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                             A revisão crítica  das principais publicações relativas a determinado campo de estudo é item  fundamental de qualquer pesquisa científica. A rotina de busca e seleção destas  publicações foi amplamente transformada com o surgimento da internet, no  entanto a imensa quantidade de informação disponível na rede mundial demanda  uma triagem cuidadosa. Neste contexto, as bibliotecas virtuais figuram como uma  ferramenta altamente proveitosa e praticamente obrigatória na rotina de  especialistas e estudantes. Embora caracterizem um fenômeno recente, essas  bibliotecas representam hoje, segundo Sandra Gomes, da Universidade Federal  Fluminense (UFF), um novo  território para a pesquisa científica no Brasil, que reúne informação  combinada com recursos que promovem maior integração entre pares. 
As bibliotecas  virtuais prezam o critério de qualidade para a inserção de informação em suas  bases, muito embora descrever a qualidade e medir o impacto das publicações não  seja seu propósito, lembra Sandra, que é doutora em ciência da informação.  Ainda assim, esses serviços acabam influenciados e também podem influenciar  tais critérios. “As bibliotecas virtuais oferecem ampla visibilidade à  informação científica, o que tende a impactar os índices de citação da  literatura. A informação publicada e que se encontra disponível em acesso aberto  na rede tende a ser mais citada e diversos estudos já comprovam isto”, afirma a  pesquisadora. Um artigo publicado na revista Nature em 2001, por exemplo, relatou o  aumento do impacto das publicações na área de ciências da computação quando disponíveis  em acesso livre na internet. O estudo feito por Steve Lawrence, do NEC Research  Institute envolveu quase 120 mil artigos e aponta que o índice de citação para  publicações impressas é de 2,74%, enquanto que os artigos disponíveis online  obtêm 7,03%, um aumento de 157%. 
As bibliotecas  virtuais também contribuem para ampliar a qualidade da produção científica,  afirma Samile Vanz, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul  (UFRGS). “Temos à nossa disposição muito mais variedade e quantidade de  documentos, artigos, enfim, todo o tipo de informação para usar em nossa  própria pesquisa. A qualidade também pode ter ampliado, pois a rede expõe o  autor a uma audiência muito maior, forçando-o a publicar o melhor  conteúdo/resultado possível”, afirma Samile, que  também é doutora em comunicação e informação. 
Confrontando  diversas visões, Sandra elaborou um conceito que representa o conjunto de ideias  sobre o uso da biblioteca virtual para a pesquisa científica, definindo-a como  “serviço online de informação especializada, criado para atender as  novas exigências da pesquisa acadêmica, sobretudo no que diz respeito à  agilidade para a obtenção da informação e para a comunicação entre pares”. Para  ela, a facilidade de acesso à informação é um ponto crucial para a pesquisa  científica e a internet atua de maneira decisiva nesse processo, promovendo  mudanças ligadas à produção, difusão e uso da informação. “Por encontrar-se  desterritorializada, a informação disponível nas bibliotecas virtuais supera  barreiras geográficas, institucionais e burocráticas, de forma que pesquisadores  localizados em qualquer parte acessam com facilidade e rapidez a informação”,  afirma a professora. Esse fenômeno é especialmente importante considerando a  produção científica de países em desenvolvimento. 
 Com o papel de  abrigar e disseminar a informação produzida no meio eletrônico, já que a  revista científica é hoje majoritariamente eletrônica ou digital, a biblioteca  virtual adquire importância central no registro e comunicação da informação  científica, afirma Gomes. “Neste sentido, a biblioteca virtual é um complemento  fundamental para as próprias bibliotecas físicas”. Ela destaca a importância  das bibliotecas específicas de cada área, que “reside no fato de os padrões de  comunicação variarem muito conforme as diferentes áreas, com reflexos no conjunto  de fontes a serem selecionadas, armazenadas e disseminadas pelas bibliotecas,  físicas ou virtuais”. 
Produção  científica: é possível mensurar? 
Existem hoje  alguns critérios globalmente aceitos pela comunidade científica para calcular e  difundir o impacto das publicações, ainda que haja questionamento sobre suas  lacunas. O Fator de Impacto, por exemplo, é uma  avaliação criada pelo Institute for  Scientific Information(ISI), hoje associado à Thomson Reuters, que estabelece a  média entre o número de citações dos artigos publicados no periódico nos dois  anos anteriores, dividido pelo número total de artigos publicados no mesmo  período. O Fator de Impacto é publicado no Journal Citation Reports e representa um dos critérios de busca no Web  of Science, também da Thomson Reuters, uma base de dados que indexa  publicações científicas de todo o mundo. Há ainda a base SciVerse Scopus, da editora  Elsevier, que permite a análise das buscas a partir de um outro tipo de  indicador, o índice H (conhecido também como Índice de Hirsch ou Fator H), estabelecido  pelo cálculo entre o número de trabalhos publicados por um autor e a frequência  com que esses trabalhos são citados por outros autores, na tentativa de  comparar a produtividade de pesquisadores. 
 O  desenvolvimento e avaliação desses índices é um dos objetos de estudo da cientometria, área que analisa a dinâmica da ciência  a partir da produção, circulação e consumo da produção científica. Há por parte  de especialistas e pesquisadores diversas críticas em relação às classificações  geradas por esses índices, já que as áreas do conhecimento apresentam, cada uma,  certa lógica de produção. Algumas disciplinas, por exemplo, possuem maior  número de revistas, o que aumenta a chance de obter maior número de citações.  Outro caso é o de artigos que, por conterem falhas conceituais ou outros  aspectos discutíveis, acabam sendo citados com muita frequência. A International Society for Informetrics and  Scientometrics (ISSI) é uma das  comunidades científicas que se dedica à produção e adaptação de indicadores. 
 Para Samile  Vanz, da UFRGS, embora haja limitações, as análises quantitativas são válidas e  baseadas em diversos indicadores bibliométricos. “Considero que as análises  qualitativas da ciência são úteis, mas, pelo alto custo, demanda de tempo e  recursos humanos, são inviáveis. As análises quantitativas não são menos  trabalhosas, mas são mais ágeis e demandam menos pessoas envolvidas. É lógico  que todo o indicador numérico precisa ser contextualizado, e é aí que a análise  qualitativa entra”. 
 No Brasil, o acesso às publicações científicas é  feito, principalmente, por meio da biblioteca virtual SciELO (Scientific Electronic Library Online) e do Portal de  Periódicos da Capes, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível  Superior. Além do Portal, a Capes possui também o chamado Qualis, que entre outras avaliações, classifica os  periódicos em estratos indicativos da qualidade, entre A1 (o mais alto), A2,  B1, B2, B3, B4, B5 e C. Segundo Rogério Mugnaini, da Universidade de São Paulo  (USP), os critérios de avaliação do Qualis passaram a incorporar o Fator de  Impacto após a virada deste século. “Resulta que a publicação em revistas de  maior Fator de Impacto seja, não só um estímulo, mas uma obrigação crescente.  Este processo também estabeleceu um padrão de publicação e gestão editorial,  que fez com que muitas revistas brasileiras passassem a aprimorar não apenas  sua prática editorial, mas a serem mais seletivas quanto ao conteúdo científico  dos artigos que publicam”, afirma Muganini, que é cientista da informação. 
Desde abril  deste ano, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), uma  das principais agências de fomento à pesquisa no país, passou a exigir que a  súmula curricular dos cientistas – exigida na apresentação de propostas de  financiamentos – incluísse um link para o MyResearcherID ou MyCitations, dois mecanismos que monitoram e  organizam as citações aos trabalhos dos pesquisadores. Para Mugnaini, a medida é positiva no sentido  de facilitar um esforço que alguns pareceristas já faziam cada um a sua maneira  e por possibilitar levar em consideração não apenas o Fator de Impacto da  revista onde os trabalhos foram publicados, mas também o próprio artigo do  pesquisador. Mugnaini ressalta, no entanto, que é preciso ponderar sobre como  essa informação será utilizada na avaliação dos projetos. “A comunidade carece  não apenas de indicadores prontos, mas de compreensão sobre o que eles mensuram  e, principalmente, sobre suas limitações. A impressão que dá é que existem dois  perfis: os que confiam cegamente, e os que abominam e desprezam”, afirma. 
Em meio ao mar  de produção de conhecimento científico disponível, os índices cientométricos  tornaram-se um guia importante e, por vezes, indispensável para a pesquisa  científica, com ferramentas em constante aprimoramento. Num círculo virtuoso,  quanto melhor forem os índices, mais direcionada e repetitiva se tornarão as  buscas e mais confiável a seleção de informações. No entanto, a revisão  bibliográfica sob o exame crítico do pesquisador parece ser ainda o melhor  indicador de qualidade e não deve ser substituído, mas complementado e  sustentado pelas ferramentas automatizadas.  
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