A  resposta da planta de milho ao solo ácido não se restringe às  raízes, e as alterações nas folhas podem ser diferentes das que  ocorrem nas partes subterrâneas. É o que sugere estudo conduzido  por grupo de pesquisadores de várias instituições liderados por  Marcelo Menossi, do Departamento de Genética, Evolução e  Bioagentes do Instituto de Biologia da Unicamp. Os cientistas  estudaram os efeitos do cultivo de milho em solos ácidos pela  análise das alterações no transcriptoma – conjunto de RNAs  transcritos presentes nas células – das folhas.
 Solos  ácidos como os existentes nas regiões do cerrado brasileiro, em  geral, possuem altos teores de alumínio solubilizado que, absorvidos  pelas raízes das plantas, terminam por interferir no desenvolvimento  dos cultivos. As extremidades das raízes, sendo as partes mais  sensíveis à toxicidade do alumínio, são alvo importante da  inibição do crescimento, afetando toda a planta. Mas o elemento  químico também é transportado por meio do sistema vascular para os  ramos e folhas, afetando a fotossíntese. Porém, o efeito sobre as  partes aéreas ainda não é bem conhecido. 
Para  o estudo, foram utilizadas duas linhagens geneticamente homogêneas,  mas uma delas especialmente sensível ao alumínio. Plântulas de  cada linhagem foram divididas em dois grupos: um cultivado em solo  normal (grupo controle), e outro em solo ácido (grupo de teste).  Após cinco dias, o RNA total das amostras das folhas de cada grupo e  linhagem foi extraído e sequenciado. 
A  exsudação (eliminação de líquidos) de ácidos orgânicos é a  principal – e a mais estudada – forma de resistência pelas  plantas aos altos teores do metal. Ácidos orgânicos como o citrato  e o malato (participantes do ciclo de produção de energia a partir  da quebra glicose) ligam-se a átomos de alumínio diminuindo seu  efeito tóxico. Em acordo com esse processo, os RNAs dos genes  ligados à produção desses ácidos estavam presentes em maior  quantidade nas folhas das plantas cultivadas em solo ácido do que em  solo normal. Estudo anterior do mesmo grupo, porém, não detectou  essa alteração nas raízes de plantas de milho cultivados nas  mesmas condições. Como a ponta das raízes é um local de  importante atividade de exsudação de ácido orgânico, é possível  que esses ácidos sejam produzidos nas folhas e eliminados pelas  raízes. 
Vários  outros genes também foram afetados, como indicado pela maior ou  menor presença de RNAs transcritos nas folhas das plantas cultivadas  em solo ácido. De fato, um total de 688 genes apresentaram alteração  em seu padrão de expressão em relação ao grupo controle,  indicando uma modificação complexa do padrão de expressão gênica  nas folhas. “Nossos dados indicam que as respostas da planta ao  solo ácido com alto teor de alumínio não se restringem à raiz;  mecanismos de tolerância também são encontrados nas partes aéreas  da planta, mostrando que a planta inteira responde ao estresse”,  relatam os autores no artigo. 
Por  exemplo, genes envolvidos na regulação do ciclo celular estavam  mais ativos nas plantas do grupo de teste. Nas raízes de milho, é  bem conhecido o efeito de altos teores de alumínio em inibir o  crescimento. Já o significado dessa alteração na expressão gênica  nas folhas não está claro, mas parece que nestas, ao contrário, a  resposta é de proliferação celular em função dos genes  envolvidos. 
Além  disso, genes relacionados à produção de hormônios também  apresentaram alterações em sua expressão. Gene ligado à produção  da giberelina – hormônio promotor do crescimento – apresentou  atividade diminuída nas folhas das plantas cultivadas em solo ácido.  Dois genes relacionados à produção de brassinoesteróides –  hormônio envolvido em várias respostas ao estresse – apresentavam  um maior número de RNAs transcritos. 
Segundo  os autores do artigo, os dados “abrem uma nova avenida para estudos  mais aprofundados dos mecanismos de tolerância ao alumínio que  atuam na folha, órgão que tem recebido pouca atenção até hoje”. 
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