Sérgio Mamberti: ‘Foi falha histórica não ter direcionamento devido sobre o império da mídia’

Por Paulo Markun, 20 de maio de 2020

“Acho que o ser humano tem essa capacidade de se reinventar, vamos nos reinventar. Nesse sentido, é uma oportunidade para reconstruir um processo de um convívio do ponto de vista social, político ou da cultura, que terá um papel marcante. O universo da ciência e todas as relações com cultura, educação e comunicação certamente terão papel preponderante nessa nova construção.”

Paulo Markun: Olá, tudo bem? Estamos aqui com mais um Conversas na Crise – Depois do Futuro. Hoje falando com o homem de cultura, de teatro, de comunicação, Sérgio Mamberti. Você pode fazer a sua pergunta, a sua ponderação, tanto pelo Facebook quanto pelo Youtube que a gente encaminha para o Sérgio Mamberti. Eu começo passando a palavra para o professor Carlos Vogt, que é presidente do Conselho Cultural e Científico do IdEA, o Instituto de Estudos Avançados da Unicamp que organiza essa série de conversas junto com a TV Cultura. Carlos.

Carlos Vogt: Markun, boa tarde. Sérgio Mamberti, boa tarde, seja bem vindo.  Nos encontramos novamente, agora nessas circunstâncias impostas pela pandemia do coronavírus, mas que de qualquer maneira permite que continuemos dentro do propósito que havíamos iniciado e do qual você participou de um dos encontros, o Ciclo de Conferências sobre a Crise Brasileira. E que retomamos agora nessa forma da live com a participação dos convidados, chamando esse encontro de Conversas na Crise – Depois do Futuro, tentando refletir um pouco sobre o estado de perplexidade em que nos encontramos diante exatamente das situações que não conseguimos entender com clareza, relativa ao que será o after, o que se desenhará depois dessa grande crise sanitária e que é ao mesmo tempo uma crise de consequências econômicas, políticas, sociais, culturais, de ampla repercussão. Sérgio, nós temos uma satisfação enorme em tê-lo novamente. A iniciativa, esta, do ponto de vista institucional, é do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp, que se associa a TV Cultura e tem essa participação fundamental do Markun como mediador desses encontros. E é para essa conversa que nós então o recebemos com satisfação, podendo de maneira bem simples e sucinta apresentá-lo -embora essa apresentação seja totalmente desnecessária – dizendo que

Sérgio Mamberti nasceu em Santos, em 1939, é ator, diretor, artista plástico, empresário, promotor, gestor cultural. Formou-se pela Escola Dramática de São Paulo. Em mais de seis décadas de carreira participou de inúmeras peças de teatro, de inúmeros filmes, de inúmeras novelas e tem recebido na sua carreira prêmios e troféus inúmeros pelos trabalhos no teatro, no cinema e na televisão. Teve atuação destacada e inesquecível em programas dedicados a crianças, entre eles a série premiada nacional e internacionalmente “O Castelo Rá-Tim-Bum”, como o eterno Doutor Victor Stradivarius. Foi gestor do Ministério da Cultura durante os dois mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 2003 e 2007, 2007 a 2011 e na primeira gestão da presidente Dilma Rousseff, de 2011 a 2014; nessa fase ocupou os cargos de Secretário de Música e Artes Cênicas, Secretário da Identidade e da Diversidade Cultural, Presidente da Fundação Nacional de Artes, a Funarte, e Secretário de Políticas Culturais do Ministério da Cultura. Está no elenco, de maneira sempre ativa, de espetáculos como As Três Irmãs, de Tchekhov, e A Semente da Romã, de Luiz Alberto de Abreu.

E é uma satisfação, Sérgio, recebê-lo aqui novamente e poder ouvir e participar dessa conversação com você

Paulo Markun: Obrigado, Vogt. Bom, Sérgio, eu queria já começar a botar a bola em jogo com a seguinte questão: vamos fazer a tentativa de pensar em como vai ser a cultura depois que a pandemia for superada como obstáculo imediato. Você acha que a gente volta à realidade que nós tínhamos anteriormente, em que a presença física era muito importante para a cultura em várias atividades, desde uma exposição de arte, um museu, um teatro, um show, um evento? E mais do que isso, você acredita que será possível reconstruir o sistema já precário que a gente tinha de financiamento da cultura nos moldes que tínhamos no passado?

Sérgio Mamberti: Olha, na verdade é uma série de desafio que você me propõe com sua pergunta. Na verdade, é uma grande interrogação, né. Eu estava vendo aqui hoje a capa do Estado de S. Paulo, é um teatro na Alemanha, então é um teatro vazio, daqueles teatros tradicionais, com aquelas poltronas vermelhas e , assim, uma pessoa aqui, outra pessoa ali, outra pessoa lá. As famílias podem estar juntas, não precisa estar de máscaras depois que sentam, entendeu? É um ambiente estranho porque são pouquíssimas pessoas em cena também, além de ter poucas pessoas na plateia. Então, é uma coisa, assim, tão inusitada de repente de você pensar na perspectiva de…eu que sou ator de teatro, o teatro ele é celebrado a partir da relação que se estabelece entre o artista e a plateia, e o público. E isso é uma tradição de dois mil anos, né. Ele só se consuma e aí o ator é o grande celebrante, né…a gente tem a intervenção dos autores, do diretor, de toda uma área técnica aí, também de uma área artística como cenografia e tudo, mas na verdade o fundamental é essa respiração, é quase essa transpiração e quase essa cumplicidade que se estabelece entre o ator e o público.

E que é o mistério do teatro, na verdade, porque tem uma coisa que quando você entra em cena você não fala assim “o fulano ou ciclano”, o primeiro ator quando ele começa a representar, quando ele saiu de cena a gente pergunta “como é que está o público?” O público é uma entidade que adquire e tem identidade própria. E ele passa a dialogar com tudo aquilo que está sendo proposto, entendeu. E a cultura, fundamentalmente, ela até o conceito de diversidade cultural… eu participei das reuniões que conclamaram e que proclamara a Convenção da Diversidade Cultural lá na Unesco, participei de todas as reuniões de regulamentação…as definições de diversidade é justamente o diálogo, a alteridade. A cultura é fundamentalmente esse diálogo. O Betinho dizia que cultura é gente, né.

Então, na medida que esse espaço que está de uma certa maneira sequestrado pelo isolamento e que a gente está rompendo aqui pelo espaço virtual, né, e que é um espaço também que a gente não domina, no sentido de… da mesma maneira que a gente domina o espaço desse diálogo mais direto que a gente estabelece; eu estava vendo aqui, uns dias antes de eu me confinar aqui, eu estive lá na Unicamp conversando com os alunos, com o Vogt, com o Alcir, com os professores, e a gente, de uma certa maneira, fazendo uma avaliação da crise. Mas, é uma avaliação que hoje ela tem que ser totalmente, vamos dizer, a gente tem que considerar isso dentro de uma outra circunstância; a gente não tem uma ideia clara de como vai ser.

Eu estava vendo, o Pepe Mujica, por exemplo, ele fala realmente de uma nova ordem social econômica. Ele fala que os governos já não representam mais, não têm mais a representação, que a concentração de riquezas é tão brutal que justamente essas pessoas que detém essa concentração é que determinam os destinos, né. Uma governo passa a ser apenas uma representação, uma mera representação que a gente elege por voto. Mas, a gente vê que isso é uma verdade absoluta quando você pensa que a gente está vivendo politicamente aqui no Brasil, né, e que a gente tem um governo que não nos representa, e quando você fala em não representar, a gente pode falar em vários níveis. Mas, a cultura é sempre essa expressão, desse conjunto de valores que a sociedade constrói. E esse conceito principal em face do autoritarismo e do exercício do poder de uma forma tão tosca como é exercido hoje por esse presidente, esses contornos se diluem completamente. Tanto que você veja, o Collor quando assume o primeiro mandato depois da ditadura, ele extingue o Ministério da Cultura, ele se volta praticamente contra a identidade nacional. Acho, inclusive, que foi um dos fatores determinantes para a queda dele, né, porque ele voltou as costas para a essência da nacionalidade, do que é ser brasileiro.

E a mesma coisa esse senhor. Só que eu diria que houve uma radicalização, porque tem uma parte considerável da sociedade que embarcou um pouco nessa narrativa e nesse discurso. E quando eu penso nas conquistas históricas que nós fizemos durante o período das duas gestões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente Dilma, no sentido de republicanizar a relação, de fazer com que a cultura e todo o projeto cultural ele foi feito a partir de um grande diálogo com a sociedade. E construir isso também é um dos aspectos determinantes, por exemplo, e fundadores da Convenção da Diversidade Cultural, que é justamente a participação social, a participação social como elemento legitimador das políticas estruturantes de cultura e tudo. Esse governo, ele parte de uma ação absolutamente autoritária. Basta ver o que aconteceu agora nessa pandemia com o Ministério da Saúde, né. A saúde é praticamente a sobrevivência física; a cultura é uma sobrevivência de, vamos dizer, uma identidade de um outro plano. Mas, a pandemia ela nos coloca diante de uma emergência da vida; é uma questão de uma sobrevivência e de uma doença misteriosa que a gente não sabe o que é exatamente.

A Organização Mundial da Saúde ela fala de uma possibilidade de essa pandemia ser endêmica, não se tem uma noção claro do que vai acontecer. E de repente essa questão mais crucial é tratada da maneira mais primária pelo governo. Então, a gente vê o número de mortes se sucedendo  e nós todos isolados, uma crise política de uma dimensão como eu nunca tinha visto aqui. Eu participei, nós estávamos conversando um pouquinho antes, eu sou de 1939, eu participei da época da guerra e nós tínhamos uma ameaça semelhante, que era o Hitler na Alemanha. Minha mãe era educadora, meu pai estava muito ligado a área cultural e eu morava em uma rua onde tinham líderes sindicais ali do porto e tal. Então, eu desde criança eu tive uma convivência com o universo político, mas principalmente com essa questão do poder autoritário e do que significava a presença desse homem no mundo e a ameaça que ele significava.

Só que embora a gente tivesse blecaute e… eu sempre digo que eu tive na guerra, porque de noite, quando chegava as 18h, minha mãe dizia “hora de fechar a cortina”, do blecaute, não se sai mais na rua e tal. Então, tinha uma coisa também desse isolamento, mas eu não me lembro uma crise tão aguda como a que estamos vivendo; é uma crise profunda e é mundial, né. É claro que aqui adquire uma dimensão extraordinária pelo tamanho da tragédia que nós estamos vivendo nesse momento. Então, Paulo, eu diria.. .eu não quero ficar ao mesmo tempo num chororô… Eu acho que o ser humano ele tem essa capacidade de se reinventar, eu acho que a gente vai se reinventar. Mas, eu acho que mundo a partir desse momento, para que a gente possa realmente ter… acho que nesse sentido é uma oportunidade que a gente tem de reconstruir um processo de um convívio do ponto de vista social político e a cultura vai ter um papel marcante. Aí a questão, o universo da ciência e todas as relações com a cultura, a relação com a educação, com a comunicação certamente elas vão ter um papel preponderante nessa construção.

Eu estava vendo aqui que 170 intelectuais acadêmicos, na verdade da Holanda, eles focaram cinco pontos de um modelo que eles chamam de crescimento. Cinco pontos. Eles falam com relação ao crescimento do PIB, diferenciar os setores que podem crescer e os que não devem crescer. Os que devem crescer são os setores da saúde, da educação, da cultura, e os que devem ser reduzidos é mineração, gás, petróleo, publicidade, marketing. Eles falam também de construir uma estrutura de redistribuição – aí aquela fala eterno da renda básica universal do Suplicy -, certamente um fortalecimento do Estado, dos serviços públicos, a redução de horas de trabalho, certamente medidas que protejam os trabalhadores. 

[falha na transmissão do Sérgio Mamberti] 

Paulo Markun: Sérgio, nós estamos com você travado. Vamos ver se você retorna. Enquanto isso, vamos ver se a equipe técnica me dá alguma luz do que fazemos. A menção e o que eu diria só é, digamos, para colocar uma segunda questão, é a seguinte: enquanto isso se processa no campo acadêmico e no campo das expectativas dos pensadores, o mercado não para. No caso das lives, por exemplo no Brasil, as lives que têm grande audiência e que têm patrocínio, portanto têm sustentabilidade econômica e financeira, são de artistas populares, principalmente do campo sertanejo, que já tinham esse contato com o público e já tinham esse suporte financeiro muito claro e muito estabelecido. A minha dúvida, Sérgio, não sei se você está me ouvindo aí – é, ele não está me ouvindo- é se a gente vai ter isso na retomada. Quer dizer, porque quando o governo Collor, por exemplo, acabou com o Ministério da Cultura, quando travou toda a atividade cultural, aparentemente as estruturas de criação e de ação continuavam funcionando.

Ainda não voltou. Vamos lá. Sérgio, agora sim. Eu só estava…vou retomar aqui a pergunta que eu coloquei. 

Sérgio Maberti: Tá me ouvindo?

Paulo Markun: Tô te ouvindo perfeitamente. Todo mundo, eu também. A questão é a seguinte, é que enquanto os pensadores e a academia imaginam e sonham com um mundo diferente, para frente, o mercado se coloca muito rapidamente. O Mia Couto disse que existe bichinho invisível tão complexo e desafiador quanto o coronavírus, que é o mercado.

Sérgio Mamberti: Certamente.

Paulo Markun: Então, as lives que têm audiência, patrocínio e, portanto, condições de sustentar os seus artistas, artistas populares, notoriamente o sertanejo, que já tinham isso antes do coronavírus. Os artistas independentes que dependiam ou de recursos públicos ou de atividades presenciais para buscar o seu sustento fazem lives mas não têm recursos para se sustentar. Como é que você imagina que isso… você acha que isso vai mudar alguma vez?

Sérgio Mamberti: Olha, na verdade isso faz parte dessa contradições, né. Eu tava vendo que as medidas que estão sendo tomadas, no sentido de suprir essa necessidade… Por exemplo, eu fiz uma live para o Sesc, eu tô falando do Sesc como uma instituição nacional que tem que movimentar recurso consideráveis, justamente no sentido de remunerar; eu fiz a live, fui remunerado, uma remuneração bastante expressiva, não é uma coisa que vai garantir o meu sustento, mas uma remuneração expressiva – eu fiz um texto do  Plínio Marcos. Também um espaço que a gente está explorando, né. As outras lives que me antecederam a câmera ficou fixa, daí eu já introduzi um movimento de câmera, eu trabalhei mais a cenografia e tal; tinha um diretor que acho que vai ganhar um pequena quantia. Mas, vamos dizer, a nossa sustentabilidade está ameaçada. Aí a gente está mexendo com algumas questões do ponto de vista emergencial; está sendo feito aí, tem um projeto chamado Plano Emergencial para a Cultura que vai movimentar recursos que estão contingenciados no fundo nacional de cultura, o Fundo Setorial  do Audiovisual, em torno de 3.6 bi, mas não pode passar pelo presidente, vai ter que passar diretamente no Congresso.

Então, na verdade a gente tá trabalhando dentro de um plano de emergência. Claro, nós fizemos uma grande live para discutir esse plano, participaram 400 e tantas pessoas no início – pode ser que até mais depois-, onde eu vi que o legado, a construção que nós fizemos durante todo o período do governo Lula tava muito presente; o Sistema Nacional de Cultura funcionando fracionadamente através das políticas estaduais, municipais, então também esses recursos do estado e do município vindo. Entendeu? A gente tem visto também que existe toda uma mobilização no sentido de a gente conseguir socorrer nessa ação emergencial -alguns fundos que estão sendo criados no Rio de Janeiro- principalmente o pessoal de infraestrutura que não tem como sobreviver.

Mas, de qualquer maneira, uma das questões que o Mujica colocou e que o Lula tem colocado nas manifestações que ele tem feito através de entrevistas que ele tem dado também, mas também aqui – é o quinto ponto – na questão desses acadêmicos holandeses é uma nova ordem econômica. E essa nova ordem econômica ela não vai ser de graça, né. Eu concordo totalmente com você. Então, esse espaço ele vai ter que ser conquistado; é uma reconstrução de um novo modelo de convivência e de vida onde a gente vai ver até que ponto esses limites desse poder econômico absoluto, dessa concentração de riquezas… Você veja, aqui no Brasil quando se fala de taxação das riquezas, no sentido de fazer uma redistribuição de renda, aqui no Brasil, a grid é enorme e a concentração é cada vez maior.

Então, a gente tem… esses fantasmas aí que você levantou e que estão presentes, assim como nós estamos nos organizando para projetar uma nova sociedade, eles também estão se reorganizando para manter seus privilégios. Eu tava vendo também o Pepe Escobar, ele fala de nanochips junto com a vacina do coronavírus, fala de que a moeda vai desaparecer e que a gente vai lidar apenas com a moeda digital, fala – de repente é uma visão mais pessimista até – de uma sociedade orwelliana  e de um admirável muito novo do… esqueci o nome

Paulo Markun: George Orwell.

Sérgio Mamberti: É, exatamente. Então, quer dizer, é uma visão bem mais pessimista. Mas, eu acho que eu concordo totalmente com a sua preocupação, porque a gente não pode simplesmente…. Por que eu vejo às vezes um discurso “ah, vai ser um mundo lindo, de solidariedade e tal”. A gente sabe que, a gente que está na luta política durante todos esses anos, sabe que nada vem de graça para a gente. Então, isso vai ser, certamente… eu lembro da reconstrução do mundo a partir do Plano Marshall, da ONU; eu me lembro que meu pai, quando a ONU foi criada meu pai falava assim “não vai ter mais guerra”. A ONU vai…

Paulo Markun: Resolver tudo.

Sérgio Mamberti: … Resolver todos esses problemas. Entendeu? Seis anos depois estava a guerra na Coréia, a Guerra Fria estava a todo o vapor. E os Estados Unidos passaram a ter a hegemonia que têm hoje a partir da disputa com a Rússia, evidentemente, entendeu…com a União Soviética, na verdade. Então, a gente tem uma chance api, de agente, de uma certa maneira, participar de um novo momento. Aí que eu acho que o espaço acadêmico das universidades… a universidade não pode ficar mais, vamos dizer, circunscrita ao seu espaço físico, ela tem que transbordar. Entendeu, professor Carlos? Eu acho que a universidade ela tem que ter o papel que ela teve durante a ditadura, em que ela passou a fazer parte das forças libertárias, ela passou a ter uma participação na vida que não estava só na discussão da academia. Mas, foi através dos espaços das universidades que nós construímos também, além do espaço da cultura, um espaço de resistência absolutamente extraordinário. E aí a ciência também eu acho que tem que estar nessa conjugação. E aí, esse novo espaço que é um espaço que na verdade não foi muito explorado e que hoje a gente ficou refém das fake news e desse universo todo, porque se tem alguma coisa que eu considero que foi uma falha histórica na nossa construção durante o período que a gente tentou construir realmente uma sociedade mais justa através dos governos populares foi a gente não ter um direcionamento devido e uma atenção devida sobre o império da mídia.

Certamente, o império da mídia é um império que está totalmente subordinado aos interesses dessa economia e é ele que de uma certa maneira mantém…por exemplo, sertanejos, eles se mantém através dessa coisa massiva, né, da cultura do ‘sertanojo’ que as pessoas falam – aí eu acho que é um pouco rigoroso demais. Mas, de uma certa maneira, você vê que eles também tem opiniões muito conservadores, né.

Eu vi uma perguntinha aqui sobre a questão da saída da Regina…

Paulo Markun: Exatamente. A pergunta é: como é que você avalia essa saída da Regina Duarte da Secretaria da Cultura, que foi anunciada hoje?

Sérgio Mamberti:  Gente, assim como eu avalio a entrada. Gente, o que que a Regina foi fazer lá, gente? Não tinha Ministério da Cultura. Uma Secretaria de Cultura dentro do Ministério de Turismo. Com toda a consideração e o respeito que eu tenho com a pessoa com quem eu convivi durante anos como atriz e, inclusive, como uma pessoa de convivência social. Essas são contradições que você não consegue entender; a regina participou do segundo turno do Lula em 1989, participou da campanha; ela participou do segundo turno da Erundina, em 1997, a meu convite. Aquela peça do irmão da Clarice, Concerto Número 1, que foi feito logo durante o período da morte do Vlado, ela produziu. Entendeu?  Depois nós tivemos diferenças ali, porque o marido dela tinha uma posição conservadora; a parte mais política ele começou a mexer no espetáculo e a gente entrou num certo conflito. Mas, de qualquer maneira, a Regina não foi fazer anda lá, não tinha nada para ela fazer. Na verdade, a Funarte não existe, o Ministério… durante o governo Temer… a questão não é do governo Bolsonaro só, tanto que o próprio governo Temer dizia que o governo Bolsonaro é continuidade; eu concordo. O Bolsonaro veio para fazer a terra arrasada, mas na verdade todo esse desmonte da Cultura e o desmonte de um projeto, vamos dizer, desse ‘Brasil para todos’ que a gente sempre sonhou, ele começa depois do golpe da Dilma, em 2014…em 2016, né?

Então, ela vai para a Cinemateca. A Cinemateca é um espaço…a Cinemateca Brasileira é uma das maiores cinematecas do mundo; a gente tem aí um acervo extraordinário. Não é qualquer coisa. Então, ela vai ter uma grande responsabilidade na Cinemateca. Agora, quem vai substituir a Regina? Isso que é o pior, é o Mario Frias, que é muito mais inexpressivo que ela. Ou seja, é a mesma coisa que aconteceu com o Ministério da Saúde; o Mandetta não era o homem dos nossos sonhos, mas estava cumprindo um papel, aí veio Teich que ficou, vamos dizer, quase que ocupou um pequeno espaço. E agora vem a Regina que teve uma passagem meteórica, inclusive com momento extremamente constrangedor, que foi aquela entrevista dela, que foi lamentável, porque com aquilo, de uma certa maneira, ela vira as costas a tudo aquilo que ela construiu com anos de carreira, mas também é uma agressão ao artistas que participaram ativamente de processos e que… ela, de repente ela faz uma evocação nostálgica da tortura e da ditadura. Entendeu? Uma coisa absolutamente inacreditável, que eu não acreditei quando eu tava vendo. Mas que é apenas, você veja, é uma continuidade dessa devastação que acontece nesse momento do ponto de vista político, econômico, cultural do Brasil. Eu só queria que a gente pudesse pensar, vamos dizer, o que que a Regina vai poder fazer na Cinemateca. Eu não sei. Certamente é o que ela não fez em nenhum momento desde o momento que ela assumiu a pasta, né.

Paulo Markun: Sérgio… eu queria lembrar a todos que vocês podem fazer perguntas pelo Youtube, pelo Facebook para o Sérgio Mamberti, que é esse Conversas na Crise; é uma iniciativa do Instituto de Estudos Avançados da Unicamp e da TV Cultura. Vai ficar esse material gravado tanto no Facebook quanto no Youtube, portanto quem puder avisar os amigos e achar que alguém perdeu e que vale rever, peço que faça. Mas, eu queria colocar uma outra questão, há uma ideia difundida muito frequentemente de que os momentos de crise, de escuridão, enfim, de guerra, ditadura e tal são momentos de possibilidade criativa muito intensa. Eu tenho lá minhas dúvidas se isso é verdade, no sentido de que sempre penso que os tempos de liberdades são melhores e são mais ricos de possibilidades do que aqueles em que hpa ou censura ou tal situação económica que dificulta a criação. A pergunta que eu faço é a seguinte: você acha que essa pandemia, essa quarentena imensa e que não tem parece horizonte de terminar vai gerar produção cultural especial, específica e valorosa ou, digamos assim, a gente está perdendo qualidade da produção em função do próprio confinamento?

Sérgio Lamberti: Eu acho que é diferente do criar da época da ditadura. Quando nós fizemos um balanço em 84, era um projeto chamado Balanço Geral, era uma iniciativa de um grupo que eu fazia parte, que era o Núcleo Hamlet, a gente tentou fazer uma avaliação dos anos de chumbo – de 64 a 84. E a pergunta que a gente fazia era: o que aconteceu durante esse período em que nós fomos privados da nossa liberdade de expressão e que teve que, de uma certa maneira, que se falava era de se fazer, de nos expressarmos através de metáforas e coisas do gênero; ou seja, era quase de artifícios que permitisse que a gente sobrevivesse e que a gente de uma certa maneira pudesse ao mesmo tempo preservar um espaço de criatividade.

E aí eu tinha selecionado, não eu sozinho, um grupo de pessoas, nós tínhamos selecionado trinta textos importantes de teatro. Então, a gente não pode esquecer que justamente nesse período foi o período em que Plínio Marcos surge com o teatro dele, onde com o teatro dele ele coloca justamente os marginalizados no cenário cultural. Causou um cisma até na classe teatral em um determinado momento, porque o Estado de São Paulo começou a, embora já tive abandonado o barco dando o golpe e tivesse fazendo as receitas e aquela coisa toda, ele passou a censurar o Plínio por causa de uma circunstância que o Plínio recolhia, vamos dizer, através dos diálogo, da navalha, por exemplo, das expressões, o palavrão, né. Então, ele ficou cunhado como o autor do palavrão na época e tal, como o Nelson Rodrigues em um determinado momento também ficou estigmatizado como uma pessoa totalmente imoral, né, um homem de absoluta imoralidade.

Mas, era um conjunto de peças… o Vianinha escreve o texto mais importante dele nessa época;  e tem todo o período do Teatro de Arena

Paulo Markun: Teatro de Arena; o Opinião…

Sérgio Mamberti: O Opinião.

[falha transmissão do Sérgio Mamberti]

Paulo Markun: Sérgio, acho que você travou novamente. Enfim. Eu só vou lembrar que também nesse período a censura ao Plínio Marcos acabou levando a saída do jornalista Mino Carta da Direção da Revista Veja; essa foi a gota d’água num processo que já está relatado nos livros do Mino Carta sobre a saída dele da direção da revista Veja, foi nessa época. Mas, lembro também que as pessoas podem mandar suas perguntas pelo Youtube e pelo Facebook, nós vamos fazer assim que o Sérgio retornar. A equipe técnica está buscando aí o contato. E isso é uma das dificuldades dessa nossa plataforma que depende sempre da qualidade da conexão da internet; eu até vou perguntar sobre isso para o Mamberti, em que medida ela acha que acha que é necessário que o Estado interfira e atue nesse campo de prover internet para mais gente e principalmente internet gratuita, né, porque muita gente depende de conexões que não são acessíveis para todo mundo.

[volta Sérgio Mamberti]

Paulo Markun: Sérgio, falta voltar o seu áudio.

Sérgio Mamberti: Olha, Markun, o Ato Institucional Nº5 e aí ele conseguiu fazer, vamos dizer… a coisa ficou mais complicada. Mas, nós fizemos O Balcão nessa época, que era um espetáculo revolucionário, considerado um dos espetáculos mais importantes…

Paulo Markun: Com Ruth Escobar, né?

Sérgio Mamberti: É. A Ruth era uma transgressora, ela conseguiu com O Balcão atrair, inclusive, plateias internacionais, vinha gente de fora para cá. Ela fez o Festival Internacional de Teatro onde ela traz o Bob Wilson; ela fez seminários de peças proibidas. Ou seja… Agora,eu já vi gente, por exemplo, falando exatamente o contrário, “não, a ditadura é bom porque ela estimula a criatividade”. Aí já é meio que uma coisa…um absurdo, né. Mas, certamente durante o período da guerra também, a resistência francesa, do ponto de vista cultural também, ela de uma certa maneira, ela no pós guerra ela se expressa justamente na criação do Ministério da Cultura. A cultura passa a ter uma proeminência inclusive no âmbito da ONU com a UNESCO. Você veja que o ambiente da UNESCO, vamos dizer, de discussão das questões da cultura e da liberdade de expressão e dos direitos fundamentais, ele é um espaço privilegiado. Entendeu?

Mas, eu não sou adepto dessa teoria. Eu vejo muita gente falar assim “não, quanto mais difícil, mais [inaudível]”. Eu acho que a gente tem que lutar por um espaço de liberdade, um espaço onde a criatividade possa se expressar. Os períodos áureos, quando você pensa na literatura espanhola, não falo da literatura dramática, mas tô falando da Inglaterra de Shakespeare, da Espanha do Calderón de La Barca e tudo; foram espaços onde a cultura floresceu e que ela iluminou, ela trouxe uma… o que é o renascimento? Você sai de um período de repressão da Idade Média; e muitas vezes se fala também como se fosse um apagão a Idade Média. Não, muita coisa estava sendo produzida, mas dentro de um processo muito doloroso. E o Renascimento traz luz para tudo isso que foi gerado ali, né.

Mas, certamente, o espaço da liberdade e o espaço, vamos dizer, desse convívio saudável das pessoas poderem estar trocando as informações e tudo, para mim eu acho fundamental. Eu acho que a sua pergunta é muito pertinente, porque eu já vi algumas pessoas dizendo, tem gente que fala assim “não, mas a ditadura até que foi boa, porque era provocativa, fazia com que você se esforçasse para superar as dificuldades que eram impostas à gente”, né.

Paulo Markun: Você participou do Ministério da Cultura em um período comandado pelo Gilberto Gil em que houve um investimento e uma aposta muito forte na cultura digital, em novas formas de cultura que usavam a internet os meios digitais e também os pontos de cultura. Você acha que o governo deveria, digamos, promover a difusão da internet para o público que não tem isso? Por que, hoje em dia, nessa conjuntura que nós estamos vivendo neste momento há uma clara desigualdade adicional que é as pessoas que têm acesso à internet e as pessoas que não têm acesso à internet, e que obviamente é demarcado por condições socioeconômicas de renda, de onde a pessoa mora – se é nas grandes cidades ou nas periferias, ou se é no campo e na cidade.  Quer dizer, isso devia ser uma política de Estado e você acredita que isso possa vir a ser?

Sérgio Mamberti: Claro, totalmente, totalmente. E isso fazia parte das nossas preocupações. Inclusive, até organizações, sei lá, o Bill Gates tinha interesse em investir nessa área, numa redemocratização desses recursos digitais. Entendeu? É claro que, você veja, a minha empregada, a pessoa que é minha secretária do lar aqui ela assistiu a minha live no celular dela, na casa dela – em quarentena – junto com as filhas. Então, a gente já tem uma semente desse processo aí. Mas, na verdade a gente sabe que essa questão, o acesso às ferramentas digitais ainda está muito limitado. E tem o espaço também que tem que ser, vamos dizer, de uma certa maneira democratizado. A gente não pode estar sujeito, por exemplo, às fake news e essa concentração de poder, que de uma certa maneira se estabelece aí através de instrumentos.

Eu estava outro dia tentando ver aqui uma live e de repente eu vi assim “rateamento através do…” não sei mais o quê. Por causa da Globo Play, entendeu? Aí eu falei “uai, nós estamos sendo hackeados?”. Aí no dia seguinte – isso foi agora essa semana -, a Globo Play falou assim: duas vezes o nosso espaço foi invadido por hackers, por duas vezes, mas não há prejuízo para vocês que estavam usando o nosso aplicativo. Então, esse universo das fake news e que determinou, inclusive, a eleição fraudada – na minha opinião -, uma eleição muito discutível dessa última eleição presidencial, certamente são problemas com que a gente vai ter que lidar. Mas, esse espaço da internet, esse espaço digital é um espaço que tem que ser explorado e democratizado, sem dúvida nenhuma.

Paulo Markun: Sérgio, pergunta de Roney e também de Ana Luiza. Pedem para você… aliás, o Roney diz que o Castelo Rá-Tim-Bum faz parte da infância dele. Faz parte da infância de muita gente; só não faz da minha porque eu sou velho demais. Mas, fui um fã de carteirinha desse maravilhoso projeto incrível da TV Cultura que você participou.

Sérgio Mamberti: Ah, nem me fale!

Paulo Markun: Mas eles querem que você fale sobre o Flávio Migliaccio.

Sérgio Mamberti: Pois é. Bom o Rá-Tim-Bum, primeiro que quero falar do Rá-Tim-Bum porque realmente é um fenômeno mesmo de comunicação e principalmente dessa relação entre comunicação, educação e cultura. O Rá-Tim-Bum formou gerações e gerações. Eu não posso esquecer de chegar até hoje, hoje em dia, de pessoas de quarenta anos ou mais que chegam para mim em estado de comoção e falam assim “você fez parte da minha vida, fez parte da minha formação”. E falam como se fosse na hora, aquela coisa quase que um nervo exposto ali. De repente, a gente estava fazendo a campanha da Erundina, em 1997, estávamos na Praça da República, e de repente os meninos que cheiravam cola juntam… eu estava fazendo uma espécie de âncora ali, era uma programação onde a população vinha trazer questionamentos para a prefeita e o que queriam que fosse feito pela futura prefeita, né… e aí os meninos de rua vieram e me abraçaram, me chamando de Tio Victor. Eu falei “como é que vocês me veem?”, “não, é que tem aqui vitrines que têm televisão e a gente pede para passar o programa, e a gente fica assistindo da Vitrine”. De chegar numa aldeia indígena no Xingu, onde fomos eu e o Gilca lá, depois de uma cerimônia importantíssima religiosa deles e tudo, eles estavam recuperando o espaço da aldeia tradicional deles, os índios vindo todos paramentados, já com as suas pinturas corporais, grudam comigo; as mães dizem assim “Tio VIctor, tio Victor”. No meio de um festival de teatro, em Cádiz, de repente uma criança vem e fala “Tio Victor, tio Victor”; ela tinha passado férias no Brasil e tinha visto o tio Victor e me reconheceu no meio de uma praça no meio de um espetáculo de teatro em Cádiz, na Espanha. Então, é um fenômeno isso e certamente… O foco da pergunta, me desculpe, repete mais uma vez.

Paulo Markun: O Flávio Migliaccio.

Sérgio Mamberti: O Flávio foi um grande artista. Nós começamos em teatro, certamente ele começou na mesma época que eu; ele no Arena e eu estava no Grupo Decisão, que era do Abujamra. E o Flávio era uma pessoa que teve também uma formação política e cultural. E depois ele foi para a televisão e, vamos dizer, o espaço da televisão foi o espaço onde ele mais conviveu. Ele praticamente fez parte do teatro.. ficou num segundo plano. Mas, ele guardava toda essa memória do espaço, da presença dele no teatro; ele era fundamentalmente um ator de teatro, como formação, né. Agora, você veja que o que determina a morte dele é essa angústia desse espaço ter se estreitado. Ele tinha acabado de conquistar um prêmio; ele profissionalmente continuava contratado, ele tava com a subsistência dele garantida. Mas, eu diria que o que matou ali o Flávio foi essa angústia que todos nós estamos sentido de ausência de perspectiva, porque ele fala assim “85 anos que não valeram de nada”. Claro que ele estava em uma situação… ele entrou em um processo depressivo, o que é perfeitamente compreensível – já foi dentro do universo da pandemia, inclusive. Ou seja, a vida ali também estava ameaçada. Então, para mim foi como diz o Glauber, a morte do Flávio é um assassinato cultural. Embora ele tenha se matado, eu considero que é uma morte cultural; claro que tem um plano existencial que a gente não pode ignorar. Mas, eu acho que da mesma maneira que você vê de repente a Regina trair todo um ideário de nós artistas naquela entrevista, de repente o Flávio de repente ser privado no auge da sua carreira – porque tinha acabado de receber um prêmio, inclusive – e não ter mais ânimo para continuar vivendo é uma tragédia.

Então, são coisas que têm me mobilizado muito nesse momento, de ver coisas assim… Hoje, por exemplo, eu acabei de ver aqui, dentro desse universo perverso que a gente está vivendo, o menino de 14 anos que foi morto dentro de casa, estava brincando em casa. Entendeu?  Eu vi o pai dele se manifestando; de repente foi uma vida que foi roubada. Entendeu? Gente, nós temos filhos, nós temos netos! São assassinatos culturais que mexem profundamente com a nossa vida e que têm tudo a ver com essa morte do Flávio. Eu me senti roubado.

Paulo Markun: Sérgio, uma última pergunta. O nosso tempo está acabando, mas eu coloco uma última questão: nesse cenário que nós estamos vivendo, você é um otimista?

Sérgio Mamberti: Olha, eu nunca consigo ser um pessimista. Eu sou uma pessoa muito crítica e… eu não sou um otimista no sentido de “tá tudo bem”, mas eu acredito na capacidade de reinvenção do ser humano, eu acredito. Eu quero acreditar, embora não vá ser fácil, nada é de graça, então eu acho que nós temos uma oportunidade aí nessa crise. Eu vi ontem o Lula falando no jornal da noite, no Jornal da Globo, que há uma oportunidade de você rever coisas, de você tentar uma reconstrução e uma retomada, como o Pepe Mujica fala, como eu tenho visto várias manifestações e na peça que eu fiz do Plínio, O Homem do Caminho, que é um testamento poético, ele deixa uma carta para os atores em que ele fala que ele ‘arma poesia às margens dos córregos onde escoa a merda’, mas ele fala que ele não está sujeito às leis do reino da banalidade. Eu acho que esse ‘não estar sujeito às leis do reino da banalidade’ é que dá margem para a delirante fantasia e o sonho profético. Vamos pensar utopicamente; a utopia também faz parte desse momento que a gente tá. Então, eu acho que a utopia é que nos movimenta e nos mobiliza; certamente uma utopia que a gente vai ter que lutar para construir o plano real. Mas, eu acredito profundamente nessa utopia e nesse sonho. E quando eu penso nisso, eu penso no nosso querido Lula, que é um homem que viveu da utopia  que construiu esse processo tão rico na sociedade brasileira. Não posso deixar de prestar minha homenagem ao meu querido líder, meu querido mestre.