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*  Texto originalmente publicado em Página  3 Pedagogia & Educação,  em 25/06/2007
 Todo  comportamento, materno ou paterno, de cuidado com a prole, até que  ela alcance a independência física, é chamado de cuidado  parental.  O cuidado parental aumenta a probabilidade de sobrevivência dos  filhotes e, consequentemente, aumenta o sucesso reprodutivo da  espécie. 
O  cuidado parental pode ter início antes mesmo do nascimento da prole.  É o caso do preparo de ninhos, tocas e outros abrigos para receber  os filhotes ou ovos. 
Muitos  pássaros incubam seus ovos sentando sobre eles ou mantendo-os entre  os pés, para protegê-los do frio e garantir que os embriões  permaneçam aquecidos. Outras aves, como algumas espécies de patos,  cujo embrião é sensível a altas temperaturas, protegem os ovos do  calor cobrindo os ninhos com penas, folhas secas ou gravetos. 
Tipos  de acasalamento 
Após  o nascimento, alguns dos cuidados incluem alimentação, abrigo e  proteção contra predadores. Esse tipo de comportamento pode ser  realizado apenas pela fêmea, apenas pelo macho, ou por ambos.  Acredita-se que as diferenças entre as formas de cuidados parentais  possam estar relacionadas ao sistema de acasalamento de cada espécie.  Os sistemas de acasalamento são divididos em quatro tipos  principais: 
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 Monogamia:  	o macho e a fêmea formam um casal unido, sendo que a união pode  	ser por toda a vida ou apenas durante o período reprodutivo. 
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 Poliginia:  	o macho se acasala com diversas fêmeas, enquanto as fêmeas cruzam  	com apenas um macho. 
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 Poliandria:  	a fêmea pode cruzar com diversos machos, enquanto os machos se  	associam a uma única fêmea. 
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 Poligamia:  	tanto o macho como a fêmea se acasalam diversas vezes e com  	diferentes parceiros. 
   
Cuidando  da prole 
Na  monogamia, geralmente, tanto o pai como a mãe cuidam da prole  (cuidado biparental); este sistema é muito comum entre as aves. Na  poliginia, o cuidado parental costuma ser realizado pela fêmea; este  é o caso da maioria das espécies de mamíferos. 
No  sistema de poliandria, é comum que apenas os machos apresentem  comportamentos de cuidados com os descendentes; este é o caso dos  cavalos-marinhos e dos pantopodas (pequenos artrópodes marinhos  também conhecidos como aranhas-do-mar). 
Na  poligamia, qualquer um dos sexos pode realizar o cuidado parental,  sendo também comum a ausência desse tipo de comportamento. Este é  o caso da maioria das espécies de peixes. 
Saguis 
É  bom lembrar que as associações entre sistema de acasalamento e  forma de cuidado com a prole não são regras fixas, e que, na  natureza, sempre existem exceções. Um exemplo são os saguis, que,  embora sejam mamíferos, apresentam cuidado biparental. Entre estes  pequenos primatas, a fêmea alimenta os filhotes enquanto cabe ao  macho carregá-los, transportando-os pelas árvores. 
Cavalos-marinhos 
Os  cavalos-marinhos são um exemplo de espécie de peixe monogâmica e  com cuidado parental por parte dos machos. Nestes animais, os casais  permanecem unidos ao longo de toda a estação reprodutiva. Durante o  acasalamento, a fêmea introduz seu órgão ovopositor no interior de  uma pequena bolsa, situada no abdome do macho, e deposita seus  óvulos. Dentro da bolsa são liberados os espermatozoides e a  fecundação ocorre. 
É  dito, popularmente, que nessa espécie são os machos que engravidam!  Essa bolsa do macho é similar ao útero de uma fêmea de mamífero e  contém um fluido que fornece nutrientes e oxigênio aos ovos. No  decorrer da gestação, a composição do líquido vai se tornando  cada vez mais parecida com a composição da água do mar e, assim,  evita a possibilidade de um choque osmótico durante o nascimento da  prole. O período de maturação dos ovos é de duas a quatro  semanas. Em seguida, o macho "dá a luz" a dezenas de  filhotes. Após o nascimento, não há mais nenhum tipo de cuidado  parental. 
Entre  artrópodes, geralmente, não se observa cuidado parental; porém,  entre os pantopodas (aranhas-do-mar), os machos carregam os ovos  fertilizados numa estrutura localizada sob suas pernas,  transportando-os e protegendo-os até a sua eclosão. 
Sobrevivência  e reprodução 
Algumas  hipóteses já foram levantadas como explicação a respeito das  diferentes estratégias de cuidados com a prole. Uma explicação  para a monogamia e o cuidado biparental das aves é a capacidade de  alimentar em dobro os filhotes no ninho, aumentando sua chance de  sobrevivência. 
A  predominância, nos mamíferos, do cuidado da prole apenas por parte  da mãe talvez possa ser explicada pelo longo período de gestação  dos filhotes no corpo da mãe e pela lactação após o nascimento.  Dessa forma, os cuidados que o macho pode fornecer são escassos, e  este acaba por abandonar a parceira em busca de novas oportunidades  de acasalamento. 
Teoricamente,  quanto maior o período durante o qual os pais cuidam de seus  filhotes, maior a chance destes sobreviverem. Porém, quanto maior o  tempo de cuidado parental, menor o período no qual os pais se veem  livres para procurar novos parceiros e gerar novos descendentes.  Assim, acredita-se que, ao longo da evolução, tenham sido  favorecidos aqueles comportamentos que apresentam um balanço ideal  entre o sucesso de sobrevivência da prole e o sucesso reprodutivo  dos pais, maximizando a dispersão da espécie. 
 
 Alice  Dantas Brites é graduada em ciências biológicas pela Universidade  de São Paulo e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência  Ambiental na mesma instituição. 
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