Português e Esperanto-Inglês: Carlos Vogt
Novas práticas melhoram ensino da língua escrita
A História do Português Brasileiro
Lei proíbe uso de estrangeirismos
A língua na TV
Línguas são assunto de Estado
Os empréstimos no léxico do futebol
A origem e o destino das línguas
A globalização da língua:
Aldo Rebelo
A polêmica sobre os "estrangeirismos" e o papel dos ligüistas:
Kanavillil Rajagopalan
Línguas Crioulas:
Hildo Honório do Couto
Norma e prescrição lingüística:
Maria Helena de Moura Neves
A originalidade das línguas indígenas no Brasil:
Aryon D. Rodrigues
Os estudos sobre linguagem: uma história das idéias:
Eduardo Guimarães
A lingüística no Brasil:
Paulino Vandresen
Inteligência, linguagem e mente humana:
Ulisses Capozoli
Desenvolvimento da linguagem e processo de subjetivação:
Cláudia Lemos
Atlas Lingüístico do Brasil:
Suzana Cardoso e Jacyra Mota
Jornalismo e questões de linguagem:
Graziela Kronka
Poema
Bibliografia
Créditos

 

 

Línguas são assunto de Estado

Diferentes nações escolhem diferentes soluções para o problema da penetração do idioma estrangeiro, dependendo, entre outras coisas, da realidade social do país. Mas, em todas elas, a linguagem é tratada como questão de Estado. As nações procuram normatizar e regular os idiomas que utilizam, visando o processo de identidade nacional.

A França, por exemplo, possui, alem do francês, algumas outras línguas minoritárias faladas pela população, como o bretão, o catalão e o basco. Além disso, possui várias possessões ultramarinas em todos os continentes (incluindo a Guiana Francesa), com suas especificidades lingüísticas. A inserção dentro da União Européia, que tem regulamentos específicos quanto a línguas regionais (expressas na Carta Européia para Línguas Regionais ou Miniritárias), introduziu um novo elemento na problemática.

Há, na França, várias organizações dedicadas à língua francesa - incluindo à sua defesa contra os "estrangeirismos" - como a Délégation générale à la langue française. A legislação sobre o idioma francês é bastante detalhada. A defesa da língua baseia-se na lei Toubon, de 1994. Essa lei estende o campo de aplicação da lei anterior, de 1975. Segundo a lei atual, o emprego do francês é obrigatório na designação, apresentação e publicidade de bens, produtos e serviços, com exceções para as denominações de produtos típicos de países estrangeiros que sejam vastamente conhecidos. A lei permite traduções em línguas estrangeiras desses textos, desde que com a presença da versão em francês. Essas regras não se aplicam a razões sociais, marcas de fábrica, de comércio e de serviços. Tudo isso vale também para o caso da difusão por televisão ou rádio.

A lei Toubon afirma o caráter obrigatório do ensino em francês e de seu emprego em exames, concursos, teses e memórias, em estabelecimentos públicos e privados. A lei também obriga que, em congressos, palestras, etc., seja garantido a todo participante francófono poder se exprimir em francês. Além disso, devem existir versões francesas dos documentos da apresentação do programa do evento, e os documentos distribuídos aos participantes e ao público após o evento devem possuir pelo menos um resumo em francês.

O spanglish

Nos Estados Unidos, além do inglês, o espanhol é amplamente falado, em decorrência da forte presença de imigrantes hispano-americanos. A presença da língua espanhola nos EUA também se deve à anexação de territórios mexicanos durante o século XIX - o tratado de Guadalupe Hidalgo, de 1848, deu aos EUA quase dois terços do território original do México, incluindo estados norte-americanos como a Califórnia.

O tratamento do tema nos EUA é bem mais flexível que na França. A Constituição norte-americana, por exemplo, não estabelece o inglês como língua oficial, ao contrário do que acontece com o país europeu. Isso não impede que haja tentativas de adotar leis restritivas - como a proposição 227 na Califórnia, que, se aprovada, obrigará todas as escolas daquele estado a ministrarem as aulas em inglês. A Califórnia é um dos estados norte-americanos com maior presença de hispânicos.

O espanhol é hoje a segunda língua mais falada nos EUA. Segundo o mexicano Ian Stavans, doutor em língua e cultura pela universidade de Columbia (EUA), hoje há mais estações de rádio em espanhol na Califórnia do que em toda a América Central (em entrevista para os Cuadernos Cervantes). Dois canais de televisão, Univisión e Telemundo, transmitem programas em espanhol o dia inteiro. A mistura entre inglês e espanhol atingiu tal nível que já se cunhou um novo termo para descrevê-la: o spanglish.

Stavans ministra um curso sobre spanglish na universidade de Amherst. Recentemente foi publicado o primeiro dicionário de spanglish, organizado por ele. Trata-se, segundo o autor, da "primeira tentativa de fixar, em todos os detalhes, as vozes do spanglish".

O fenômeno do spanglish não ocorre só nos Estados Unidos: aparece também em alguns países latino-americanos, como o México e países do Caribe. Na Venezuela, por exemplo, diz Stavans, usa-se a palavra wachiman (do inglês watchman) para "vigilante"; no México, diz-se parquear (do inglês to park) para estacionar o carro; na própria Espanha, a pílula
anticoncepcional é chamada antibaby. Há grandes diferenças entre as versões de cada país, bem como entre as versões urbana e rural. Também ocorrem muitas variações ao longo do tempo. O curso e o dicionário de Stavans tentam amostrar essa variedade. No dicionário, constam referências desde o tratado de 1848.

A aceitação do spanglish nos EUA e fora dele vem crescendo nos últimos anos, mas sua aceitação está longe de ser unânime. Sendo um fenômeno internacional, o debate transcende as fronteiras norte-americanas. O mexicano Carlos Monsiváis, prêmio nacional de jornalismo em 1978, em entrevista para a revista mexicana de cultura Lateral, afirma não crer que o spanglish venha a evoluir para uma nova língua no México. Monsiváis critica a forma mecânica "ou mesmo idólatra" com a qual se tem adotado o spanglish no seu país.

Victor Garcia de la Concha, diretor da Real Academia Espanhola, é mais radical. Em entrevista para o jornal espanhol Clarín, ele classifica o spanglish como "um disparate grande como uma catedral" e "um produto de marketing". Já Juan Luis Cebrian, fundador do jornal espanhol El País e também membro da Real Academia Espanhola, admite a possibilidade do spanglish tornar-se um novo idioma. Cebrian disse, para a revista da Associação para a Difusão do Espanhol e da Cultura Hispânica, que é partidário da incorporação do spanglish ao espanhol. Do contrário, afirma, o spanglish se transformará em uma nova língua e "perderemos nossa presença na comunidade hispânica dos Estados Unidos".

 

Atualizado em 10/08/2001

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