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Entrevistas
Ana Victoria Pérez Rodriguez
Expectativas positivas para a segunda edição da Feira Empírika
Por Augusto Orlandini
10/10/2012

Ana Victoria Pérez Rodriguez, diretora do Centro de Estudos da Ciência, Cultura Científica e Inovação (Fundação 3CIN) e da  Agência Dicyt, sabe que a cultura científica é um elemento chave para o desenvolvimento sustentável das sociedades. Graduada em ciências da informação, mestre em comunicação científica e responsável pela Feira Empírika na Espanha, nesta entrevista à   ComCiência fala da importância da divulgação científica, das feiras e cafés científicos, sobretudo no atual momento de crise econômica na Espanha, em que, segundo ela, “ os feitos contradizem os discursos”.

Como a situação econômica da Espanha está afetando a produção de ciência e tecnologia no país?

Ana   Victoria  Pérez Rodriguez  - A produção científica e tecnológica espanhola não permaneceu alheia ao cenário econômico que atravessa o país, na realidade trata-se de um dos setores que mais ressentiu com os cortes ocorridos no curto prazo, devido, principalmente, a boa parte do sistema de P&D (pesquisa e desenvolvimento) espanhol se sustentar até então com fundos públicos. Trata-se de uma realidade que vinha chamando atenção há tempos e, nos últimos anos, até se tentou mitigá-la oferecendo incentivos a empresas que incorporavam a pesquisa em suas políticas de crescimento. O problema é que conseguir que o setor privado incremente sua aplicação no âmbito de P&D requer uma profunda modificação nos conhecimentos, práticas e valores que a sociedade espanhola compartilha em relação ao sistema científico. Em outras palavras, requer a sustentação e incentivo de políticas que promovam o fomento da cultura científica, algo que exige tempo e coordenação entre as políticas científicas e educativas.

Ciência e tecnologia são vistas como áreas prioritárias para o governo em meio a este cenário?

 Ana  Victoria   – Neste momento os feitos contradizem os discursos. Ainda que efetivamente a maior parte das propostas apresentadas por diferentes administrações aparecem como áreas prioritárias, as reduções orçamentárias estão sendo tão contundentes que praticamente paralisaram o sistema público de pesquisa científica. Um erro que, sem dúvida, lamentaremos no futuro.

Qual é a percepção dos espanhóis sobre ciência e tecnologia? Você acredita que, em meio à crise, os esforços de divulgação científica devem ser ainda maiores?

Ana  Victoria   – Acredito, realmente, que o desenvolvimento científico e tecnológico é um elemento chave na reestruturação do sistema produtivo e, em consequência, do modelo econômico espanhol. E ainda que as pesquisas de percepção da ciência, publicada bienalmente pela Fundação Espanhola para a Ciência e Tecnologia (Fecyt), reflitam um incremento na importância que os cidadãos outorgam a estes âmbitos, o certo é que não se documentou ainda uma mudança nas prioridades dos cidadãos. O empreendimento não é um valor socialmente valorizado e a colaboração entre os centros públicos de pesquisa e as empresas se dá com certo receio por ambas as partes. No fim, é preciso continuar explicando o que é ciência, como funciona o sistema e quais benefícios traz para a sociedade.

No Brasil, a educação se volta para o conteúdo e, muitas vezes, não há motivação para o pensamento crítico e a reflexão dos alunos. Como você avalia a educação da ciência na Espanha? Como as feiras de ciência podem motivar melhorias para esse quadro?

 Ana  Victoria   – O cenário é similar ao que até agora tem prevalecido no sistema educativo espanhol. As disciplinas científicas se convertem em compartimentos estanques, com escassa relação entre eles, cheios de dados que os estudantes devem memorizar. No fim, uma das escassas tentativas para introduzir no sistema educativo uma mudança na forma pela qual os estudantes se aproximavam da aprendizagem das ciências na Espanha acaba de desaparecer ao ser aprovada a nova Lei de Educação, que suprime a efêmera disciplina de “Ciências para o mundo contemporâneo”. Por este motivo, as atuações de educação científica não formal, como as feiras de ciência, os cafés científicos, os acampamentos científicos, entre outros, são tão importantes. Estes se convertem em uma ferramenta que pode nos ajudar a reforçar os conhecimentos adquiridos dentro do sistema educativo, a partir de uma perspectiva crítica e participativa.

Vocês idealizaram a Empírika e agora a feira ganhará países com menos tradição em ciência ao compararmos com a Espanha. Qual é o impacto de um evento grande como a Empírika?

Ana  Victoria   –  Talvez o mais importante que conseguimos ao celebrar a primeira edição da Empírika foi justamente abrir um novo espaço de encontro e intercâmbio entre os profissionais ibero-americanos da ciência, o público e as empresas. Algo próximo e acessível que nos permitisse identificar o que é o que se faz nos laboratórios e centros de investigação de nossas cidades. Depois estão outros ganhos; um muito importante para nós foi o feito de ter conseguido mais de 20 mil pessoas durante a primeira edição, além de fazer com?? que 32 centros de investigação, empresas e museus científicos de toda Ibero-América se movimentassem até Salamanca para mostrar o que cada um faz. Um marco da feira também foram os convênios de colaboração firmados entre instituições científicas e empresas.

Quais são os desafios de trabalhar com divulgação científica?

Ana  Victoria   –   Ainda que provavelmente não exista uma única resposta para essa pergunta, talvez o mais importante desafio para um divulgador é o de facilitar aos cidadãos a informação necessária para sua participação consciente e responsável nos processos públicos de tomada de decisões. Trata-se de um trabalho mais complexo do que realmente parece uma vez que nem o público nem a informação com a qual devemos trabalhar são homogêneos. Portanto, é necessário adequar os discursos e os formatos em cada uma das ações que se almeja.

Após uma primeira versão da feira, o que se pode esperar encontrar no Brasil?

Ana  Victoria   –   A experiência nos mostrou que a feira deve ter uma estrutura muito aberta, onde cada uma das propostas que as instituições desejem apresentar tenham lugar e possibilidade de serem cumpridas. Por este motivo, e ainda que se mantenham espaços expositivos de uso, onde estarão os estandes de universidades, centros de investigação e empresas, também centramos boa parte dos esforços para habilitar um espaço expositivo online, que é a Pólis Empírika. Esta será uma porta de acesso a todos os que queiram somar-se à edição presencial de São Paulo, mas também será um espaço para expor conteúdos virtuais e desenvolver encontro de pesquisadores, conhecer divulgadores científicos ou entrar em contato com outros apaixonados por ciência e tecnologia. É um espaço definitivo na rede, reservado para a cultura científica e através do qual irá se revelando nas próximas semanas o programa completo dos eventos que darão forma à Empírika 2012.