A Psicanálise no Brasil
   
 
Poema
Conflito e cultura
Freud na cultura brasileira
Cronologia

Fim do séc. XIX: efervescência científica
O que é a psicanálise
Maurício Knobel

Sonho, o despertar de um sonho
Fabio Herrmann
Freud e Jung: a cisão com o príncipe herdeiro
Ulisses Capozoli
Freud e Lacan
Marcia Szajnbok
Freud e Reich: duas matrizes
André Valente de Barros Barreto
A psicanálise no Brasil
Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho
Cartas freudianas
Mariza Corrêa
Psiquiatria psicanalítica
Sílvio Saidemberg
Do começo ao fim
Daniel Delouya
Psicanálise e arte
Giovanna Bartucci
Coincidência ou Freud explica?
Carlos Vogt

Pré-história do sonho
Yannick Ripa

Homenagem a Hélio Pellegrino
Miriam Chnaiderman

 

A Psicanálise, como sabemos, nasceu em Viena ao final do século XIX, a partir de um método absolutamente original de exploração da subjetividade humana. Sua criação é freqüentemente atribuída a um médico judeu, Sigmund Schlomo Freud, como um método terapêutico de tratamento das neuroses. Esta é, no entanto, uma visão reducionista, já que Freud era muito mais um cientista natural, na tradição de Darwin, ou um observador poético da natureza humana, na tradição de Shakespeare, do que um médico da alma: quando muito, poderíamos considerá-lo um "biólogo da alma" como Sulloway ( em Freud, Biologist of the Mind - Fontana Paperbacks, London).

Apesar de surgida num meio sócio-cultural específico, a Viena Fin de Siècle, a Psicanálise desde os seus primórdios causou grande impacto devido à sua ousadia em tentar compreender os mistérios da alma humana, através de um método de investigação que essencialmente, busca recriar seus conflitos básicos no interior de uma relação íntima continuada com o psicanalista. Por isso, ela adquiriu precocemente uma universalidade, expandindo-se não só por diversos campos do conhecimento, mas também na direção de outros meios culturais. Isto foi facilitado pela fundação em 1910 por Freud e Ferenczi da Associação Psicanalítica Internacional (IPA) a qual passou a organizar congressos internacionais a cada dois anos, editou várias revistas até a consolidação do International Journal of Psychoanalysis fundado em 1920 por Ernest Jones e disciplinou a formação psicanalítica que, a partir de 1920, passou a realizar-se segundo um modelo tripartite de análise pessoal, seminários e supervisões.

No Brasil, a Psicanálise aportou pelas mãos do psiquiatra baiano Juliano Moreira, fundador da moderna psiquiatria brasileira ao redor de 1912, secundado por outros pioneiros como Arthur Ramos, Júlio Porto-Carrero e Francisco Franco da Rocha o qual, em 1920, publicou um dos primeiros livros de divulgação da doutrina freudiana entre nós: O pan-sexualismo na doutrina de Freud. Junto com Durval Marcondes, ele fundou em 24/10/1927 a primeira sociedade psicanalítica da América Latina, a Sociedade Brasileira de Psicanálise (SBP), embrião do grupo que seria reconhecido pela IPA em 1951, sob a denominação de Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

O jovem Durval Marcondes, apesar de formado em medicina pela U.S.P., era mais um espírito humanista e esteta que, inclusive, participou da Semana de Arte Moderna em 1922 (é este aliás, o sentido do Simpósio e da Exposição Brasil: Psicanálise e Modernismo que está acontecendo no MASP em São Paulo desde de 6 de Outubro). Graças a seu entusiasmo, fundou em 1928 a Revista Brasileira de Psicanálise e aglutinou em torno de si um grupo eclético de interessados, que acabaram por conferir à SBPSP seu caráter pluralista, malgrado uma certa aura de ortodoxia que sempre rondou as sociedades ligadas à IPA mas que, felizmente, vem se dissipando atualmente.

Na década de 50 duas novas sociedades foram fundadas no Rio de Janeiro e no início dos anos 60 a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre, que recebeu forte influência da psicanálise argentina. Em São Paulo, a primeira analista didata, a Dra. Adelheid Koch de Berlim, iniciou suas atividades formativas em 1936, sendo responsável direta pela formação da primeira geração de psicanalistas paulistas. A partir de 1960 com a criação da COPAL (atual Federação Psicanalítica da América Latina) e depois da Associação Brasileira de Psicanálise (ABP) em 1967, a psicanálise brasileira foi se difundindo consistentemente, inclusive com a participação de grupos não-filiados à IPA.

Atualmente as sociedades filiadas à ABP espalham-se por São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Pelotas, Brasília, Ribeirão Preto e Mato Grosso do Sul, sendo nove os núcleos oficiais: Natal, Curitiba, Belo Horizonte, Marília, Maceió, Goiânia, Fortaleza e Campinas.

No início deste novo milênio, podemos dizer que a psicanálise está integrada de modo definitivo no âmbito científico e sócio-cultural do mundo ocidental, representando um instrumento poderoso não só em relação ao desvendamento dos mistérios da alma humana, mas também no eqüacionamento dos pungentes conflitos sociais da atualidade.

Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho - Membro da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e seu atual presidente.

   
           
     

Esta reportagem tem
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11
, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18 documentos
Bibliografia | Créditos

   
     
   
     

 

   
     

Atualizado em 10/10/2000

   
     

http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2000
SBPC/Labjor
Brasil