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Para agricultores, transgênicos ameaçam biodiversidade

Tecnologia polêmica, os transgênicos foram alvo de críticas tanto no Fórum Social Mundial de 2001 quanto no de 2002. Com forte representação de entidades de trabalhadores rurais como o Movimento Sem Terra (MST), a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (Contag) e a Via Campesina, a primeira edição foi marcada pela denúncia de que, na verdade, os transgênicos fazem parte de uma estratégia das multinacionais para monopolizarem a venda de sementes. O argumento é que, devido a inevitáveis interações entre variedades de sementes transgênicas patenteadas e as sementes tradicionais, estas acabariam desaparecendo. Assim, os agricultores acabariam sendo obrigados a pagar aos detentores das sementes pelo direito de plantá-las.

Hugh Lacey afirma que o uso universal dos trangênicos é defendido baseado em seis pemissas disctíveis:

  • A tecnologia informada pelo conhecimento científico moderno fornece a chave única para resolver os maiores problemas do mundo
  • O desenvolvimento dos trangênicos é informado pela biotecnologia e assim, de maneira exemplar, por conhecimentos científicos modernos
  • Tal conhecimento pode ser aplicado, em princípio, de maneira justa para servir aos interesses e melhorar as práticas de grupos representativos de uma ampla variedade de perspectivas
  • O uso de transgênicos oferece enormes benefícios para a agricultura atual, os quais serão expandidos com desenvolvimentos futuros
  • As culturas transgênicas não causam riscos previsíveis à saúde humana ou ao meio ambiente que não possam ser contidos sob regulamentos responsáveis
  • O uso muito amplo de transgênicos é necessário para assegurar que as populações mundiais, nas próximas décadas, possam ser alimentadas adequadamente. Não há outra maneira de assegurar essa produção futura.

Neste ano, além desses pontos, com a ampliação do debate, houve também a preocupação em diagnosticar os argumentos utilizados por aqueles que são favoráveis aos transgênicos como estratégia de combate. Segundo Hugh Lacey, esse discurso gira em torno de seis premissas que pretendem demonstrar o valor universal dos transgênicos. A principal delas afirma que os transgênicos são a única maneira para se assegurar a produção necessária de alimentos dadas as estimativas de crescimento populacional. As outras (veja quadro), giram em torno da ausência de riscos à saúde e à biodiversidade, e da idéia de que o conhecimento científico moderno é o único meio de resolver os problemas do mundo.

Segundo ele, "apenas quando desafiamos os valores universais dos trangênicos podemos perceber as alternativas". Lacey enfatizou, no campo da agricultura, as soluções agroecológicas, uma alternativa que requer pouca tecnologia e pode ser utilizada em larga escala, sem riscos ambientais. Ele citou um texto publicado na revista Nature de 17 de agosto de 2000, com o título "Genetic diversity and disease control in rice [Diversidade genética e controle de doenças em arroz]", que corrobora essas informações com base em pesquisas em plantações de arroz na China.

Jean Pierre Berlan também enfatizou a busca de alternativas aos transgênicos. Ele cobrou uma atenção maior para o conhecimento que é produzido no campo e não só ao conhecimento do laboratório. "A genética não será capaz de resolver todos os problemas, a agricultura é feita em interação com o solo e com o ambiente", alertou. A verdadeira modernidade estaria na interação entre o conhecimento do campo e do laboratório.

Jean Pierre Berlan - Verdadeira modernidade está na interação entre o campo e o laboratório

Para Berlan, as grandes corporações insistem em soluções transgênicas porque, em última instância, estariam interessadas em impedir a reprodução natural dos seres vivos, aumentando o mercado consumidor de sementes. "O produtor de sementes deve proibir, de alguma forma, que o camponês semeie a semente recolhida; essa é a condição básica da existência econômica do produtor", afirmou. "Numa sociedade capitalista a natureza está errada". Para ele, os transgênicos são uma tecnologia "perigosa, arriscada e que não traz nada do ponto de vista do interesse público".

Wilson Campos, agricultor da fronteira entre a Costa Rica e a Nicarágua, representante da Via Campesina, ligou o uso de sementes transgênicas à uniformidade genética e defendeu a biodiversidade. Segundo ele, enquanto esteve na mão de camponeses por todo o mundo, a biodiversidade sobreviveu. Campos fez uma denúncia grave de que, quando ocorreu a última tragédia climática em sua região, os Estados Unidos ofereceram crédito aos produtores mas o condicionaram ao uso de sementes transgênicas registradas. O agricultor disse não se posicionar contra o avanço científico e que, pelo contrário, deseja é que ele seja mais amplo, não direcionado apenas à genética.

Lacey alertou que não há pesquisas suficientes que garantam a segurança dos transgênicos. "A realização das pesquisas sobre os riscos vem sendo controlada", afirmou. Para Berlan, o que está havendo é que, hoje, "as futuras fomes estão sendo preparadas enquanto se finge evitá-las".


 

Atualizado em 03/03/2002

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