Entrevistas
Inbrapi quer usar propriedade
intelectual para compensar exploração histórica
Daniel Mundurukui
Projeto
levou conhecimento sobre direitos autorais a comunidades indígenas
Marlui Miranda
Para
líder indígena participação política
ainda é tímida
Uilton Tuxá
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Para
líder indígena participação política
ainda é tímida
Uilton Tuxá é membro da Comissão
Executiva da Articulação dos Povos e Organizações
Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
(Apoinme) e um dos apoiadores da mudança do Estatuto
do Índio, para Estatuto dos Povos Indígenas,
que garanta proteção dos direitos dos conhecimentos
intelectuais, direito à posse coletiva sobre as terras
indígenas e outros direitos, de forma que possam atender
à atual demanda dos povos indígenas. A etnia Tuxá
está localizada no Nordeste brasileiro, e em 1999, era
composta de 1630 pessoas, segundo dados do Instituto Socioambiental.
ComCiência - Como você
considera, no Brasil, a participação política
dos indígenas, como eleitores e candidatos?
Uilton Tuxá - A participação de
eleitores e principalmente de candidatos indígenas cresceu
nas últimas eleições, mas ainda continua
muito baixa para o nível que pretendemos alcançar.
Acreditamos que cerca de 70% dos indígenas no Brasil votaram
nas últimas eleições, outros 30% não
conseguiram pelo fato de não possuir os documentos necessários
e até mesmo pela dificuldade do acesso aos locais de votação,
implicando assim no entendimento sobre a importâcia que
tem as eleições para a sociedade brasileira.
ComCiência - Qual a importância
da participação do indígena na "política
oficial"?
Tuxá - Hoje, é consenso do movimento indígena
no Brasil o fato de que, se quisermos ter os nossos direitos garantidos
e respeitados diante do atual cenário político,
é de fundamental importância que estejamos ampliando
o número de parlamentares indígenas nas câmaras
municipais e prefeituras e estender esse pleito às assembléias
legislativas, câmara dos deputados e até ao senado
para que possamos defender em linha horizontal os nossos direitos
ameaçados pelos grupos de políticos antiindígenas
no congresso nacional.
ComCiência - Que benefícios
a eleição de indígenas trouxe para as comunidades
indígenas?
Tuxá - Na verdade não trouxe, pois até
as eleições de 2004 tínhamos apenas dois
prefeitos e 80 vereadores indígenas em todo o Brasil, e
não existia nenhuma articulação entre esses
parlamentares e com o movimento indígena por meio de suas
organizações. Após as últimas eleições,
em 2004, houve um pequeno aumento para quatro prefeitos e em torno
de 95 vereadores indígenas, e existe hoje uma expectativa
de se iniciar uma articulação sólida entre
as organizações que compõem o movimento indígena
e os parlamentares e lideranças indígenas, para
chamar a responsabilidade desses parlamentares no sentido de que
possam usar esses espaços em defesa dos direitos indígenas
e também para que possamos juntos discutir e definir estratégias
para o movimento indígena.
ComCiência - Os direitos do índio
como eleitor e cidadão não entram em choque com
a "tutela" prevista no chamado Estatuto do Índio
(Lei 6001/73)? Qual a posição da Apoinme quanto
à questão da tutela?
Tuxá - Do ponto de vista da Apoinme, considerando
a nossa realidade na região Leste/Nordeste achamos que
“tutela” é algo ultrapassado para nós,
pois lutamos em defesa dos nossos direitos constitucionais e do
protagonismo da nossa história, é claro que compreendemos
que existem alguns povos indígenas que precisam de uma
assistência especial por parte do governo do Estado brasileiro,
pelo fato de terem tanto contato com a sociedade não-indígena.
Por outro lado, é preciso rever de que forma se dará
essa proteção especial, caso mantenha-se o termo
“tutela” é preciso argumentar de forma mais
clara como irá acontecer na prática pois não
aceitamos que o governo venha nos dizer o que temos que fazer,
já sabemos de forma bem clara o que queremos do Estado
e da sociedade brasileira. Queremos apenas os nossos direitos
constitucionais garantidos e respeitados!
ComCiência - O que os movimentos
indígenas têm feito para a aprovação
do novo Estatuto das Sociedades Indígenas? Quais as principais
mudanças em relação ao Estatuto do Índio?
Tuxá - Não aceitamos a proposta de Estatuto
das Sociedades Indígenas, e, sim "Estatuto dos Povos
Indígenas". O movimento indígena através
de suas organizações têm compreendido juntamente
com as suas bases (comunidades) indígenas que o atual Estatuto
do Índio (Lei nº 6.001/73) está defasado, portanto,
é preciso que os povos indígenas façam algumas
alterações que julguem importantes como por exemplo:
proteção dos direitos dos conhecimentos intelectuais,
direito à posse coletiva sobre as terras indígenas
e, pelo menos, à parte das riquezas do subsolo, adequação
dos sistemas de educação e saúde de forma
que possam atender à atual demanda dos povos indígenas,
definir modelos de sistemas de proteção e gestão
territorial sustentável etc.
ComCiência - Um dos novos desafios
que os povos indígenas têm enfrentado está
relacionado ao direito de propriedade intelectual do conhecimento.
Nesse sentido a Constituição ou o Estatuto atual
preveêm alguma proteção? Como as comunidades
indígenas têm enfrentado na prática esse problema?
Tuxá - Certamente é mais um grande desafio,
e compreendemos que se faz necessário tornar mais claro
no Estatuto dos Povos Indígenas. Para tanto, o movimento
indígena está articulando uma revisão dos
povos indígenas no Brasil nas propostas de Estatuto que
tramitam pelo Congresso. Essa revisão será realizada
em três oficinas regionais Leste/Nordeste, Sul/Sudeste e
Norte/Centro-Oeste e finalizando com uma oficina nacional para
que possamos tirar uma única proposta dos povos indígenas
no Brasil a ser apresentada ao Congresso.
ComCiência - Qual a importância
da criação do "Parlamento Indígena"?
Qual o nível de articulação das sociedades
indígenas atualmente para que o projeto de Parlamento
seja efetivado?
Tuxá - O único e exclusivo objetivo da
criação do Parlamento é o fortalecimento
do movimento, pois no Parlamento estariam contemplados organizações,
lideranças e parlamentares indígenas. Esta instância
de articulação teria um caráter interministerial
e estaria lutando permanentemente em defesa dos direitos dos povos
indígenas no Brasil.
ComCiência: Por que ainda
não existem partidos indígenas no Brasil, já
que eles estão presentes na maioria dos países
da América Latina?
Tuxá - Pelo fato de ainda não se ter uma
idéia amadurecida. A idéia da viabilidade de um
partido já seria uma importante contribuição
para o fortalecimonte do movimento indígena no Brasil,
mas ainda não está suficientemente clara.
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