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                            10/07/2013
                            
  Como é a relação entre crescimento econômico e inovação? É o crescimento que gera a inovação ou a inovação que gera o crescimento? 
  Kupfer -  A economia é um espaço de interações. A inovação é um fator de crescimento, mas as condições são mais presentes em economias que crescem. O motor da inovação é alimentado pelo investimento. A questão não é só reproduzir o estoque de capital existente, mas modernizar por meio de novos ativos inovadores.  
  O Brasil tem formado mão de obra suficiente para promover inovação? 
  Kupfer -  Não. A resposta é negativa em duas dimensões. Quantitativamente e qualitativamente a mão de obra formada hoje não é suficiente. Nós também não temos uma estrutura curricular adequada para capacitar, que ensine como é que se inova.  
  O papel de formar a mão de obra teria de ser puxado somente pela universidade? 
  Kupfer -  Não apenas pelas universidades, mas esse é um problema específico da universidade. Nós não devemos atribuir as lacunas na formação de mão de obra inovadora a outras instituições, mas sim à dificuldade que a universidade brasileira tem de interagir com essas instituições. A universidade brasileira é mais científica do que tecnológica. Ou seja, tem uma boa relação com ciência, mas não com inovação.  
  Como se resolve a distância entre empresas e universidades? 
  Kupfer -  Como professor universitário, acredito que essa questão seja da universidade. A universidade não pode ser comandada pela indústria. Aí teríamos apenas a reprodução do capital existente. Temos necessidade de introduzir a prática, laboratórios, o contato com a realidade produtiva no dia a dia do estudante, mas não sob os comandos da estrutura produtiva. A indústria é imediatista e o processo de inovação, não.  
  É possível concorrer de igual para igual no mercado internacional com países que não dão muitos direitos trabalhistas e, portanto, têm custo com mão de obra menor?  
  Kupfer - É possível ter indústria nesse contexto porque senão não teríamos indústrias em países avançados, como a Alemanha. Isso tem implicações sobre a competitividade, não em relação à viabilidade. A indústria é viável no Brasil e a inovação, que gera diferenciação de produtos e maior valor adicionado, é uma saída. 
  Poderíamos ter indústrias intensivas em tecnologia, não em mão de obra? 
  Kupfer -  Sim, mas para isso é necessário aumentar a qualificação da mão de obra.  
  A pequena participação do Brasil no comércio internacional é um problema quando se fala em inovação?  
  Kupfer -  O aspecto histórico é importante para explicar por quais razões existe essa pequena participação. Parte importante da estrutura produtiva brasileira foi criada de modo a atender, com produtos de baixo valor agregado, mercados desenvolvidos. 
  Mas a exportação poderia ajudar no processo de inovação? 
  Kupfer -  As evidências sugerem que existe aprendizado pela exportação. O contato com o mercado internacional qualifica a produção porque traz informação, permite um entrosamento maior com o setor produtivo externo e tem um efeito claro sobre a inovação. 
  Até que ponto a infra-estrutura deficitária é um entrave para a inovação? 
  Kupfer -  É um problema na economia brasileira atual como outros tantos. Sem dúvida, se houver melhoras da infraestrutura, junto com a resolução de outras questões, o país pode passar por uma transformação sistêmica que torne o custo de inovar muito menor.  
  A carga tributária brasileira é considerada por empresários como uma dessas questões. Isso é verdadeiro? 
  Kupfer -  O empresariado tem razão, a carga tributária e outros problemas de custos dificultam, mas a solução desse problema não se dá apenas com a diminuição dos tributos.  
  É preciso modernizar produtos e não apenas modernizar processos. Uma parte da indústria brasileira, talvez não a maioria, modernizou processos, mas não produtos. O caminho seria modernizar produtos. Hoje se verifica um aumento do hiato tecnológico da indústria brasileira frente à fronteira tecnológica internacional, é um fenômeno que é cíclico. Atualmente existe defasagem em tecnologia da informação, que é o principal vetor da inovação industrial no mundo contemporâneo. 
  Os juros altos também dificultam? 
  Kupfer -  Sim. Os juros também são custos. O sistema de financiamento à inovação já trabalha hoje com juros atraentes. Há a redução de custo de capital para inovação, mas não para o investimento na ampliação da capacidade. Isso são problemas macro, mas não podemos esperar que a macroeconomia fique favorável para inovar. Senão vamos ficar parados no tempo.  
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