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Editorial
Classificar, descrever, explicar
Por Carlos Vogt
10/03/2011

Todo sistema teórico é, pelo menos, um princípio de classificação, quando não um princípio de explicação. Por isso, dizia Saussure que a língua - objeto teórico da linguística - é um todo em si mesmo e um princípio de classificação.

Desse modo, o objeto da ciência é sempre um objeto da teoria científica que o cria para nele simular os fenômenos que, tornados discretos, podem ser descritos, classificados e mesmo previstos, dependendo do modelo e da metodologia da representação.

Os sistemas classificatórios, as taxonomias, as categorizações têm uma longa tradição na história do conhecimento e no esforço humano de representá-lo e de apresentá-lo em sociedade.

A classificação das coisas do mundo e o mundo das coisas classificadas estabelecem, no transcorrer da história das culturas, os padrões das mudanças nas nossas capacidades mentais e tecnológicas de ordenar, desordenar, reordenar fenômenos dos quais nos aproximamos, ou nos distanciamos, em compreensão e entendimento, pela maior ou menor consistência lógica interna do modelo de representação e por sua maior ou menor capacidade de absorver em descrição e em explicação um número cada vez maior de fenômenos, com probabilidade muito pequena de que possam surgir casos que escapem ao alcance e abrangência dessa capacidade.

Como esses casos existem ou existirão, a construção do objeto teórico da ciência deve prever também a sua falibilidade, isto é, a sua falseabilidade e, desse modo, estar preparada para a dinâmica de suas mudanças.

O caso dos manuais de diagnóstico das doenças e de suas classificações é, nesse sentido, exemplar no que diz respeito a esse processo, de um lado pelo cansaço das categorias estabelecidas, de outro, pelo vigor do conhecimento novo que impõe a necessidade de suas alterações.

Os capítulos neles dedicados aos distúrbios mentais acrescem ainda essa dinâmica com o fato de que as categorias aí estabelecidas, muitas vezes por força dos componentes de descritividade dos sintomas ou dos comportamentos, trazem, no processo de sua constituição, graus variados de subjetividade e variações significativas de ordem cultural. Daí as revisões constantes, as pesquisas sistemáticas e as edições periódicas dessas classificações, modificadas e atualizadas.

É ao tema da “Classificação dos distúrbios mentais” que está dedicado este número da ComCiência, buscando apresentar ao leitor, além dos aspectos epistemológicos da questão, as implicações políticas, econômicas e culturais de suas aplicações na regulação da vida das pessoas e no ordenamento dos valores que regem o seu comportamento em sociedade.