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Há controvérsia no financiamento nos EUA

A política norte-americana para o financiamento público de pesquisas com células-tronco embrionárias tem causado desconforto entre os cientistas e alterado a rotina de laboratórios universitários. Em 9 de agosto de 2001, o presidente George Bush decidiu liberar fundos para a pesquisa para pouco mais de 60 linhagens de células-tronco criadas a partir de embriões, proibindo a utilização de recursos federais para novos experimentos desse tipo.

A decisão de Bush surgiu em meio a um debate ético e moral, que se estende até hoje, envolvendo diversos segmentos sociais pró e contra as pesquisas nesse novo campo de estudos. A produção de linhagens de células-tronco envolve a destruição de embriões. Mas, por outro lado, o trabalho com esses tipos de células parece ser uma das esperanças da medicina para o tratamento de doenças como o diabetes, câncer, mal de Parkinson e mal de Alzheimer. Acredita-se que as células-tronco embrionárias têm mais chances de resultar em novos tratamentos, apresentando vantagens em relação às derivadas de células adultas, cuja capacidade de gerar diferentes tipos de tecido celular é limitada.

Atualmente, o Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês, uma entidade que reúne os diversos institutos de saúde), órgão que regula a pesquisa com células-tronco nos EUA, já identificou 78 linhagens celulares de embriões que preenchem os requisitos para a pesquisa, mas autorizou somente 12 para o recebimento de investimentos públicos, com uma série de regras para a autorização de pesquisas.

Matéria publicada pelo The Business Journal indica que essa restrição está reduzindo o número de equipes de pesquisadores e prejudicando o avanço científico, podendo causar danos à indústria farmacêutica do país ao limitar sua capacidade de criação de produtos a partir de novas pesquisas feitas, em sua maioria, nas universidades. Segundo a The Scientist um ano após a decisão de Bush, nem todos os pesquisadores estavam conseguindo acesso às linhagens de células-tronco embrionárias para o financiamento público de seus experimentos e os investimentos na área eram poucos, devido às incertezas legais e políticas em torno do assunto.

Como forma de contornar o problema, as universidades norte-americanas estão buscando dinheiro de outras fontes, que não do governo, para manterem todos seus projetos de pesquisa. Assim, preferem montar laboratórios independentes dos já existentes para trabalharem com linhagens de células-tronco não autorizadas, devido às regras impostas pelo NIH, que exige a separação dos gastos com esse tipo de pesquisas daqueles realizados com verbas do Estado. Aparelhos e instalações comprados com dinheiro público, por exemplo, não podem ser utilizados para experimentos com linhagens de células não autorizadas.

Em 2002, o governo norte-americano destinou mais de 387 milhões de dólares para pesquisas com células-tronco, nas 20 instituições de pesquisa integrantes do NIH. Esse orçamento dividiu-se em pesquisas que utilizam células-tronco adultas e embrionárias de linhagens autorizadas, de humanos e de animais. O Instituto Nacional do Câncer [NCI, sigla em inglês] foi o centro com maior gasto em pesquisas com células-tronco adultas, cerca de 70 milhões de dólares. O Instituto Nacional de Diabetes e de Doenças Digestivas e Renais [NIDDK, sigla em inglês] foi o que mais utilizou recursos federais para pesquisas com células derivadas de embriões, com investimentos chegando a quase 4 milhões de dólares.

Segundo Don Ralbovsky, do escritório de comunicações do NIH, não existe um levantamento de dados sobre o investimento privado em pesquisa com células-tronco nos EUA. "Provavelmente algumas companhias estão empenhadas em reunir dados a esse respeito, mas elas não divulgam seu balanço financeiro", diz Ralbovsky.

O orçamento dos NIH para 2004 é de US$ 27,89 bilhões. Estima-se que mais de 60% desse valor será gasto em pesquisa básica. Em comparação, no ano de 1997 as indústrias farmacêutica e de biotecnologia gastaram US$ 27 bilhões em pesquisas biomédicas. Em 1990, somente 14% do orçamento do setor foi aplicado em pesquisa básica, de acordo com relatório do Conselho Nacional de Pesquisa dos EUA.

No caso das células-tronco, a pesquisa básica depende quase que exclusivamente de financiamento público, já que as indústrias concentram seus investimentos na criação de novas drogas e ferramentas para o diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças.

O governo norte-americano também tem investido em pesquisas com outros tipos de células-tronco. Em 2001, juntamente com o anúncio presidencial da restrição de fundos para as pesquisas com células embrionárias, o governo destinou cerca de US$ 250 milhões para pesquisas com células-tronco adultas obtidas de cordões umbilicais, placentas e de animais. No início deste ano, o presidente George Bush assinou lei que destina US$ 10 milhões para a criação do Programa para o Banco Nacional de Células-Tronco de Cordão Umbilical (National Cord Blood Stem Cell Bank Program). A decisão beneficiará diretamente a empresa ThermoGenesis Corp., que desenvolveu a tecnologia para processamento, conservação, estocagem e coleta de células-tronco derivadas de placentas e cordões umbilicais. A quantia inicial será utilizada para a criação de unidades de bancos com esse tipo de células-tronco em todo o país. Estima-se que sejam gastos cerca de US$ 150 milhoes para a criação de 150 mil dessas unidades.

(AZ)

 
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Atualizado em 10/02/2004
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