Solturas  de animais silvestres provenientes de criadouros, zoológicos e  órgãos ambientais são realizadas com frequência com o propósito  conservacionista, porém, em diversos casos o real objetivo é a  liberação de excedente das instituições.  
 
 
  Quem  faz o alerta é o professor e coordenador do Núcleo de Pesquisa em  Conservação de Cervídeos (Nupecce), na Unesp, campus de  Jaboticabal, José Maurício Barbanti Duarte. Segundo ele, “o  problema no Brasil não é a falta de trabalhos de reintrodução,  mas sim a soltura descuidada para resolver problemas de organizações  públicas”. 
Duarte  refere-se às ações realizadas muitas vezes sem critérios e  monitoramento a longo prazo. A soltura é um evento complexo e que  exige a realização de estudos prévios, durante e após o processo,  e que nem sempre são levados em consideração, seja por falta de  suporte financeiro ou pessoas capacitadas. Quando não há  planejamento adequado, o que deveria ser uma ação conservacionista  torna-se, na verdade, mais um problema ambiental.  Um dos maiores riscos  associados a esta prática é a disseminação de zoonoses, com a  possível extinção local de espécies. 
No  Brasil, em geral, são poucos os exemplos de reintroduções  bem-sucedidas. A mais recente é a da cutia, que havia desaparecido  de uma região de Mata Atlântica, no estado do Rio de Janeiro. O  projeto teve início em 2010, e o monitoramento demonstra que, apesar  do pouco tempo, o sucesso é percebido, principalmente, pela  reprodução dos animais. Além de preservar a espécie, o retorno  auxilia a restauração e manutenção da flora da região, já que  elas ajudam na dispersão de sementes. 
Para  o coordenador do projeto, Fernando Antonio dos Santos Fernandez,  professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “soltura é o  simples ato de liberar animais sem nenhum tipo de estudo, em qualquer  região, feito muitas vezes por polícia ambiental, bombeiros e  proprietários de animais traficados”. No Brasil, são realizadas tanto  por indivíduos e ONGs, quanto por órgãos públicos, como Centro de  Triagem de Animais Silvestres (Cetas), Centro de Reabilitação de  Animais Silvestres (Cras) e zoológicos.  Os resultados a médio ou  longo prazo raramente têm sido documentados.  
“Em  muitos casos, o objetivo principal parece ser aliviar o excedente de  animais no plantel de Cetas ou zoológicos”, confirma Carlos  Ramón Ruiz-Miranda, professor da Universidade  Estadual Norte Fluminense, coordenador sul americano do Grupo  de Especialistas em Reintrodução da União Internacional  para Conservação da Natureza (IUCN).  Para ter uma ideia de como mesmo um caso de sucesso pode sofrer  interferência de outro mal planejado, há o exemplo do projeto  coordenado  por Ruiz-Miranda com  mico-leão-dourado.  
O  programa teve início em 1984, e desde então a população cresceu  significativamente. Hoje, a contribuição dos animais reintroduzidos  na região representa, aproximadamente,40% dos 1.500 micos na natureza.  Pelo fato de a população ser monitorada, os pesquisadores  perceberam que um dos fatores que afeta a sobrevivência e causa  dificuldade de reprodução dos micos é a competição com os  saguis, seja por território ou alimento. Mas essa espécie de  primata não ocupava naturalmente o estado do Rio de Janeiro, e  chegou à região por meio de solturas provenientes do comércio  ilegal. 
 O  grande número de animais mantidos pelos órgãos públicos vem de  apreensões do tráfico e também da chegada de espécies silvestres  às áreas urbanas. Assim, uma das possibilidades para mitigar o  problema das solturas é investir em ações que inibam a compra  ilegal de animais silvestres (não procedentes de criadouros  autorizados pelo Ibama), preservar o ambiente natural dos  animais e investir em atividades de educação ambiental. 
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