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A  Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, para os especialistas  em turismo, são eventos responsáveis por colocar o país em uma  posição de destaque como destino turístico. De acordo com a edição  de 2015 do Índice de Competitividade em Turismo e Viagens, do Fórum  Econômico Mundial, em 2014, o Brasil alcançou a 28ª posição  entre os 141 países analisados, dando um salto de 23 posições em  relação ao ano anterior. Dentre os aspectos avaliados pela pesquisa  estão os recursos naturais (quesito que coloca o país no topo da  lista), a infraestrutura aeroportuária (item no qual o Brasil subiu  de 48ª para 41ª), o número de estádios de futebol (subiu de 63ª  para 3ª) e a infraestrutura hoteleira (60ª para 51ª).
 Em  números absolutos, o turismo movimentou, entre atividades diretas e  indiretas ou induzidas, R$ 492 bilhões no Brasil no ano passado, de  acordo com dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na  sigla em inglês), o que representa 9,6% do Produto Interno Bruto  (PIB). O WTTC tem como membros os principais empresários do setor e  faz anualmente o levantamento dos resultados econômicos do turismo  em 184 países. O número de viagens domésticas, que no ano passado  chegou a 206 milhões, foi 2% maior que em 2013 (201,7 milhões), um  recorde histórico desde 2005, quando o país somou 138,7 milhões de  viagens em território nacional. Parte desse crescimento foi  decorrente da Copa e dos deslocamentos das delegações e dos  torcedores de uma cidade sede a outra, mas também cresceu o número  de brasileiros viajando dentro do país: em 2014, 62 milhões  realizaram algum tipo de viagem, o que representa um terço da  população nacional. 
O  WTTC destaca ainda o número de desembarques de estrangeiros em  território nacional, que passou de 4,1 milhões em 2013 para 5,81  milhões no ano passado. De acordo com dados do Ministério do  Turismo, os desembarques internacionais já vinham crescendo antes  mesmo da Copa, passando de um total de 9,018 milhões em 2011 para  9,468 milhões em 2013, sendo uma boa parte de brasileiros retornando  de suas viagens ao exterior. Em 2014, o Brasil teve uma receita  cambial de US$ 6,9 bilhões de reais gastos por estrangeiros no país,  o maior índice desde a criação do Ministério do Turismo em 2003.  Mas os gastos de brasileiros no exterior foram bem maiores, de US$  25,6 bilhões. Desde 2005, há mais gastos de brasileiros lá fora do  que o de estrangeiros aqui no Brasil. 
Na  opinião da professora e coordenadora do curso de turismo da  PUC-Campinas, Francis Pedroso, mais do que os grandes eventos, o  principal fator que ajudou a impulsionar esses números é o aumento  das promoções das agências de turismo. “Houve um crescimento  significativo no número de rotas, linhas áreas e agências de  turismo, o que faz com que aumente a concorrência e, por  consequência, há um aumento no número de promoções nos pacotes  de viagens. Isso porque o Brasil não é um país barato”, avalia. 
Diante  desses números tão positivos, Vinícius  Lummertz, secretário de Políticas Nacionais do Ministério do  Turismo, sugere que incentivar o  turismo nacional talvez seja um dos melhores caminhos para sair da  atual crise da economia brasileira. Para ele,  é no setor de serviços que o Brasil possui destaque em relação a  outros países. “Não é na indústria que a gente se destaca.  Nesse campo, precisaremos de muitos anos para recuperar o tempo  perdido. Temos vantagem nas belezas naturais, das praias e dos  parques, e na cultura. O aproveitamento do potencial do turismo  necessita de um aprimoramento radical”, defende. Para ele, muito  tem sido feito, mas ainda há muito a se fazer, principalmente na  chamada zona costeira, que envolve os portos, as marinas, as praias e  os oceanos, onde ainda existe muito interesse político e pouco  investimento. 
Lummertz  destaca, ainda, que os parques e centros históricos também são  outro campo problemático dentro do turismo, porque poucos são os  administrados pelo poder público. Segundo ele, enquanto os parques  brasileiros recebem 6 milhões de visitantes ao ano, são 280 milhões  os visitantes que vão aos parques norte-americanos. “Essa  diferença entre o número de visitas a parques estrangeiros e a  parque nacionais ocorre porque os daqui estão sob gestões que  defendem apenas a preservação desses locais. O mesmo vale para os  centros históricos nacionais. Em vários locais do mundo, os centros  históricos se transformaram em verdadeiros negócios de mercado”,  explica. 
Apesar  desses problemas, nota-se crescimento do setor de turismo em cidades  como Rio de Janeiro, Florianópolis, São Paulo, Búzios, Curitiba,  Porto Alegre e Campinas. De acordo com o Estudo  da Demanda Turística Internacional, organizado pelo Ministério do  Turismo, em 2013, ano-base 2012, essas cidades foram as mais  visitadas, tanto por estrangeiros quanto por brasileiros, seja para o  turismo de negócios ou para o de lazer. 
Sobre  os destinos preferidos, tanto por estrangeiros quanto por  brasileiros, a professora da PUC explica que os principais aeroportos  do país estão localizados nessas cidades, além delas serem as que  possuem as melhores infraestruturas hoteleiras. Pedroso reconhece a  importância dos grandes eventos para o turismo brasileiro, pois,  segundo ela, até os anos 1990 não havia grandes investimentos no  setor e, nem mesmo grandes redes hoteleiras no Brasil. 
O  Ministério do Turismo aponta que a ampliação das companhias áreas,  que teve início nessa época, também foi fundamental para a  evolução dos índices nas últimas décadas. Segundo a  Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), nos últimos  seis anos, cerca de 400 milhões de passageiros usaram o transporte  aéreo para turismo. A Abear prevê ainda que, até 2020, cerca de  211 milhões de turistas brasileiros e estrangeiros viajem de avião  pelo país. 
O  que reforça esses dados que vêm indicando que o Brasil tem um dos  maiores fluxos aéreos do mundo é o fato de sermos um país com  grande extensão territorial e com infraestrutura precária de  estradas. Outra contribuição para o crescimento desse fluxo aéreo  foram as privatizações de algumas administrações aeroportuárias  que, segundo Lummertz, representaram uma ação positiva e, por ter  dado tão certo, serão aplicadas em outros 285 aeroportos regionais  nos próximos anos. 
Pedroso  destaca ainda que, após a década de 1990, o aumento das redes  hoteleiras, associado ao aumento e expansão das companhias áreas,  teve como consequência a elevação da procura pela formação em  turismo. Mas a professora da PUC lembra que estamos falando de uma  profissão não regulamentada, pouco conhecida e com baixos  investimentos. “Para mim, o fato de não ser regulamentada não  influencia no campo de trabalho. Os alunos têm acesso a boas  oportunidades de estágio e emprego. O que é um problema é a falta  de informação sobre o que fazem os profissionais formados na área,  sendo que as políticas públicas incentivam muito pouco o  conhecimento sobre essa atividade profissional”. 
 Para  o Conselho Nacional de Políticas em Turismo, o grande entrave para  um maior crescimento econômico do setor é a cultura política  brasileira. “Somos um país com diversas estruturas de poder e que,  diferentemente dos Estados Unidos, não foi criado sob um consenso, o  que faz do Brasil uma nação com diversas questões jurídicas que  atrapalham o crescimento do turismo”, explica. 
Lummertz  reforça que, assim como já entendemos que a agricultura brasileira  é uma importante – senão a mais importante – fonte de renda  para o país, uma vez que nos colocou numa posição de destaque no  campo do agrobusiness,  o mesmo deve ser feito com o turismo, reforçando a ideia de que essa  pode ser a solução para a crise econômica que estamos enfrentando. 
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