Tira-dúvidas: Febre amarela

A febre amarela

O surto da forma silvestre da febre amarela começou em dezembro de 2016 em Minas Gerais e, hoje, já atinge pelo menos 19 estados brasileiros. Segundo divulgado pelo Bio-Manguinhos, Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos, “a maior preocupação da comunidade médica está na eventual transformação do surto em epidemia e a evolução da forma silvestre para a urbana. As autoridades de saúde estão avaliando se, depois da atual política de contenção, a estratégia de vacinação contra a doença deve se estender a uma parcela maior da população”.

Por Graziele Souza

Até 10 de maio de 2017, foram notificados ao Ministério da Saúde 3.175 casos suspeitos de febre amarela silvestre, desses, 622 (19,6%) casos permanecem em investigação, 756 (23,8%) casos foram confirmados e 1.797 (56,6%) foram descartados.

Existem dois ciclos de transmissão da doença:

– A febre amarela silvestre: a doença é transmitida pela picada dos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. Os principais hospedeiros nesse ciclo são os macacos que habitam as florestas tropicais. Já os seres humanos podem adquirir o vírus esporadicamente quando residem ou entram na mata para trabalho ou turismo e são picados por um mosquito silvestre infectado.

– A febre amarela urbana: Quando a transmissão se dá pela picada do Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue, zika e chikungunya.

Todos casos de febre amarela que ocorreram nos últimos meses são do ciclo silvestre. O último caso da doença no Brasil com o ciclo urbano ocorreu em 1942, no Acre.

Segundo o Ministério da Saúde “todos os casos notificados, até o presente momento, são classificados no ciclo silvestre de transmissão e o risco de reurbanização da febre amarela é muito baixo. Para que se instale um ciclo urbano de transmissão da febre amarela, baseado no histórico das últimas epidemias registradas na África, são necessários índices de infestação do Aedes aegypti muito elevados (acima de 50%) e, pelos levantamentos realizados no final de 2016, 63% dos municípios que realizaram o levantamento apresentaram índices abaixo de 1%, considerado resultado satisfatório, de acordo com os parâmetros internacionais. Somente 8,6% dos municípios apresentaram índices acima de 4%, o que não indica risco de epidemia para febre amarela”, afirma.

Sintomas

Os sintomas iniciais da febre amarela incluem febre de início súbito, calafrios, dor de cabeça, dores nas costas, dores no corpo em geral, náuseas e vômitos, fadiga e fraqueza. Caso apresente algum desses sintomas o Ministério da Saúde orienta que é preciso procurar atendimento médico.

A vacina

A vacina contra febre amarela é a medida mais importante para prevenção e controle da doença e, de acordo com o Ministério da Saúde, apresenta 95% a 99% de eficácia. No entanto, assim como qualquer vacina ou medicamento, pode causar efeitos colaterais como febre, dor local, dor de cabeça, dor no corpo. Para algumas pessoas a vacina é contraindicada.

Segundo recomendação da OMS, Organização Mundial da Saúde, o Ministério da Saúde adotou, desde o mês de abril, a orientação de que crianças com nove meses e adultos até 59 anos precisam tomar apenas uma dose da vacina contra a doença.  Já que, de acordo com a OMS, uma única dose será suficiente para imunizar para a vida toda.

Importante informar que a vacina não mudou, o que mudou foi apenas o número de doses necessárias para garantir a imunização contra a febre amarela. No esquema anterior, como informa o Ministério da Saúde, a segunda dose era apenas um reforço para imunização.

Se alguém tomou apenas uma dose da vacina, passará a estar com o esquema completo e não precisa mais tomar essa segunda dose.

Quem deve tomar a vacina, com restrições:

– Pessoas acima de 60 anos deverão ser vacinadas somente se residirem ou forem se deslocar para áreas com transmissão ativa da febre amarela e que não tiverem alguma contraindicação para receber a vacina.

– Gestantes (em qualquer período gestacional) e mulheres amamentando só deverão ser vacinadas se residirem em local próximo onde ocorreu a confirmação de circulação do vírus (epizootias, casos humanos e vetores na área afetada) e que não tiverem alguma contraindicação para receber a vacina.

– Mulheres amamentando devem suspender o aleitamento materno por 10 dias após a vacinação e procurar um serviço de saúde para orientação e acompanhamento a fim de manter a produção do leite materno e garantir o retorno à lactação.

– Pessoa vivendo com HIV/AIDS desde que não apresentem imunodeficiência grave (contagem de LT-CD4+<200 células/mm3). Poderá ser utilizado o último exame de LT-CD4 (independente da data), desde que a carga viral atual (menos de seis meses) se mantenha indetectável.

Quem não deve tomar a vacina:

– Pessoas com imunossupressão secundária à doença ou terapias (quimioterapia, radioterapia, corticoides em doses elevadas).

– Pacientes em uso de medicações anti-metabólicas ou medicamentos modificadores do curso da doença (Infliximabe, Etanercepte, Golimumabe, Certolizumabe, Abatacept, Belimumabe, Ustequinumabe, Canaquinumabe, Tocilizumabe, Ritoximabe).

– Transplantados e pacientes com doença oncológica em quimioterapia.

– Pessoas que apresentaram reação de hipersensibilidade grave ou doença neurológica após dose prévia da vacina.

– Pessoas com reação alérgica grave ao ovo.

– Pacientes com história pregressa de doença do timo (miastenia gravis, timoma).

Já os turistas que forem viajar para uma área com recomendação de vacina – tanto estrangeiros quanto brasileiros – e que nunca receberam nenhuma dose da vacina, a recomendação é que seja vacinado pelo menos dez dias antes da viagem, já que esse é o tempo que a vacina leva para criar anticorpos e para que a pessoa esteja protegida.

A criança pode receber a vacina da febre amarela ao mesmo tempo de outras vacinas, caso tiver alguma dose do Calendário Nacional de Vacinação em atraso, com exceção vacina tríplice viral (que protege contra sarampo, rubéola e caxumba) ou tetra viral (que protege contra sarampo, rubéola, caxumba e varicela).

Áreas com recomendação de vacinação

A vacinação de rotina para febre amarela é ofertada em 19 estados (Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Maranhão, Piauí, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina) com recomendação para imunização.

Já nos estados da Bahia, Piauí, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, a vacinação não ocorre em todos os municípios. Além das áreas com recomendação, neste momento, também está sendo vacinada de forma gradual a população do Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Aqui é encontrada a lista de municípios brasileiros que têm recomendação para vacinação contra a febre amarela.

Inovação: Mosquito transgênico

O Projeto Aedes transgênico (PAT) foi criado em parceria com a empresa britânica Oxitec, responsável por desenvolver a primeira linhagem do inseto transgênico, posteriormente adaptado ao ambiente nacional, na USP.

O mosquito, que transmite não só a dengue, mas doenças como zika, chikungunya e febre amarela, foi modificado da seguinte maneira:

– Os pesquisadores introduzem no mosquito genes que produzem uma proteína que mata seus descendentes ainda na fase de larva.

– Depois, os embriões são cultivados em laboratório, e os insetos modificados são identificados por um marcador fluorescente.

– Após essas duas etapas, os machos são isolados e soltos na natureza. Os filhotes do cruzamento com as fêmeas que habitam a região não sobrevivem até a fase adulta.

Na cidade de Piracicaba (SP), o projeto começou em 2015. Em dois bairros diferentes, um na periferia e outro na zona central, houve redução de 80% das larvas de Aedes aegypti selvagens.

A previsão é que a Oxitec solte os mosquitos transgênicos em outros locais, possivelmente em Juiz de Fora (MG) e Búzios (RJ). A ideia é controlar proliferação do inseto em áreas que já estão com um grande índice de infestação.

Como não possui licença da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o projeto dos mosquitos transgênicos não pode ser comercializado. Por isso, a soltura só pode ser feita como projeto de pesquisa de parceria entre a prefeitura da cidade e a empresa responsável.