A
ciência ainda não entende completamente o que desencadeia a esclerose
múltipla, uma doença que acomete principalmente jovens adultos com
idade entre 20 e 40 anos. Existem evidências de que a doença é
resultante da interação entre fatores ambientais e genéticos. Assim,
uma infecção viral pode ser um dos fatores a desencadeá-la em pessoas
mais suscetíveis à doença.
Para
que uma resposta imune ocorra de forma adequada, os linfócitos -
células responsáveis pela síntese de anticorpos ou pela ativação de outras células do sistema imune - precisam passar por
uma espécie de aprendizado durante o seu desenvolvimento, no qual a
lição mais importante é saber distinguir o que faz parte do próprio
corpo humano e o que é um componente estranho, ou um antígeno.
Na
palestra, Santos destacou a importância das moléculas MHC no processo.
Os humanos têm duas classes dessas moléculas: as da classe I são
encontradas na superfície de todas as células com núcleo, enquanto as
da classe II são expressas apenas na superfície de células que
apresentam antígenos e células com endotélio, uma camada que reveste
vasos linfáticos. As moléculas MHC I permitem que as células imunes
reconheçam os componentes do próprio corpo e não montem respostas
direcionadas a eles; já as moléculas MHC II permitem o reconhecimento
dos antígenos processados pelas células e apresentados na fenda da
molécula.
Uma
falha durante a maturação das células imunes pode levar à perda dessa
capacidade de distinção entre aquilo que é próprio do corpo e o que é
estranho, com geração de leucócitos autoreativos e desencadeamento de
autoimunidade. Na esclerose múltipla, há infiltração de células imunes
no sistema nervoso, as quais irão montar uma resposta inflamatória
tanto a um provável antígeno ali presente como também a componentes
próprios do sistema nervoso, que compõem a mielina.
Santos
considera de extrema relevância os estudos que relacionam o genótipo da
pessoa à doença, principalmente os genes que codificam as moléculas
MHC, para identificar indivíduos susceptíveis. Como a esclerose
múltipla não tem cura, o tratamento é voltado para atrasar a progressão
da doença. Para tanto, são utilizados imunossupressores. Anticorpos
direcionados a componentes que atuam na mediação da migração dos
leucócitos estão sendo explorados como alvos potenciais para uma
intervenção terapêutica.