Editorial:

Fármacos e Medicamentos: Urgências
Carlos Vogt

Reportagens:
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Instrumentos de regulamentação dos genéricos
Descentralização na distribuição de medicamentos enfrenta falta de estrutura
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Poder das
multinacionais inibe a indústria brasileira
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Falta de garantia faz Ministério acabar
com os similares
Investimento em pesquisa de fármacos
no Brasil ainda é pequeno
A questão das
patentes na política brasileira de fármacos
Conhecimento tradicional e direito à propriedade intelectual
Fitoterápiocos: o mito
do natural
Artigos:
Aproveitamento das inovações farmacêuticas no Brasil
Antônio Camargo

Fitoterápicos: alternativa para o Brasil
Lauro Barata

Cronofarmacologia e Melatonina - o hormônio que marca o escuro
Regina Pekelmann Markus
Farmacologia perde integração com a cultura
Ulisses Capozoli
Notícias e "notícias" na comunicação pública da saúde
Isaac Epstein
Inovação e Gestão em um Mundo Globalizado
Antônio Buainain
Sergio Paulino de Carvalho

Acesso aos antiretrovirais na América Central
Eloan Pinheiro
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Fitoterápicos e o mito do natural

"Por ser um extrato 100% natural, não apresenta efeitos colaterais" - essa é uma das frases mais encontradas nas bulas ou textos referentes aos medicamentos fitoterápicos : aqueles medicamentos feitos exclusivamente a partir de espécies vegetais, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em alguns casos, encontra-se "como é um produto natural, apresenta baixo índice de efeitos colaterais e grande segurança para o usuário". Infelizmente, trata-se do mais perigoso mito quando o assunto tratado é fitoterápicos. Isso pode ser facilmente demonstrado quando se recorda que cicuta é natural, bem como a morfina, ópio, maconha, digitálicos (medicamentos para insuficiência cardíaca), cafeína e nicotina, dentre outros. Todas essas substâncias apresentam riscos à saúde humana, exaustivamente estudados e publicados.

Entretanto, os medicamentos fitoterápicos têm venda livre nas farmácias brasileiras, mesmo aqueles que atuam no Sistema Nervoso Central ou no Sistema Cardiovascular, que representam sérios riscos à saúde do paciente, quando administrados inadvertidamente. São encontrados laxantes, diuréticos, anti-depressivos, sedativos, antiinflamatórios, afrodisíacos, estimulantes, digestivos; para tratamento de obesidade, artrite, diabete, infecções, enxaqueca, dores musculares, tensão pré-menstrual. Ou seja, para doenças e indicações de todo o tipo, sem que haja necessidade de uma receita ou indicação médica. São vendidos junto com os medicamentos "OTC", ou over the counter (depois do balcão, em inglês), que têm venda livre, sem necessidade de apresentação da receita - aqueles sem tarja vermelha - tais como Novalgina e Aspirina.

Quando uma substância tem atividade num ser vivo, pouco importa ao organismo se ela é sintetizada no laboratório ou extraída de uma planta. Não existe diferença, em nível molecular, quando ela atua no organismo de qualquer ser vivo. Os efeitos colaterais são os efeitos indesejados, aqueles que aparecem por ação do fármaco em outro "setor" que não o desejado. Todos os fármacos estimulam vários "setores", com uma intensidade que varia conforme a especificidade da substância. Por exemplo, os antiinflamatórios, além de diminuirem a reação inflamatória, têm ação na secreção de suco gástrico, causando dores no estômago e azias. Quanto mais específica a ação do antiinflamatório, menor a reação gástrica. Ou seja, não é verdade que os medicamentos fitoterápicos são isentos de efeitos colaterais, uma vez que são substâncias ativas como quaisquer outras. Há outro problema adicional que é a quantidade de substâncias ativas presentes numa planta. Essa variedade pode aumentar a incidência de efeitos colaterais.

A Erva de São João (ou hipérico), que é um antidepressivo indicado para casos de depressão leve a moderada, é um vegetal estudado mundialmente. A ação do hipérico é comprovada e especula-se que nada menos que 15 substâncias sejam responsáveis pela sua atividade antidepressiva. Pelo menos duas, dentre essas, têm comprovada atividade e mecanismos de ação distintos; agem de forma diferente, no organismo, ainda que o efeito final seja o mesmo. Sabe-se que o hipérico pode causar fotossensibilidade, provocar contrações uterinas (portanto, risco de aborto). Há também algumas restrições com combinações alimentares, sob o risco de ocorrer hipertensão, evitando alimentos como: queijo, repolho, vinhos e picles.

Segundo Ariel Bogochvol , psiquiatra e psicanalista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, os efeitos colaterais observados são muito menores do que os esperados para as duas classes de substâncias anti-depressivas encontradas no hipérico. "Entretanto, não se conhece com certeza o mecanismo de ação dessas substâncias, portanto, não é possível prever que tipos de efeitos colaterais ainda podem aparecer", ressalva. Mas o maior problema, adverte, é ser um medicamento que age no sistema nervoso central, indicado para uma doença séria como a depressão e vendido livremente, quando todos os outros medicamentos sintetizados são vendidos apenas mediante retenção de receita médica.

De acordo com Fernando Batista da Costa, do Laboratório de Farmacognosia e Princípios Ativos Naturais da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, USP, " no Brasil, o medicamento fitoterápico é um medicamento tal e qual o alopático industrializado (sintético), em todos os aspectos éticos e funcionais, diferindo-se apenas quanto a fonte dos princípios ativos". Por isso, alerta que devem ser vendidos seguindo as mesmas restrições dos sintéticos. "Mesmo produtos a base de arnica ou calêndula," adverte Costa, "já de uso consagrado, podem causar dermatites de contato. A porangaba, usada para o tratamento da obesidade, contém substâncias cardiotônicas (que estimulam o coração) e a cáscara sagrada, conhecido laxante, pode causar abortos. Por esses motivos a venda livre de tais remédios é tão preocupante".

(RP)

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Atualizado em 10/10/2001

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