Reportagens






Editorial:
O petróleo é nosso
Carlos Vogt
Reportagens:
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O petróleo e a agressão ao meio ambiente
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As mil e uma utilidades de um líquido negro que vale ouro
Artigos:
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André Tosi Furtado
A base legal do novo setor de petróleo no Brasil
Natália A. M. Fernandes Vianna
Abertura e política de preços no setor de petróleo
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Petróleo: por que os preços sobem (e descem)?
Adilson de Oliveira
O combustível automotivo no Brasil
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O fim do petróleo e outros mitos
Newton Müller Pereira
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Saul B. Suslick
A indústria petroquímica brasileira
Saul Gonçalves d'Ávila
CT-Petro: novo instrumento de política no setor petrolífero nacional
Adriana Gomes de Freitas
Poema:
Hercúleo
Carlos Vogt
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As mil e uma utilidades de um líquido negro que vale ouro

Todo final de dezembro, muitas casas estão recheadas de brinquedos embaixo de uma árvore de natal, de garrafas de refrigerantes nas geladeiras e de velas entre os arranjos de frutas sobre a mesa. Ao consumir esses produtos, pouca gente imagina que a parafina da vela e o plástico das garrafas e dos brinquedos se originam do ouro negro extraído da terra e de águas profundas: o petróleo. Além de literalmente mover a economia, baseada em grande parte pelo transporte rodoviário de mercadorias, através de seus derivados combustíveis, o petróleo é a fonte inicial de matéria-prima para toda uma cadeia produtiva que envolve indústrias dos mais diversos setores.

O petróleo é um recurso mineral formado por uma grande mistura de compostos. A partir do seu refino, são extraídos diversos produtos, como gasolina, diesel, querosene, gás de cozinha, óleo combustível e lubrificante, parafina e compostos químicos que são matérias-primas para as indústrias de tintas, ceras, vernizes, resinas, extração de óleos e gorduras vegetais, pneus, borrachas, fósforos, chicletes, filmes fotográficos e fertilizantes.

Será então que a alta do barril do petróleo - matéria-prima inicial para tantos produtos finais de consumo -, no mercado internacional, afetaria os preços de toda a sua cadeia de derivados? "Afeta, obviamente, mas a intensidade e a velocidade dependem de muitas coisas", diz o economista Juarez Rizzieri, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe-USP). Rizzieri, que é coordenador-adjunto da equipe que mede o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), comenta: "O efeito maior e direto é sempre no combustível, mas mesmo assim, a Petrobras e o governo sempre estudam antes de repassar aumentos externos ou de câmbio". E em relação aos produtos gerados a partir do petróleo, ele avalia: "Quanto menor for o monopólio da Petrobras, menos pressão de custo para a indústria e para a cadeia direta dos derivados".

A primeira etapa do refino do petróleo, que envolve quatro fases, produz através da destilação por pressão atmosférica, além dos combustíveis, a matéria-prima básica para toda a cadeia de produção das resinas plásticas: a nafta. A Petrobras é a fornecedora exclusiva de nafta no Brasil, atendendo à demanda com a produção de suas refinarias e com importações. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o país produziu, de janeiro a setembro de 2002, 42,5 milhões de barris do produto e importou outros 12,6 milhões. A Petrobras fornece a nafta para três centrais de matérias-primas da indústria petroquímica: a Petroquímica União, de São Paulo, a Copesul, do Rio Grande do Sul, e a Braskem (antiga Copene), da Bahia. Essas centrais decompõem a nafta, produzindo para a segunda geração das indústrias do setor os petroquímicos básicos, como eteno, propeno, benzeno e tolueno, e os petroquímicos intermediários, como o cicloexano e o sulfato de amônia.

Nafta, produto incolor extraído do petróleo e matéria-prima básica para a produção de plástico.

"Na primeira etapa da decomposição, a nafta vai para fornos de alta temperatura, onde é quebrada" explica Jenner Bezerra, engenheiro químico da Braskem. "Depois, os gases que saem dos fornos são levados para uma área de compressão; por fim, é feita a separação dos compostos em baixa temperatura, por colunas de destilação ou fracionamento", continua. Um dos produtos dessa fase do processo petroquímico, o eteno - nome comercial do etileno (C2H4) - é matéria-prima para a produção de polímeros como o polietileno tereftalado (PET) e o policloreto de vinila (PVC), que por sua vez são fornecidos para as indústrias transformadoras de plástico, para as mais diversas aplicações. "Através de reatores de polimerização, as moléculas de eteno reagem, se juntam e formam as cadeias de polímeros", completa Bezerra.

A Braskem, que produz 4,25 milhões de toneladas de petroquímicos por ano e tem faturamento anual acima de R$ 7 bilhões, é a maior petroquímica da América Latina e uma das cinco maiores indústrias de capital privado do Brasil. Criada em 16 de agosto deste ano, após a aquisição da Copene pelo grupo Odebrecht-Mariani, a empresa protagoniza uma situação curiosa no Pólo Petroquímico de Camaçari (BA). A Politeno, maior produtora de polietilenos da região, que bateu recorde de produção em julho, com 31,3 mil toneladas, depende do aumento da oferta do eteno fornecido pela Braskem, para alimentar seu projeto de expansão. A fornecedora da matéria-prima, no entanto, além de ser uma das controladoras da Politeno, com 35% de suas ações, é também sua concorrente, produzindo cerca de 350 mil toneladas de polietilenos por ano. Na produção de petroquímicos básicos, a Braskem espera passar dos atuais 1,2 milhão de toneladas de eteno por ano para 1,3 milhão em 2003. Mas esse aumento pode não atender à demanda do Pólo de Camaçari, pois além do plano de expansão da Politeno, a empresa Dow Química está projetando, em parceria com a Basf, a instalação de outra petroquímica na região, com a estimativa de processamento anual de cerca de 100 mil toneladas de eteno.

Os polímeros produzidos pelas indústrias petroquímicas formam diferentes tipos de resinas plásticas, cada qual voltada para uma finalidade específica. As resinas produzidas pela Politeno, por exemplo, são usadas pelas indústrias de brinquedos, adesivos, caixas d'água, lonas, frascos de soro, tampas para alimentos, embalagens para sorvetes, tampas para refrigerantes, frascos para água sanitária, alvejantes e desinfetantes, filmes para fraldas descartáveis e coletores de lixo, entre outros.

Alguns produtos feitos com resina plástica

As principais matérias primas fornecidas pelas petroquímicas para as indústrias transformadoras de plástico são o polipropileno (PP), o policloreto de vinila (PVC), o polietileno de alta densidade (PEAD), o polietileno de baixa densidade (PEBD) e o polietileno tereftalado (PET). Um dos destaques do setor de transformação é a Sinimplast, uma das maiores indústrias de embalagens plásticas do país. Em agosto deste ano, o presidente da empresa, que faturou R$ 160 milhões em 2001, recebeu menção honrosa como empreendedor de sucesso, durante o IV Seminário do Setor Plástico do Grande ABC, promovido pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). A Sinimplast tem um portfolio de clientes bastante conhecidos pelo consumidor de produtos de higiene e limpeza e de alimentos em geral. A empresa transforma as resinas plásticas em embalagens para produtos como o amaciante Confort e o detergente Minerva, da Unilever, o ÁlcoolGel, da Copersucar, o Ajax e o Pinho Sol, da Colgate-Palmolive, os shampoos Colorama, da L'Oréal, Palmolive, da Colgate-Palmolive, e Vital Ervas, da Unilever, os desodorantes Axe, Rexona, Impulse e Vinólia, da Unilever, o Toddy, da Quaker, a maionese Cica, da Unilever, e o adoçante Zero Cal e o Biotônico, da DM-Indústria Farmacêutica.

Dentro da indústria do plástico, um dos principais mercados é o de embalagens de polietileno tereftalado (PET). No Brasil, esse segmento chega a crescer cerca de 10% a cada ano, e produziu aproximadamente 360 mil toneladas de embalagens em 2001. No ano passado, as indústrias de refrigerantes representaram 80% do mercado de embalagens PET; as de água mineral, 10%; as de óleo, 6%; e 4% tiveram outras aplicações. As empresas do setor buscam investir em alta tecnologia para tentar incluir no segmento das embalagens PET as cervejarias, que chegam a vender cerca de 8 bilhões de litros de bebida por ano. Mas os cervejeiros avisam: só entrarão nesse mercado quando a embalagem PET garantir a validade de até 180 dias da bebida em prateleira, a exemplo das embalagens de vidro e de alumínio.

 
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Atualizado em 10/12/2002
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