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Oceano a desvendar
Recursos econômicos
Projeto Revizee
O caso dos Corais
Trabalhando com Bio

Entrevista a
Sérgio Bonecker

Entrevista a Marcelo Medeiros

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Vista parcial da Ilha de Santa Barbara e da ilha Redonda (ao fundo) no Arquipélago de Abrolhos. Foto: Karla Yotoko.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Casal de Atobas brancos (Sula dactylatra) escolhendo o local do ninho, que corresponde a uma circunferência rodeada por pedras. Esta circunferência passa a ser uma espécie de território inviolável, defendido por ambos, principalmente quando estão chocando os ovos ou cuidando do(s) filhote(s). Foto: Karla Yotoko.

 

O Caso dos Corais

O Prof. Dr. Clovis Barreira e Castro conversou com a Revista ComCiência sobre seus estudos com corais dentro do Projeto Revizee e a problemática envolvida com a conservação de biodiversidade dos ambientes de recifes de coral. A respeito da conservação de biodiversidade, seja ela terrestre ou aquática, é preciso ter em mente que cada espécie tem seus próprios requisitos e especificidades. Uma área de mata definida como reserva para uma espécie de primata pode não ser eficiente para conservar felinos. Freqüentemente ambientalistas e ecólogos debatem quais são as melhores políticas para se desenhar áreas de conservação adequadas para cada espécie-alvo.

Porém o grande problema é que, com o ritmo atual de crescimento das populações humanas e de atividades econômicas predatórias, biomas inteiros estão desaparecendo. Os profissionais de conservação da atualidade têm se perguntado qual é a melhor maneira de desenhar áreas que conservem trechos representativos do bioma ou ecossistema em questão. É aí que começa a confusão. Biomas são formados por inúmeras espécies vivas. Quais delas escolher como indicadores de saúde da área estudada? Vegetais? Mamíferos? Insetos? Ou antes: quais espécies devemos incluir como típicas de um dado ecossistema? Existem critérios para isso? Infelizmente as respostas para estas perguntas não são simples e depende do caso.

No Brasil um ecossistema muito frágil, porém rico em biodiversidade e ainda pouco conhecido, é o dos recifes de coral. Corais são organismos agregadores, pois quando crescem formando suas colônias, acabam servindo de abrigo para vários outros organismos diferentes. Uma área de tamanho razoável de recifes de coral pode conter centenas ou milhares de outras espécies marinhas que ali buscam comida, abrigo para si ou para seus ovos e filhotes e também proteção contra as correntes marítimas e contra predadores. Estes organismos que vivem nos recifes de coral por sua vez, alimentam organismos maiores, como peixes.

A costa brasileira, vista na sua totalidade, possui diversas formações rochosas - de norte a sul - ricas em corais que merecem atenção de estudo. O Arquipélago de Abrolhos talvez seja o mais famoso deles. Existem outros também muito importantes, como o Parcel do Manoel Luís e o Atol das Rocas, na região norte do país. Porém, o Brasil ainda não instituiu áreas de conservação em formações importantes, gerando lacunas no sistema. Nas palavras do professor Clovis, "o Brasil tem já várias unidades de conservação, mas existem de fato algumas lacunas de distância. As principais áreas onde não existem unidades que protejam esses antozoários recifais seriam entre o Parcel do Manoel Luis e o Atol das Rocas, que são mais de mil kilômetros de distância. Isso fica na região norte do litoral: Rio Grande do Norte, Maranhão e Ceará. A outra lacuna que eu acho até mais importante, porque é uma área mais rica (em corais), é entre Alagoas e Porto Seguro. Tem ali uns 700 ou 800 km de costa sem unidades de conservação marinha que protejam ambientes recifais, que são reconhecidos como de alta diversidade".

A importância de conservar estas formações rochosas e coralíneas da destruição pela atividade econômica tem a ver tanto com a forma como os corais se reproduzem quanto com as espécies que ocorrem em cada um destes locais. Os recifes e colônias de corais que tipicamente vemos agarrados às pedras no fundo do mar são são corais adultos, já maduros. Porém, para se reproduzirem, estes corais lançam seus óvulos e espermatozóides na água, em grandes quantidades. A fecundação ocorre na água. Alguns corais podem lançar na água já os ovos fecundados. Desta sopa de óvulos, esperma e ovos resultam as larvas, que podem ficar boiando como formas planctônicas durante um bom tempo, dependendo da espécie de coral. Quando surgem condições adequadas, estas larvas se fixam à rocha e formam uma colônia adulta.

A moral da história é a seguinte: através desta forma de reprodução, os corais conseguem cruzar uns com os outros, mesmo se suas formas adultas estiverem a centenas de kilômetros de distância entre si. Ou ainda, filhotes vão se fixar e crescer muito longe dos pais, pois ficaram boiando muito tempo ao sabor das correntes, antes de se fixarem nas rochas. Nos planos de conservação marítimos os parques são fundados com base nas ocorrências de formas adultas de corais. Mas isso não é o bastante. É preciso manter uma certa proximidade entre as regiões de recifes de corais, para que eles cruzem entre si e assim renovem os estoques de formas adultas. " Na Austrália, que é onde há o maior número de estudos de recifes de coral, chegou-se à conclusão de que a maior parte das larvas geradas nos recifes tende a se dispersar. Por isso a necessidade de se criar um sistema de áreas de conservação e não somente parque isolados. Daí o problema das lacunas gigantescas de áreas de conservação prejudicarem a conservação dos ambientes como um todo", explica Clovis.

O segundo motivo é relativo às espécies que ocorrem em cada um destes locais. Freqüentemente na natureza as espécies animais ocorrem em áreas restritas. Isso se deve ao fato de que os requerimentos ambientais de cada espécie são muito estreitos. Poucas espécies animais conseguem se adaptar a condições ambientais muito variadas. No mar isso é ainda mais acentuado, pois as condições, principalmente de salinidade e temperatura, são determinantes fortes da ocorrência ou não de espécies animais. Isso equivale a dizer que o Parcel do Manoel Luís abriga espécies que só existem lá e em poucos outros lugares. Este fenômeno é conhecido como endemismo. Uma localidade com alto grau de endemismo signfica que possui muitas espécies que só ocorrem ali. Por isso é prioridade de conservação.

Tudo isso diz respeito às áreas que ainda não são de conservação. Porém, não basta decretar que uma área é um parque nacional. É preciso fiscalizar as áreas de parques contra o turismo predatório e a exploração econômica clandestina. "A região de Abrolhos está inteiramente protegida por duas unidades de conservação. O Parque Nacional de Abrolhos, em que existe uma sede e alguma fiscalização pelo menos em uma das duas áreas (que são descontínuas). E há a Área de Proteção Ambiental (APA) da Ponta da Baleia, que é estadual. Mas essa não foi implementada até hoje. Se essas duas áreas de proteção funcionassem bem, todo o sistema do complexo recifal de Abrolhos estaria protegido. De uma forma mais restritiva no Parque Nacional e de uma forma menos restritiva na APA, mas estaria protegido. Na questão de Abrolhos acho que falta então implementar as unidades de forma mais adequada do que hoje. Uma delas, que é o Parque, tem problemas sérios de fiscalização e a outra só existe no papel", conclui Clovis.

Saiba mais sobre o trabalho de coleta e acondicionamento de organismos vivos...

Veja também a entrevista com o professor Sérgio Luiz Costa Bonecker, coordenador da parte de oceanografia biológica do Revizee.

 



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Bibliografia / Créditos

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Campinas, Brasil