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 Em  26 de março o mundo veste roxo durante o Dia Mundial de  Conscientização da Epilepsia. Instituído em 2008, o Purple Day é  dedicado à reflexão sobre a epilepsia, suas formas de tratamento e  prevenção. O esforço se propõe também a derrubar estigmas de uma  sociedade que ainda se assusta – e discrimina – as vítimas da  síndrome, que se manifesta na forma de crises, algumas mais fracas,  outras mais sérias.
  A  epilepsia não é contagiosa, e afeta 50 milhões de pessoas em todo  o mundo, de  acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).  É uma espécie de desorganização dos sinais elétricos do cérebro  capaz de provocar convulsões. Na maioria dos casos, as crises  desaparecem de maneira espontânea, mas tendem a se repetir em  períodos aleatórios. A origem está em problemas no parto, quedas  que tenham afetado o sistema nervoso, e malformação do córtex  cerebral. 
 “Considero  o Purple Day uma “data simpática” para a conscientização. É  um movimento mundial que traz uma história, uma figura (Cassidy  Megan, jovem canadense que idealizou a data e tornou um ícone), uma  mensagem e uma cor”, conta Isilda Sueli Assumpção, presidente do  projeto Assistência à Saúde de Pacientes com Epilepsia (Aspe) e  enfermeira do Hospital das Clínicas da Unicamp. 
 Epilepsia  no dia a dia 
 E  não é só durante o Purple Day que há o esforço da  conscientização. Pesquisadores travam batalhas diárias contra a  epilepsia, estudando novas formas de combater a síndrome, afirma  Fernando Cendes, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM)  da Unicamp e pesquisador do Brazilian Institute of Neuroscience and  Neurotechnology (Brainn). “A equipe multidisciplinar do instituto  atua em diversas frentes para aperfeiçoar o diagnóstico e reduzir  seus impactos”, conta o professor.  
 O  eletroencefalograma (EEG) é o exame mais comum para analisar as  crises. Os resultados obtidos são cruzados com uma série de  variáveis que relacionam da idade ao histórico de vida do paciente  e de sua família. “O EEG pode ser rotineiro, com eletrodos  alocados sobre o couro cabeludo, mas há também situações um pouco  mais raras em que são implantados no cérebro do paciente”,  explica.  
 Cendes  diz há testes ainda mais avançados, na área da ressonância  magnética (RM), com imagens tridimensionais que permitem avaliar as  estruturas cerebrais e determinar com mais precisão o local de  lesões que causam as crises. 
 “As  análises de imagem são ferramentas essenciais para avaliarmos o  melhor tratamento para o paciente. Com a precisão desses  diagnósticos, que podem revelar alterações discretas ou extensas,  podemos conduzir cirurgias em pacientes que já passaram por outros  tratamentos com baixas taxas de sucesso”, avalia o pesquisador.  
 Canabidiol 
 A  substância encontrada na Cannabis  Sativa atua no sistema nervoso central e é um aliado no tratamento de  doenças psiquiátricas ou neurodegenerativas, notadamente a  esquizofrenia, o mal de Parkinson e a epilepsia. O composto foi  isolado na década de 40,  mas a luta para uso em medicamentos ainda gera controvérsias. Em  cumprimento a uma decisão judicial a Anvisa liberou essa semana a prescrição e a importação de produtos com a  substância – mas deve recorrer. 
 “O  apelo do canabidiol (CBD) é que ele é natural, é um derivado da  maconha que não causa ‘barato’”, sintetiza Fernando Cendes, do  Brainn. O pesquisador não vê restrição quanto à administração  em determinadas situações, mas avalia que o entusiasmo parece ser  grande demais. “O CBD atua da mesma forma que outras drogas. Ele  age nos mesmos receptores que outros medicamentos já regulados,  aprovados pela Anvisa e com histórico mais conhecido”, explica. 
 Estigmas  persistem 
 Apesar  de reconhecer que ações como o Purple Day são importantes, a  presidente do Aspe, Isilda Assumpção, avalia que os reflexos dessas  atividades são observados lentamente. “Se você perguntar a uma  pessoa que convive com epilepsia, ela dirá que as coisas não mudam.  “Escutamos histórias tristes e até revoltantes de pessoas que são  “convidadas” a se retirar de escolas, por exemplo, ou dizendo que  não estão preparadas para socorrer uma criança ou um jovem durante  uma crise, fora o bullying e as dificuldades para a conquista do emprego”, desabafa a  enfermeira, que convive diariamente com esses casos.  
 Assim,  a importância da data é ressaltar a conscientização. Apesar de  reais e frequentes as dificuldades que enfrentam em relação à vida  profissional, social, e até familiar, Assumpção lembra que os  tempos mudaram, e que hoje a maior parcela de pessoas que convive com  a doença consegue ter uma vida normal. “Trabalhamos para minimizar  os efeitos relacionados ao sentimento de exclusão e baixa  autoestima, determinados pelo preconceito que cerca essas pessoas”,  conclui. 
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