| Quem 
              defende a clonagem humana Quantos, 
              hoje em dia, defendem a clonagem humana com fins reprodutivos? Provavelmente 
              muitos mais do que os que abertamente se declaram "pró-clonagem". 
              Basta ver, para isso, que o principal argumento da oposição 
              é o de que a técnica ainda não está 
              bem desenvolvida para permitir gerar, com segurança, um clone 
              humano. Sendo assim, no momento em que a pesquisa tiver avançado 
              suficientemente para garantir eficácia ao processo, não 
              mais se justificará a oposição à clonagem 
              reprodutiva, a qual se tornará "apenas mais uma, dentre 
              as diferentes técnicas de fertilização assistida", 
              como diz o geneticista Bernardo Beiguelman (veja 
              artigo nesta edição). Fiquemos, 
              por enquanto, nos que hoje defendem a clonagem humana com fins reprodutivos 
              (deixemos de lado a clonagem terapêutica, que abertamente 
              já conta com maior apoio da comunidade científica 
              e da sociedade, apesar da polêmica sobre a divulgação 
              da ACT e seu "embrião" de seis células e 
              das discussões sobre o caráter abortivo da técnica). 
               Há 
              basicamente dois "grupos", ou melhor, duas "ambições" 
              em jogo: a dos que querem demonstrar competência (e atrair 
              atenção) no tratamento da infertilidade/assistência 
              à reprodução e a dos que almejam alcançar 
              a imortalidade, oferecendo "clones de si próprio" 
              a todos os interessados em aderir a uma "nova religião". 
              Ambos repousam inegavelmente sobre "bases científicas", 
              embora seus fins sejam diferentes. Ambos trabalham rodeados de segredo, 
              para "provar no momento certo" o poder de sua técnica. 
              Nenhum deles apresentou, até o momento, resultados concretos. Clonagem e reprodução assistida
 No primeiro grupo, encontram-se, notoriamente, o italiano Severino 
              Antinori e o cipriota radicado nos EUA, Panayotis (ou Panos) Zavos. 
              Este é presidente da Human 
              Cloning Foundation (HCF), uma ONG cuja diretoria é formada 
              por indivíduos sem qualquer apoio declarado de uma instituição 
              (universidade ou centro de pesquisa). Basta dar uma olhada na seção 
              "About us" do site:
  
               
                Panos 
                  Zavos (Patron) - info@zdlinc.com (non-direct email address) 
                  Roger Moorgate (Primary administrator) - RogerMoorgate@hotmail.com
 Randolfe H. Wicker (Spokesman/Administrator) - Rwicker@gateway.net
 HCFadmin (Administrator) - hcloning@aol.com
 Christine Ryan (General Editor) - newsletter@reproductivecloning.org 
                  (temporary email address)
 "ChaosDriven" (Contributor/Admin) - chaosdriven@hushmail.com
 Alonzo Fyfe (Contributor/Moderator) - hume@aol.com
 Dave Harris (Contributor/Web Designer) - dharris@reproductivecloning.org
 Dennis Chute (Contributor) - dennischute@hotmail.com
 Margo Lafontaine (Contributor) - SunnyMML@aol.com
 
 A HCF 
              tem seu "braço científico" - a Reproductive 
              Cloning Network , cujo porta-voz é Randolfe H. Wicker, 
              o "primeiro ativista mundial da clonagem humana" (?!). 
              Segundo o site, Wicker fundou o primeiro grupo pró-clonagem 
              humana (The Clone Rights United 
              Front), logo depois do anúncio do nascimento da ovelha 
              Dolly, em fevereiro de 1997. Além disso, a ONG conta também 
              com o apoio estratégico de Shauna, animadora do chat "Clone 
              4 life", semanalmente mantido na AOL (sábados, às 
              20h). Embora seja difícil atribuir credibilidade ao que é 
              divulgado pelo site da HCF, há muita informação 
              disponível para quem quiser conhecer os manifestos da organização. 
                     Junto 
              com o biólogo Zavos, o ginecologista, Severino Antinori integra 
              o rol dos famosos. Ele anunciou publicamente, na Academia de Ciências 
              de Washington, em agosto de 2001, que produziria o primeiro bebê 
              clonado ainda neste ano. Dificilmente, no entanto, cumprirá 
              com o anúncio, visto que até agora nada de concreto 
              surgiu. Diz Antinori, em entrevista 
              ao jornal El Mundo (09/08/01), que sua intenção 
              é desmistificar a clonagem. "Clonar não é 
              copiar. Trata-se simplesmente de uma técnica reprodutiva. 
              Eu nunca praticaria a clonagem em uma mulher solteira ou menopausada, 
              que pudesse engravidar com outra técnica reprodutiva", 
              assegura. Na 
              bagagem de Antinori, sobressai o "feito" de ter levado 
              uma mulher de 62 a anos a engravidar, do qual o médico tem 
              grande orgulho. Sobre críticas feitas pelo Vaticano, Antinori 
              responde (ainda no El Mundo) que suas convicções 
              religiosas (ele é católico) não interferem 
              na sua prática. "Que me chamem de Hitler ou Frankenstein, 
              eles têm o direito. Mas eu me compararia mais propriamente 
              a Galileu: sou uma vítima da intolerância", afirma. Na 
              corrida para chegar ao primeiro clone humano, outro que está 
              no páreo é o biólogo Jan Tesarik, conhecido 
              por ter feito nascer uma criança a partir de células 
              germinativas masculinas cultivadas in vitro. Tesarik já 
              publicou, em maio de 2000, na revista da Sociedade Européia 
              de Reprodução Humana e Embriologia, Human Reproduction, 
              artigo 
              sobre uma técnica que permite fundir dois óvulos e 
              poderá ser útil à clonagem humana (veja 
              também a página de Tesarik na revista eletrônica 
              Sito Web Italiano per la Filosofia - SWIF - em italiano).   Outro, 
              ainda, é o físico, também interessado em embriologia, 
              Richard G. Seed. De acordo com a revista Scientific American 
              (nov/2001), ele tem sido um defensor da clonagem, tanto para 
              tratar casos graves de infertilidade, quanto para "substituir 
              um ente amado, já falecido, por um gêmeo". Ele 
              ficou conhecido por ter atraído um competente cientista da 
              reprodução chinês para sua equipe e promete 
              apresentar três grávidas de clones antes de 2002, embora 
              não pareça ter, segundo Sciam, os recursos 
              necessários para isso.  Em 
              tempo. Seed, embora não afiliado, é reconhecido pela 
              Human Cloning Foundation (veja 
              página pessoal).   Clonagem 
              e religião
 
               
                |  |   
                |  
                    Livro com a filosofia do movimento raeliano, 
                    vendido através do site, inclusive com tradução 
                    para o português. 
                    Fonte: Site 
                    do movimento raeliano. |  Do 
              outro lado da fronteira, embora não tão longe, estão 
              aqueles que apóiam a clonagem reprodutiva por motivos "religiosos", 
              como é o caso dos raëlianos, que acreditam ter sido 
              a vida na Terra criada por "cientistas" de outro planeta, 
              utilizando DNA. Em seu site (disponível 
              em 18 diferentes línguas!), explica-se que a "revelação" 
              sobre a origem da vida se deu em dezembro de 1973, quando o jornalista 
              francês, Raël, recebeu a visita de um extra-terrestre 
              e este "ser de quatro pés de altura, longos cabelos 
              pretos e olhos amendoados" lhe disse: "Nós 
              somos os criadores de toda a vida na Terra; vocês nos confundiram 
              com deuses; nós estávamos na origem de todas as grandes 
              religiões. Agora que vocês estão maduros o suficiente 
              para entender isto, gostaríamos de entrar em contato oficial 
              através de uma embaixada" (citação do 
              site dos raelianos) O objetivo dos raelianos é, seguindo os preceitos de Elohim 
              (do hebraico, "aquele que veio do céu", normalmente 
              traduzido por Deus, mas que os raelianos identificam como o criador 
              extra-terrestre da vida na Terra), chegar "suavemente a uma 
              nova visão do universo, na qual podemos achar a chave para 
              despertar o nosso potencial, assim como valores para revolucionar 
              a sociedade". Trata-se, segundo eles, de uma nova "filosofia", 
              onde "a espiritualidade e a ciência se reúnem".
 Como 
              a clonagem entra nisso? Como o primeiro passo para garantir a vida 
              eterna, considerada uma evolução para o ser humano. 
               O projeto 
              científico-religioso dos raelianos concretizou-se na empresa 
              Clonaid, 
              dirigida pela química (especialista em metais!) francesa, 
              Brigitte Boisselier. Mas o endereço, bem como as atividades 
              da empresa, são mantidos em segredo, por "razões 
              óbvias de segurança". Na França é 
              que a Clonaid não deve estar, já que a reputação 
              de Boisselier junto a seus colegas cientistas não é 
              lá das melhores. Ao 
              comentar o anúncio do primeiro embrião humano clonado 
              pela ACT, Boisselier se disse "contente", como reporta 
              o jornal Libération 
              (27/11/01): "Estou maravilhada de ver que não sou 
              a única. Fabricamos embriões clonados todos os dias", 
              afirma a pesquisadora. Como prova, a Clonaid publica em seu site 
              (!) fotos dos embriões clonados, embora não seja possível 
              ver mais do que duas células, não havendo qualquer 
              explicação sobre a imagem.   
               
                |  |   
                | Fotos 
                  de "embriões" no site da Clonaid. 
                  Fonte: Clonaid. |    Algumas 
              afirmações dos raelianos, entretanto, chegam a ser 
              risíveis, tal como a do próprio Raël sobre a 
              clonagem direta de indivíduos adultos:   
              
                "A 
                  clonagem vai permitir à humanidade alcançar a 
                  vida eterna. O próximo passo, como fez Elohim com 25 
                  mil anos de vantagem, será o de clonar diretamente um 
                  adulto, sem ter que passar pelo processo de crescimento, transferindo 
                  sua memória e personalidade a essa pessoa [o clone]. 
                  Então, acordaremos depois da morte em um corpo totalmente 
                  novo, como depois de uma boa noite de sono". (declaração 
                  de Raël no site da Clonaid) Mas 
              é preciso não nos enganarmos com o caráter 
              desse movimento, pois não se trata de meros lunáticos. 
              Se, por um lado, eles parecem fazer promessas cientificamente infundadas, 
              quiçá impossíveis, por outro lado, estão 
              mexendo com valores bastante caros à grande parte da humanidade, 
              com um argumento bastante persuasivo: "[Em vinte anos] tornar-se-á 
              uma realidade científica o derradeiro sonho humano da vida 
              eterna, que as antigas religiões só prometeram para 
              depois da morte, no paraíso mítico", diz o site 
              da Clonaid. Que 
              ninguém se engane, tampouco, com o espaço que esses 
              grupos (sobretudo o primeiro) receberão em publicações 
              científicas e na mídia. Como notou Corinne Bensimon, 
              em matéria 
              no Liberátion (18/10/01), a "oposição 
              categórica" de cientistas à clonagem humana reprodutiva 
              cai por terra quando se lhes coloca a questão crucial: você 
              publicaria um artigo sobre o primeiro clone humano? A repórter 
              fez a pergunta a editores de seis grandes títulos da imprensa 
              médica e científica (Science, Nature, The Lancet, 
              Gynécologie, obstétrique, fertilité, Human 
              Reproduction e Fertility and Sterility). Resultado: ninguém 
              aceitou recusar, por princípio, o possível artigo. 
              "Todos consideram que a clonagem pode, um dia, em certos casos, 
              resolver um problema de esterilidade total. Útil ao indivíduo, 
              logo ético", conclui Bensimon. (MM)   
               
                | Para 
                    saber mais:  |   
                |  - Theologians 
                    oppose human cloning but warn of dangers of a ban
 Press release do site Eurekalert!, oriundo do Science and 
                    Religion News Service (respeitado pela qualidade de suas informações), 
                    com declarações de teólogos e filósofos 
                    ligados a instituições de pesquisa, a respeito 
                    das restrições éticas e morais à 
                    clonagem humana. Em inglês.
 - 
                      La 
                      course aux clonesDossier do jornal Libération sobre a clonagem. 
                      Muito completo, com matérias atualizadas em várias 
                      datas sobre o assunto, tratando de vários aspectos 
                      (ético, técnico, econômico) da clonagem 
                      humana e links para sites interessantes. Em francês.
 - 
                      The 
                      first human cloned embryoArtigo da revista Scientific American anunciando 
                      a clonagem da Advanced Cell Technologies. Os autores são 
                      os pesquisadores da ACT, Jose Cibelli, Robert Lanza e Michael 
                      West, e a repórter Carol Ezzell. Em inglês.
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