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 O  mercado turístico movimenta constantemente a economia de um país, e  está sempre tendo que se adaptar às mudanças de demanda da  sociedade. A segmentação é um dos meios para atender diferentes  grupos, de acordo com interesses específicos. Assim, empresas,  organizações e instituições ligadas à atividade turística  buscam caminhos para atingir e satisfazer os mais variados públicos. 
 Débora  Braga, professora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade  de São Paulo, explica  que a segmentação é uma estratégia de negócio e de marketing  muito importante para o setor. "Os negócios podem ser segmentados  pela demanda (públicos específicos – terceira idade, classe A, B  ou C, adolescentes, famílias) ou pela oferta (serviços específicos  – ecoturismo, luxo, intercâmbio). Atualmente, para uma empresa de  turismo (agência, empreendimento de hospedagem, atrativos) se firmar  no mercado ela precisa se diferenciar, e a segmentação permite  isso, porque ela vai se especializar e poderá oferecer serviços  únicos". 
 Os  empreendedores devem decidir com cuidado quais são os tipos de  turistas que desejam atender, e isso depende do que eles oferecem  como experiência de viagem, uma soma de atrativos e facilidades.  Isso também traz implicações importantes no próprio  desenvolvimento do turismo no local, não sendo apenas uma questão  de definir estratégias de negócios, mas sim de estratégias de  desenvolvimento do local.  Afinal, um mesmo destino pode atender e ser interessante para  diferentes grupos, mas para isso precisa ter uma oferta turística  diversificada e estruturada para receber com eficiência e qualidade. 
 A  professora de mestrado em turismo da Universidade de São Paulo,  Karina Solha, explica como a segmentação turística afeta a demanda  do mercado brasileiro. "A opção de segmentação acontece em  função das principais características de oferta, e, na verdade,  pouco se conhece sobre o comportamento e as características dos  turistas. Portanto, nossa capacidade de conseguir compor produtos ou  serviços adequados aos interesses e necessidades dos diferentes  tipos de turista é bastante limitada", afirma. 
 O  consumidor procura sempre o que é novo, diversificado e atualizado,  e o mercado precisa estar constantemente se adaptando, criando novos  produtos e serviços, de acordo com as especificidades, desejos,  limitações e necessidades dos clientes. É por isso que o mercado  do turismo é bastante competitivo. 
 Um  importante critério de segmentação turística é a faixa etária,  pois em cada fase da vida as pessoas possuem características,  vontades e necessidades diferentes, que são fatores determinantes  para que sejam analisados componentes do mercado turístico.  
 A  ala jovem
 O  Brasil possui 50 milhões de jovens, segundo o Ministério do  Turismo, representando um elevado potencial para o desenvolvimento do  turismo voltado para esse público. O que os jovens mais buscam em  suas viagens é o convívio social, o aprendizado profissional e a  diversão. A faixa etária considerada jovem no mercado turístico é  entre dezoito e vinte e seis anos, e os principais tipos de turismo  procurados nessa idade são o ecológico, o estudantil (intercâmbio)  e o autônomo (mochileiros). Segundo  Elizabete Sayuri, professora de turismo na Universidade Federal do  Paraná, os jovens não costumam procurar agências para programar  suas viagens, pois sai muito mais em conta fazer de forma autônoma,  como mochileiro, por exemplo. Convencionou-se chamar de mochileiros  os jovens que viajam por conta própria, visando à economia  financeira. Eles costumam optar por se hospedar em hostels,  albergues baratos onde se pode dividir um quarto com várias pessoas,  mesmo que sejam desconhecidos. Costuma ser uma experiência prática  e barata, que visa à integração social e o conhecimento de novas  culturas e atrativos naturais.  
 Outra  forma comum de turismo de jovens ocorre entre aqueles que já estão  cursando uma universidade, que têm recursos financeiros, e procuram  agências para fazer um intercâmbio, seja para diferenciar seu  currículo com cursos, seja pelo aprendizado de novas línguas.  Segundo Sandra de Melo, proprietária da agência Ziptour, de  Campinas, os destinos preferidos para esses intercâmbios são  Canadá, Estados Unidos e Inglaterra. 
 A  Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e  Culturais (Belta) também aponta o Canadá como o país mais  procurado pelos brasileiros para fazer intercâmbio. Os fatores  apontados para essa preferência são os custos relativamente mais  baixos em relação a outros destinos, facilidade para obtenção do  visto, segurança, qualidade do ensino e hospitalidade. 
 Os  jovens também gostam de realizar passeios para praias e locais onde  a natureza é o principal atrativo, enquadrando-se muitas vezes no  conceito de ecoturismo. O que atrai o público para esses destinos é  que geram emoção e podem proporcionar uma dose de aventura. Além  disso, representam uma grande oportunidade para fugir dos grandes  centros urbanos. Segundo Vera Marcelino, assessora de imprensa da  Associação das Agências de Viagens Independentes do Interior do  Estado de São Paulo (Aviesp), a cidade de Porto Seguro, na Bahia, é  um dos destinos preferidos pelos jovens no Brasil, com esse intuito. 
 Tecnologia  a serviço do turismo 
 Gabriel  Medina, secretário nacional da Juventude da Presidência da  República, propôs, em maio deste ano, uma parceria com o Ministério  do Turismo para desenvolver um aplicativo que reúna opções de  destinos turísticos para a juventude. Segundo ele, como os jovens  recorrem sempre à internet e ao celular, criar algo virtual é  fundamental para alcançar esse público.  
 O  ministro Henrique Alves, em entrevista para o site do Ministério do  Turismo, reforça essa ideia: "Se reunirmos informações  turísticas com preços acessíveis em um aplicativo móvel, podemos  incentivar ainda mais esses jovens a conhecer nosso país. O turismo,  na juventude, pode se tornar um segmento promissor para o Brasil,  ainda mais às vésperas dos Jogos Olímpicos".  
 No  Estatuto da Juventude consta a proposta de incentivo à primeira  viagem. O documento ainda precisa ser regulamentado, mas ele define  gratuidade integral de duas passagens interestaduais por ano e  gratuidade parcial (50%) de mais dois bilhetes, anualmente, para  cidadãos entre 15 e 29 anos. Após a aprovação, 18 milhões de  jovens de baixa renda terão direito a esse benefício, tendo a  oportunidade de viajar pelo país. 
 Turismo  do idoso 
 O  Brasil, em 2020, terá mais de 14% da população constituída de  idosos e, nos próximos 25 anos, será o sexto país mais  envelhecido, devido ao aumento da expectativa de vida que hoje é de  73,9 anos para ambos os sexos (em 2003 era de 71,3 anos), de acordo  com o IBGE. 
 A  maioria (70%) das pessoas nessa faixa etária tem independência  financeira, segundo o Banco Mundial, e responde por 15% da carteira  de clientes das agências de viagem, de acordo com o Ministério do  Turismo. Por isso, o mercado tem dado a esse segmento uma atenção  cada vez maior, pois são pessoas que, em sua maioria, já estão  aposentadas, possuem disposição, tempo e recursos para investir. A  presença maior desse público em hotéis, restaurantes e passeios  turísticos tem mudado a estratégia de vendas de agências de  viagens, que procuram destinos com esse foco. 
 Os  mais velhos normalmente buscam agências para programar suas viagens,  pois querem garantia de segurança, bem-estar e melhor acessibilidade  nos lugares que pretendem visitar. Segundo Elizabete Sayuri, esse  público é uma salvação para as agências turísticas, pois eles  costumam viajar em baixa temporada, devido à maior flexibilidade de  tempo e aos preços, que costumam ser mais baixos nessa época. 
 Eles  são também um grande público do turismo religioso, que movimenta  peregrinos em viagens de fé e devoção para locais considerados  sagrados, como a cidade de Aparecida (SP), Santiago de Compostela, na  Espanha, ou Roma, na Itália. 
 Outra  opção muito procurada pelos idosos é o chamado turismo social que  pode ser encontrado no Sesc, por exemplo, uma entidade privada de  assistência social. O artigo "Segmentação de mercado: uma  abordagem sobre o turismo em diferentes faixas etárias", explica  que esse turismo é  fomentado pelo Estado e organizado por entidades  da sociedade civil, com o objetivo de recuperação psicológica e  ascensão sociocultural. 
 O  público idoso procura, ainda, o turismo voltado para o bem-estar,  realizando viagens para spas, centros de terapias alternativas ou  estâncias hidrotermais.  
 Esse  público já vem sendo olhado pelo Estado há mais tempo que o  público jovem. O Ministério do Turismo possui programas voltados  para o incentivo turístico para maiores de 60 anos, como o Viaja  Mais Melhor Idade que, desde 2013,   proporciona viagens pelo Brasil,  fortalecendo, ao mesmo tempo, o turismo interno. Como idosos e  pensionistas possuem a possibilidade de tirar férias em períodos de  baixa ocupação, minimiza-se um grande problema do setor turístico:  a sazonalidade, garantindo maior competitividade ao setor. O Viaja  Mais Melhor Idade conta com diversos pacotes, destinos, facilidade de  deslocamento e descontos em hospedagens ou passeios turísticos.  Segundo Vera Marcelino, o programa pode reduzir os preços dos  pacotes de viagem em até 40%. 
 No  estado de São Paulo, O Decreto  60.085, de janeiro de 2014, garante a gratuidade em serviço de transporte  intermunicipal às pessoas idosas, contanto que se siga algumas  regras, como a reserva por no mínimo de 24 horas antes da viagem,  apresentação de documento que comprove a idade do passageiro e que  contenha foto, e outras determinações para garantia do beneficiário  e da empresa transportadora.  
 Porém,  programas do governo ainda não são suficientes e falta um  investimento maior, como explica Karina Solha: "As diferentes ações  do governo federal, no sentido de discutir e pensar segmentação do  turismo são importantes, contudo, não são suficientes. Devemos  investir no aprimoramento dos nossos conhecimentos, na  profissionalização dos recursos humanos da área e no aprimoramento  de nossos produtos e serviços, considerando a necessidade de  compreender com maior profundidade quem são e o que querem os  turistas nacionais e aqueles internacionais que pretendemos trazer.  Este será um trabalho árduo e sistemático, mas que poderá trazer  bons resultados a médio e longo prazo".
 
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