Enquanto  o marketing já se apropria da ciência, contrariamente, a recíproca  não é verdadeira 
   
              
 Pesquisadoras e alunas do Labjor recebem Marcos de Oliveira, diretor do MarketingLab 
 
  Cientistas  de jaleco branco na bancada de um laboratório apresentam nova pasta  dental que deixa os dentes brancos como neve; a molécula de DNA  dança dentro da gasolina tecnológica; o  “suprassumo” da  inovação em carros que, com muita precisão, e cálculo  computacional, escrevem mensagem vista da Estação Espacial Internacional. Essas e outras  propagandas, que já fazem parte do nosso cotidiano, trazem consigo a  imagem da ciência que lhes garante credibilidade e qualidade. Mas o  quanto a ciência se apropria do marketing para vender sua imagem,  conquistar admiradores e valorizar seu passe? 
  Foi  com algumas dessas questões que, no último dia 15, o blog Divulga  Ciência recebeu no Labjor a visita de Marcos de Oliveira, diretor do marketingLAB, que propõe a divulgação de informações científicas em produtos,  como a cerveja artesanal, para enriquecer o consumidor com conteúdos  que vão além do simples consumo e que o aproxime da ciência. 
  Sua  fala foi permeada por exemplos de projetos que o administrador e  publicitário participou ao longo de sua carreira, mostrando como  aliar a publicidade e o marketing na promoção da ciência. Ele  aponta  a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) como um dos modelos de  instituição de pesquisa que faz eficiente uso da publicidade, tanto  para alimentar o senso  de orgulho  nacional como para influenciar a população sobre a importância de  suas atividades e justificar  os grandes  investimentos para pesquisas e projetos. 
  Nesse  sentido, um exemplo recente é o filme de ficção científica Interestelar (2014), dirigido por Christopher Nolan. O filme teve consultoria do  físico teórico Kip Thorne, que trouxe precisão de informações e,  com isso, credibilidade para a ciência, tecnologia e inovação  desenvolvidas pela Agência. “A Nasa faz um trabalho muito bem  feito de divulgação, de convencimento do contribuinte e do mundo  inteiro”, ressalta o publicitário. 
                         
 Cenas do filme Interestelar (2014), dirigido por Christopher Nolan 
 
  No  caso brasileiro, ele menciona o filme O  homem do futuro,  dirigido por Cláudio Torres (2011), também uma obra de ficção  científica. Apesar de o filme ter usado as instalações do maior  acelerador de partículas da América Latina, o Síncrotron, como  cenário, o público pouco ou nada percebe sobre o contexto  científico brasileiro do setor. Perdeu-se aí, lamenta Oliveira, uma  oportunidade de divulgação científica, que traria visibilidade  para a instituição e para a ciência. 
  Ciência,  marketing e cerveja 
  Carioca  que há 15 anos se estabeleceu na capital paulista, Oliveira destacou  sua participação no ramo cervejeiro, com atuação no marketing de  microcervejarias que produzem bebidas especiais ou artesanais. Ele  produziu o canal Cerveja  Brasilis que  traz a história, o modelo de negócio, a tecnologia e o processo de  fabricação dessa bebida, que chegou ao Brasil junto com a família  real, em 1808. Em meio a inúmeras entrevistas, Oliveira brindou com  personalidades como o físico Rogério Cerqueira Leite, o físico e  químico Sérgio Mascarenhas, o historiador João Azevedo Fernandes,  o engenheiro Eduardo  Grizendi,  especialista em inovação, além do teólogo Leonardo Boff, para  trazer aspectos científicos, inovadores e culturais, que vão muito  além dos clichês sobre a bebida.  
              
 Marcos de Oliveira aponta a relação entre marketing e ciência 
 
  Outro  projeto de aproximação da ciência com o público apresentada por  Oliveira é o projeto EMC² – Encontro Memorável de Ciência e Cerveja, em que há discussão  com renomados cientistas e temas variados em encontros nos bares. A  ideia foi inspirada no evento Beer,  Science and Good Spirits,  organizado pela Weizmann Institute of Science, em Israel. A versão  brasileira estreou em 2013, com o biólogo José Mariano Amabis, que  discutiu a evolução da vida na Terra, enquanto o público provava  cervejas nacionais. Para 2015, será organizada outra temporada do  EMC² com 5 eventos em Ribeirão Preto e São Carlos, interior de São  Paulo. 
  Para  Oliveira, essas  estratégias foram adotadas porque o acesso à informação deve ser  atraente, e pode ser realizado com pequenas e efetivas ações e  parcerias. “Essa visão de publicidade e divulgação não  permeia a universidade. Temos a publicidade se apoderando da ciência,  e a ciência tem o dever de conhecer o marketing. No momento em que  você coloca o cientista com o jaleco, você o distancia do  público, cria um ícone, quando o que precisamos é de engenheiro  com barba, barriga, cara de gente”, afirma o publicitário. 
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