REVISTA ELETRÔNICA DE JORNALISMO CIENTÍFICO
Poema
Bandeirolas
Por Carlos Vogt
10/02/2011

Não conte, porque sentirá saudade,

não do contado,

mas das pessoas, eventos, coisas, acontecimentos

que, mesmo não acontecidos,

passam a ter sido,

como se fato.

 

Não conte, ou se contar ficará magoado

pelo que amamos, desamamos,

gratos ou feridos no desejo

de voltar à casa à que não há retorno,

dela sair a cada dia novo,

e entrar na noite sem sair do dia.

 

Não conte o tempo com a unidade de medida

do desencantamento,

nem se preocupe pelos vazios

no contínuo da plenitude adentro.

 

O tempo corre contra e a favor do tempo,

tecendo cedo e tarde como se um prenúncio

fizesse desaparecer do encontro,

que deve acontecer no tempo,

aqueles que se encontrariam para confirmar

que, se nada é novo se senão pelo esquecimento,

o tempo em si sempre rejuvenesce

fora de si não muda, mas no que muda

ele envelhece,

folga estendido como lençóis de chuva

secando ao vento nos varais do tempo.