um profissional humano”, pondera. Assim, a  robótica na medicina é uma ferramenta a favor do médico, e não  feita para substituí-lo, contribuindo para garantir, na medida do  possível, o bem-estar dos pacientes.
 
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