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Esclerose múltipla: uma das múltiplas fronteiras das neurociências
Por Beatriz Abramczuk
11/11/2009

A definição de neurociência como o estudo de aspectos relacionados ao sistema nervoso é indubitável. Entretanto, a demarcação de suas fronteiras perante as demais áreas científicas é complexa, e axônios e dendritos aproximam físicos, químicos, matemáticos, engenheiros e muitos outros profissionais para uma mesma esfera científica. Um exemplo claro de interação com a neurociência é a imunologia, tema de uma das palestras da Jornada de Neurociências, que ocorreu nos dias 6 e 7 de novembro na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A professora Leonilda Maria Barbosa Santos, do Instituto de Biologia da Unicamp, apresentou em sua palestra os aspectos imunológicos envolvidos na esclerose múltipla, uma doença autoimune em que há destruição da bainha de mielina. Trata-se de uma estrutura rica em lipídeos envolvendo axônios de forma não contínua. Apenas os vertebrados possuem a bainha de mielina, que atua como isolante elétrico e, consequentemente, permite uma condução mais rápida dos impulsos. A destruição dessa estrutura pode levar à degeneração dos neurônios e à perda de sua função. Como resultado, há uma fraqueza muscular, rigidez e dores nas articulações, e perda de coordenação motora.

A ciência ainda não entende completamente o que desencadeia a esclerose múltipla, uma doença que acomete principalmente jovens adultos com idade entre 20 e 40 anos. Existem evidências de que a doença é resultante da interação entre fatores ambientais e genéticos. Assim, uma infecção viral pode ser um dos fatores a desencadeá-la em pessoas mais suscetíveis à doença.

Para que uma resposta imune ocorra de forma adequada, os linfócitos - células responsáveis pela síntese de anticorpos ou pela ativação de outras células do sistema imune - precisam passar por uma espécie de aprendizado durante o seu desenvolvimento, no qual a lição mais importante é saber distinguir o que faz parte do próprio corpo humano e o que é um componente estranho, ou um antígeno.

Na palestra, Santos destacou a importância das moléculas MHC no processo. Os humanos têm duas classes dessas moléculas: as da classe I são encontradas na superfície de todas as células com núcleo, enquanto as da classe II são expressas apenas na superfície de células que apresentam antígenos e células com endotélio, uma camada que reveste vasos linfáticos. As moléculas MHC I permitem que as células imunes reconheçam os componentes do próprio corpo e não montem respostas direcionadas a eles; já as moléculas MHC II permitem o reconhecimento dos antígenos processados pelas células e apresentados na fenda da molécula.

Uma falha durante a maturação das células imunes pode levar à perda dessa capacidade de distinção entre aquilo que é próprio do corpo e o que é estranho, com geração de leucócitos autoreativos e desencadeamento de autoimunidade. Na esclerose múltipla, há infiltração de células imunes no sistema nervoso, as quais irão montar uma resposta inflamatória tanto a um provável antígeno ali presente como também a componentes próprios do sistema nervoso, que compõem a mielina.

Santos considera de extrema relevância os estudos que relacionam o genótipo da pessoa à doença, principalmente os genes que codificam as moléculas MHC, para identificar indivíduos susceptíveis. Como a esclerose múltipla não tem cura, o tratamento é voltado para atrasar a progressão da doença. Para tanto, são utilizados imunossupressores. Anticorpos direcionados a componentes que atuam na mediação da migração dos leucócitos estão sendo explorados como alvos potenciais para uma intervenção terapêutica.