A
constituição de uma incubadora
Segundo
Maria de Fátima Ocani Rosa, no artigo "Incubadora de
Empresas de base tecnológica: a difícil tarefa de
gerenciar", uma incubadora de empresas de base tecnológica
pode ser constituída de várias maneiras: através
de uma fundação; de uma empresa; ou como objetivo
de um convênio estabelecido entre instituições.
Uma
boa orientação parece ser começar pequeno,
unindo esforços entre os atores principais, sendo indispensável
a presença de uma instituição acadêmica
ou centro de pesquisa como expressão da vertente tecnológica.
Por outro lado, é importante que participem do processo as
instituições de apoio às pequenas empresas
e também a federação de indústrias,
respondendo pela vertente empresarial. E, finalmente, as instituições
que poderão apoiar a instalação física
do empreendimento, como prefeituras ou secretarias estaduais.
Após
a escolha dos parceiros, o próximo passo é a definição
da própria incubadora: qual será a sua missão
e os compromissos de cada instituição.
Roberto
Spolidoro e Helena Fisher, autores do artigo "Incubadoras de
empresas e processos inovadores de desenvolvimento regional",
apresentado na Conferência Mundial de Incubadoras de Empresas
(WCBI Rio 2001) acreditam que a adoção de premissas
erradas pode ser fatal. Para eles, uma incubadora de empresas deve
ser regida por "premissas geradas sob a égide da sociedade
do conhecimento - na qual a competitividade passa a depender mais
da educação do povo e de sua capacidade de gerar conhecimentos
e inovações do que de vantagens comparativas clássicas
- recursos naturais disponíveis e mão-de-obra barata".
Spolidoro destaca que é "alarmante o número de
projetos que, por não disporem de premissas adequadas para
reger a sua concepção e implantação,
acabam por provocar desastres".
É
indispensável também que os representantes das instituições
sejam claros em relação aos recursos que de fato serão
aportados na incubadora, identificando os que são reembolsáveis
e aqueles que não o são, como forma de se evitarem
mal-entendidos futuros. O financiamento às empresas de base
tecnológica é um dos aspectos problemáticos
neste tipo de empreendimento, conforme afirma o doutor em política
científica e tecnológica Erasmo José Gomes,
em sua tese de doutorado intitulada A relação universidade-empresa
no Brasil: testando hipóteses a partir do caso da Unicamp.
Embora exista, às vezes, um instrumento financeiro dirigido
às empresas de base tecnológica, a necessidade de
oferecer garantias reais (bens) em contrapartida a empréstimos
tem tornado tal linha de crédito pouco operacional. A injeção
de recursos não reembolsáveis, a exemplo do que a
Finep acaba de acordar com a Anprotec, pode ser uma saída
para o problema.
Por
outro lado, este tipo de auxílio exige estudos de viabilidade
econômica e de retorno real em termos de bens e serviços
para a sociedade. Em sua dissertação de mestrado O
papel das incubadoras de empresas na superação das
principais dificuldades das pequenas empresas de base tecnológica,
Marcelo Verly de Lemos lembra que, em 1996, o Ministério
da Ciência e Tecnologia implantou o Projeto Alfa com o objetivo
de estimular a inovação tecnológica nas micro
e pequenas empresas. O Projeto Alfa foi inspirado na experiência
de 19 anos do "Small Business Administration" (SBA) dos
Estados Unidos no qual são alocados cerca de US$ 900 milhões
anuais para o apoio às micro e pequenas empresas. A Inglaterra,
também inspirada no SBIR, criou em 1986 o "Small Firms
Merit Award for Research and Technology Program" (SMART).
O Projeto
Alfa disponibiliza recursos não reembolsáveis, a serem
aplicados em forma de prêmios, para a realização
de estudos de viabilidade técnica e econômica de inovações
tecnológicas de produtos de micro e pequenas indústrias.
Os recursos, a serem custeados pelo Ministério, serão
da ordem de 1/3 do montante global da proposta, que deve conter
os custos de implementação do projeto no estado incluindo
os prêmios, gastos com divulgação e impressão
de material. O Projeto está sendo colocado em prática
em parceria com as fundações estaduais de amparo à
pesquisa e o Sebrae.
Segundo
Elenir dos Santos da Silva, coordenadora do Projeto Alfa/Paraná,
da Paraná Tecnologia, o projeto foi implantado em 1996, primeiramente
no Rio Grande do Sul. Outros estados já utilizam recursos
do projeto Alfa. São eles o Rio de Janeiro, o Distrito Federal,
o Pernambuco e a partir deste ano, o Paraná.
Ela
conta que 33 empresas enviaram propostas para se beneficiarem dos
recursos. No Paraná, além do estudo técnico
de viabilidade econômica (ETVE), as empresas serão
beneficiadas com estudos de estratégias financeira, de mercado
e de negócios. A expectativa era de apoiar 28 empresas, mas
apenas 14 foram selecionadas.
Os
recursos são de R$ 10 mil para cada empresa, que colaboram
com uma contrapartida de 10%, para serem pagos em três vezes.
Segundo Silva, com esse sistema, a Paraná Tecnologia espera
garantir maior comprometimento das empresas em relação
ao programa. Outra particularidade do Projeto Alfa no Paraná
é que a consultoria é tratada pela Paraná Tecnologia
e não individualmente, como nos demais estados. As empresas
de consultoria são credenciadas ao Sebrae que por sua vez
é um parceiro no Projeto, bem como a Secretaria de Estado
de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e a Secretaria
de Estado da Indústria, Comercio e Turismo (Seit), além
do Ministério de Ciência e Tecnologia.
Em
relação aos resultados já demonstrados nos
outros anos em outros estados, Silva afirma que esses têm
sido bastante representativos, tanto para reduzir o índice
de mortalidade das pequenas e micro empresas, como para saber se
aquele empreendimento merece mesmo receber o aporte financeiro dos
investidores. Nesse caso, conforme aponta Silva, a vantagem das
empresas incubadas é que elas recebem auxílio para
elaborar as propostas.
Um ponto de extrema relevância apontado por Maria de Fátima
Ocani Rosa é o que trata do perfil dos candidatos. Itens
como formação acadêmica, referências de
docentes, interação com universidades e centros de
pesquisa, devem-se constituir em instrumentos de aferição
deste tipo de competência. Capacidade criativa e otimismo
são também características fundamentais para
o empreendedor, o que vai auxiliá-lo a vencer os obstáculos
que poderão surgir. Na abertura da Conferência Mundial
de Incubadoras de Empresas realizada em outubro, no Rio de Janeiro,
o sociólogo italiano Domenico De Masi enfatizou que otimismo
é a característica primordial para um empreendedor.
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