REVISTA ELETRÔNICA DE JORNALISMO CIENTÍFICO
Dossiê Anteriores Notícias Reportagens Especiais HumorComCiência Quem Somos
Dossiê
Editorial
Direitos e obrigações dos direitos - Carlos Vogt
Reportagens
As liberdades fundamentais
Enio Rodrigo
Em busca do direito básico à vida
Rodrigo Cunha
Saúde como direito humano
Ana Paula Morales
Movimentos sociais em defesa das minorias
Simone Pallone
Antes dos direitos humanos, paz e segurança no Oriente Médio
Flávia Natércia
Artigos
Variações sobre um conceito
Celso Lafer
A tutela do direito à educação nas negociações internacionais
Nina Beatriz Stocco Ranieri
Tecnologia e democracia diante da quarta geração dos direitos humanos
Ricardo Toledo Neder
Anistia e crimes contra a humanidade que não prescrevem
Hélio Bicudo
A não-violência e os direitos humanos
Guilherme Assis de Almeida
Tortura, impunidade e o investimento numa cultura de direitos
Edson Luis de Almeida Teles
Resenha
A importância da diversidade
Por Alexsander Lemos de Almeida Gebara
Entrevista
Perly Cipriano e Josely Rimoli
Entrevistado por Por Susana Dias
Poema
Singularidade
Carlos Vogt
Humor
HumorComCiencia
João Garcia
    Versão para impressão       Enviar por email       Compartilhar no Twitter       Compartilhar no Facebook
Reportagem
Antes dos direitos humanos, paz e segurança no Oriente Médio
Por Flávia Natércia
10/03/2009

Ainda é cedo para dizer que direção vai tomar a política do presidente dos Estados Unidos Barack Obama para o Oriente Médio. Para Stephen Walt, que ensina e pesquisa relações internacionais na Escola Kennedy da Universidade Harvard, porém, uma coisa, é certa: os Estados Unidos continuarão impopulares na região se derem prosseguimento às políticas adotadas nos últimos 30 anos ou mais. Outra quase certeza, segundo Robert Naiman, analista político sênior e coordenador nacional da organização não-governamental norte-americana Just Foreign Policy, está no fato de que ainda haverá aliados e inimigos na região no futuro próximo. “E, quando se fala em direitos humanos, sempre houve padrões distintos para aliados e inimigos”, pondera Naiman sobre uma ambivalência que deve se manter.

Walt diz que há diversos sinais encorajadores da prontidão do novo presidente para explorar novas maneiras de abordar a região. Naiman afirma ser provável que a promoção da democracia e dos direitos humanos não estará no topo da lista de prioridades dos Estados Unidos. “Mas isso é uma boa coisa”, diz Naiman. “Os esforços passados no Oriente Médio sob essa bandeira foram amplamente hipócritas, tinham motivações secretas e se mostraram contraproducentes”, acrescenta o analista político, cuja organização pretende mudar o mundo mudando a política externa do próprio país. Já para Walt, não há por que não seguir estimulando os países da região a mudar políticas consideradas erradas. “No entanto, não devemos usar a força militar para impor esse tipo de mudança de fora para dentro”, afirma.

A invasão do Iraque tornou-se um grande obstáculo para os movimentos democráticos na região. “A maior prioridade dos Estados Unidos no Oriente Médio é promover a resolução pacífica e política dos conflitos. Quando houver paz, o espaço político para movimentos dissidentes vai aumentar dramaticamente”, completa Naiman. A redução do nível de confronto e o engajamento numa diplomacia real poderiam surtir um impacto substancial, aumentando o espaço para ações democráticas.

Naiman considera que os Estados Unidos atualmente se encontram tão desacreditados para a opinião pública árabe, que acabam prejudicando a causa dos direitos humanos nos países árabes quando tocam no assunto. Antes de mudarem suas políticas na região de modo a angariar maior apoio público, Naiman acredita que o discurso norte-americano não terá peso. “Em relação aos árabes, a mudança mais importante deve ser o engajamento numa diplomacia real com países como o Irã e a Síria e organizações como o Hizbollah e o Hamas”, diz Naiman. “Isso vai reduzir substancialmente o nível de confronto como uma desculpa para a repressão, aumentando o espaço para os movimentos democráticos”, vaticina.

Segundo Walt, também é preciso que mude a relação dos Estados Unidos com Israel, de uma “relação especial” para uma “relação normal”. “Deveríamos tratar Israel da mesma maneira como tratamos outras democracias”, afirma Walt, “o que significa apoiá-los quando fizerem coisas que aprovamos ou que nos interessam, e pressioná-los a mudar de comportamento quando fizerem coisas que não interessem aos Estados Unidos”.

Num livro recentemente lançado, Walt – juntamente com o colega John Mearsheimer – defende que seu país não dê apoio incondicional a Israel, ainda que existam valores em comum entre os dois países, e também que os Estados Unidos ajudem Israel apenas no caso de sua sobrevivência se ver ameaçada. Primeiro, porque os valores políticos podem ser afins, mas não são idênticos. “Em particular, discutimos que a negação de direitos políticos – e de um Estado próprio– aos palestinos é contrária aos interesses dos Estados Unidos e aos valores norte-americanos”, completa Walt.

Na análise de Naiman, o principal foco norte-americano em Israel deve ser “falar grosso” contra a expansão dos assentamentos na Cisjordânia, o que poderia vir como uma insistência na suspensão real dos assentamentos como condição para que o país continue recebendo ajuda. “Não está claro em que medida isso vai mesmo acontecer, mas é possível. A imprensa israelense tem estado cheia de especulações: Obama vai de fato insistir num congelamento?”, conta. “Sem essa mudança, a diplomacia dos Estados Unidos numa solução do conflito Israel x Palestina que resulte em dois Estados não passará de uma charada e podemos assistir a mais explosões de violência”, conclui.