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A luta pelo software e pela informação livre
 

A luta pelo software e pela informação livre

Muito teóricos afirmam que a explosão da informática e das novas tecnologias de comunicação que tem o computador como suporte foi um dos fatores que possibilitou a acentuação do processo de globalização. O campo da informática e das telecomunicações é, hoje, controlado ou por monopólios - como é o caso da indústria de software - ou por cartéis - como as empresas de comunicação e de telefonia. Essas empresas têm enfatizado junto aos governos nacionais um dura campanha contra a pirataria de seus produtos - softwares e obras artísticas -, que são regulados por leis de direitos autorais.

Marcos Dantas, da Coppe/UFRJ - "Pirataria é democratização da informação"

Marcos Dantas, pesquisador da Coppe/UFRJ, durante o seminário "Tecnologia, ecologia e capitalismo", lembrou das campanhas promovidas pelas grandes gravadoras contra o Napster e contra os CDs piratas. Ele afirmou que a pirataria só se tornou viável porque o valor dos objetos foi deslocado de seu suporte material para a informação que ele contém. Devido aos altos preços cobrados por essas informações, a pirataria teria se tornado um meio de socialização e de acesso democrático à informação. Dantas afirmou que, através do atual sistema de propriedade intelectual, o capital tornou-se o dono do trabalho informacional, do trabalho que gerou aquelas informações, em detrimento de seus verdadeiros autores. Para ele, é preciso criar uma teoria que possa legitimar a pirataria.

Na conferência "Saber, direitos de reprodução e patentes", Richard Stallman enfatizou a alternativa do software livre ao invés da pirataria na área de informática. Ele contou como o ambiente vivido nos anos 60 e 70, quando os programadores podiam trocar e copiar seus softwares livremente como se fossem receitas culinárias, se transformou radicalmente nos anos 80, quando o software se tornou proprietário. A partir desse momento os programas passaram a pertencer às empresas, que controlam os direitos de reprodução e alteração no código-fonte - a "receita" - dos softwares.

Richard Stallman - "Rejeitem o Windows, usem sistemas livres". Foto: Carlos Cruz, Ciranda Internacional da Informação Independente

Por não se conformar com a impossibilidade de continuar compartilhando seus softwares com seus amigos, Stallman passou a trabalhar em um novo sistema operacional para os computadores, um sistema que tivesse seu código aberto e que pudesse ser modificado e copiado por qualquer um. "Parto do princípio de que, se eu não puder compartilhar o meu software com você, eu não o quero." O novo sistema operacional, o GNU, deu origem ao movimento de software livre, que une programadores espalhados pelo mundo todo e que é a base sobre a qual funciona o Linux.

Stallman denunciou que, nos Estados Unidos, o desenvolvimento de software livre está sofrendo ameaças de proibição. "E os Estados Unidos estão tentando impor suas leis para o restante do mundo", afirmou. Como exemplo disso, Stallman lembrou da prisão do garoto norueguês Jon Johansen (veja reportagem da Com Ciência), por ter conseguido violar o código de proteção dos DVDs para que eles funcionassem em computadores com GNU/Linux. "Os Estados Unidos adotam o Digital Millenium Copyright Act (DMCA), uma lei que proíbe o acesso a dados codifiados".

Geralmente os softwares são protegidos por leis de direitos autorais, que impedem a cópia e a utilização dos programas sem a autorização dos detentores dos direitos. No entanto, há iniciativas para que essa proteção possa ocorrer também sob a forma de patentes. "As patentes servem para proteger idéias e vêm sendo usadas para proteger programas", declarou Stallman. A justificativa seria a promoção do progresso científico mas, segundo ele, há pesquisas econômicas que comprovam que as patentes, na verdade, dificultam o desenvolvimento. Uma das críticas dos desenvolvedores de software é que as patentes podem dificultar a inter-operabilidade dos programas, prejudicando principalmente as pequenas empresas.

"Não deixem que os advogados de patentes vençam, desafiem-os, digam que estão errados em suas premissas", conclamou Stallman a um auditório lotado. Ele lembrou a discussão que vêm ocorrendo na Europa sobre a aplicação de patentes para software. Segundo ele, os Estados Unidos vão tentar impor essas leis para a Europa e a América do Sul. "Se vocês quiserem desenvolver software na América do Sul sem serem restringidos por companhias de americanas, tem que rejeitar as leis de patente", disse ele.

Stallman finalizou seu depoimento pedindo a rejeição do software proprietário e a adoção de sistemas livres. "Rejeitem o Windows, usem sistemas livres".


 

Atualizado em 03/03/2002

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