Informatização
nas escolas ainda é pequena
Reportagem: Rodrigo Cunha Edição: Simone Pallone
Apesar
de a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
em vigor desde 1996, já preconizar a necessidade da "alfabetização
digital" em todos os níveis de ensino, do fundamental
ao superior, o censo escolar do Ministério da Educação
(MEC), realizado em 1999, revelou que apenas 3,5% das escolas de
ensino básico tinham, naquele ano, acesso à Internet,
e cerca de 64 mil escolas do país não tinham sequer
energia elétrica. Nos últimos anos, esse quadro está
mudando, com iniciativas governamentais a nível federal,
estadual e municipal, além de apoios privados e do terceiro
setor, mas a exclusão digital nas escolas brasileiras ainda
é grande.
Embora
os índices de informatização nas escolas tenham
aumentado consideravelmente de 1999 para 2001 (último ano
com dados globais levantados pelo MEC), a pesquisadora Neide de
Aquino Noffs, da Faculdade de Educação da PUC-SP diz
que a inclusão digital nas escolas da rede pública
ainda não é uma realidade. "O laboratório
de informática existe, mas não é usado com
freqüência. Não é uma atividade rotineira
para os alunos; não é como a biblioteca, que fica
aberta o tempo todo", afirma Noffs.
Segundo
ela, para se falar em inclusão digital na educação,
não basta instalar computadores em escolas públicas.
É preciso capacitar o professor para que ele transforme a
sua aula utilizando a ferramenta digital. Além disso, seria
preciso manter o laboratório de informática permanentemente
aberto, com um profissional que o assumisse e ficasse responsável
pela alfabetização digital. "Primeiro, é
preciso quebrar a barreira do acesso. Depois, é preciso manter
esse acesso", completa.
Para
Graciela Selaimen e Paulo Lima, da Rede
de Informações para o Terceiro Setor, é
fundamental a instalação de laboratórios de
informática com acesso à Internet nas escolas públicas,
com uma estratégia de uso público fora dos horários
das aulas, mas sem perder de vista uma perspectiva futura. "Projetos
em infoinclusão não devem ser pensados como pacotes
prontos de soluções tecnológicas para comunidades
economicamente desfavorecidas, mas sim como iniciativas estratégicas
para a promoção da inclusão social - e não
apenas digital", afirmam.
A pedagoga
e coordenadora do Aulas Unidas, um projeto de intercâmbio
virtual entre escolas realizado pela organização EducaRede,
concorda que a Internet pode constituir uma ferramenta didática
a mais. Segundo ela, porém, a qualidade do resultado depende
de como isso é feito. "Se o objetivo é colher
as informações para criar novos conhecimentos, é
preciso que o aluno tenha competência e habilidade para analisar
e sintetizar as informações, e não simplesmente
fazer um 'recorte e cole' das consultas feitas", defende.
De
acordo com o MEC, apesar de o número de computadores instalados
nas escolas até 2002 ter ficado abaixo das metas estabelecidas
pelo governo anterior, a capacitação de professores
superou as expectativas. Essa também tem sido uma preocupação
nas iniciativas de estados e municípios. Em Recife, por exemplo,
existe um programa municipal de formação continuada
de professores para trabalhar nas 70 escolas que possuem laboratórios
de informática. A Secretaria de Educação da
capital pernambucana também fez uma parceria com uma associação
francesa para inclusão digital de crianças em idade
de alfabetização, através de correspondência
com estudantes de outros países. E a Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais, que lançou
no dia 7 de julho o Projeto de Inclusão Digital do estado,
estabeleceu parcerias com a Empresa de Infovias, provedor de acesso
à Internet do governo estadual, e com empresas da iniciativa
privada, como a First International Computer (Fic) do Brasil, com
o objetivo de atender cinco mil escolas em 150 cidades mineiras,
sem custo algum para o governo.
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