REVISTA ELETRÔNICA DE JORNALISMO CIENTÍFICO
Artigo
Velocidade não é tudo para recordista vencer
Por Luis Eduardo Viveiros de Castro
10/11/2007

No treinamento esportivo temos constantemente a busca pelo desenvolvimento de qualidades físicas para obtenção dos melhores resultados. Entre outras qualidades desejadas, podemos destacar a força, associada ao desenvolvimento da potência e logo da velocidade, através da regulação do sistema neuromuscular, além do conhecimento técnico e tático específico de cada modalidade.


Fernando Scherer foi o primeiro brasileiro a quebrar quatro recordes
pan-americanos em uma única edição dos jogos, em 1999
Crédito: COB

A velocidade pode ser entendida como a capacidade de realizar movimentos no menor intervalo de tempo, dividida em ações cíclicas (contínuas), comuns em esportes individuais, e acíclicas (fracionadas), comuns em esportes coletivos. Essas ações são subdivididas em fases, como a aceleração, velocidade máxima e a resistência para manutenção da atividade (Weineck 1999).

Entretanto, apesar da constante busca pelo desenvolvimento da velocidade no esporte, na tentativa em diminuir marcas e assumir novos recordes, torna-se também importante perceber o momento em que essa velocidade deva ser aplicada. Ou seja, não só o desenvolvimento da máxima velocidade, mas o controle da mesma em seu ponto ótimo. Caso contrário, pode-se observar a perda de precisão do movimento, variável também importante ao esporte (Tani 1999).

Neste sentido, a velocidade de movimento é dependente de respostas eferentes do sistema nervoso através de seus padrões de freqüência e duração de estímulos transmitidos ao sistema muscular, que elaboram a qualidade e quantidade de movimento disponível em um espaço de tempo, chamado de tempo de movimento e tempo de reação (Chagas 2005). O tempo de movimento está direcionado entre o início do estímulo ao final de movimento. Já o tempo de reação, bastante utilizado como forma de avaliar o desempenho de atletas que utilizam para o sucesso de sua modalidade a interpretação de intervalos curtos de tempo, diz respeito ao início do estímulo e a primeira resposta motora específica.

Groves (1973), por exemplo, pesquisou a resposta da saída de bloco em nadadores, mostrando ser uma ferramenta importante para identificação genética e da capacidade neural do atleta, não conseguindo, porém, relacionar o tempo do movimento com o de reação. Possivelmente, esses achados corroboram com a idéia de diferentes massas musculares, unidades motoras e articulações a serem utilizadas para cada uma das fases do movimento, acreditando, ainda, que um movimento seja único e não possa ser repetido. Quando observamos o movimento de um atleta sendo realizado em velocidade, pensamos que o mesmo padrão de movimento é, constantemente, desenvolvido. Quando notamos os detalhes, verificamos existir diferenças em um mesmo movimento. Essas pequenas variações em realidade são adaptações feitas pelo próprio atleta a novas situações motoras, dessa forma o atleta pode garantir não somente a velocidade, mas o sucesso de suas habilidades motoras através dessas adaptações.

Dessa forma, mais do que somente o desenvolvimento da máxima velocidade, talvez o grande diferencial de um atleta recordista seja sua condição de responder rapidamente a novas solicitações. Isto é, o quanto ele consegue criar ou improvisar a uma nova solicitação motora a favor do desenvolvimento de sua performance.

Podemos assim concluir que, para o treinamento de atletas de alto rendimento, é necessário achar, na curva do treino, o ponto onde existe a melhor relação entre a velocidade e o sucesso do movimento. Ou seja, busca-se uma integração entre o sistema perceptivo e a velocidade do movimento relacionado à habilidade motora do atleta. Importante ainda destacar que, apesar do conteúdo genético da cada atleta, o treinamento, quando iniciado ainda em criança visando não à competição, mas a melhoria da habilidade motora, permitirá no futuro que essas adaptações ocorram de maneira facilitada.

Luis Eduardo Viveiros de Castro é coordenador da Área de Ciência do Departamento Técnico do Comitê Olímpico Brasileiro e mestre na área de fisiologia do exercício

Referências bibliográficas

Chagas MH, Leite CMF, Ugrinowitschi H, Benda RN, Menzel HJ, Souza PRC, Moreira EA. Associação entre o tempo de reação e movimento em jogadores de futsal. Ver Brás Educ Fís Esp, V19, N4, pp 269, 2005.
Groves R. Relationship of reaction time and movement time in a motor skill. Perceptual and Motor Skills, Missoula, V36, pp 453, 1973.
Tani G. O conceito de prática na aquisição de habilidades motoras. In R.J. Krebs, F. Copetti, T.S Beltrame & M. Ustra, 1999.
Weineck J. Treinamento ideal. 9.ed. São Paulo, Ed Manole, 1999.