Os 
    desafios da floresta
  Carlos 
    Vogt
  No dia 06 de julho deste ano, uma quinta-feira, 
    quase à meia noite, a Câmara dos Deputados aprovou, finalmente, 
    o projeto de lei que trata da concessão de florestas públicas 
    para exploração sustentável da iniciativa privada, buscando 
    com isso, como já vem ocorrendo em outros setores - energia, rodovias, 
    telefonia, por exemplo - dinamizar os aspectos econômicos constitutivos 
    da riqueza de nossas florestas e, ao mesmo tempo, estabelecer-lhes um novo 
    paradigma de gestão comprometido com sua permanência e renovação.
  Ainda em maio deste ano tivemos, a partir 
    dos dados anuais do Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia 
    (Prodes), o aviso alarmante de que o Brasil, de agosto de 2003 a agosto de 
    2004, havia conhecido uma devastação correspondente a 26.130 
    Km2 pela ação predatória das derrubadas e das queimadas 
    de suas florestas.
  Várias medidas e iniciativas têm 
    sido tomadas, no país, visando a criar as condições para 
    uma gestão responsável de nossas florestas, entre elas a lei 
    de 1995 que constitui as Florestas Nacionais (Flonas), caracterizadas como 
    áreas de cobertura vegetal nativa suscetíveis ao manejo de seus 
    recursos naturais, com políticas de proteção de seus 
    recursos hídricos e condições para o desenvolvimento 
    de pesquisas ambientais e de biodiversidade.
  Dentro desse espírito, o governo 
    deverá criar a Flona do vale do Jamanxim, no Pará, com uma área 
    de 6 milhões de hectares e ali implantar e desenvolver um projeto de 
    gestão e de exploração sustentável da floresta 
    e de sua rica diversidade.
  Esse projeto já deverá acontecer 
    dentro dos marcos legais criados pelo texto aprovado na Câmara dos Deputados 
    e que, seguindo para o Senado e lá obtendo também aprovação, 
    permitirá trabalhar, sob o conceito da concessão monitorada, 
    a exploração sustentável das florestas numa parceria 
    entre o público e o privado que já mostrou, nesse setor, dar 
    excelentes resultados nos países escandinavos, embora não tão 
    bons com as florestas de países do sudeste asiático. Mesmo nesse 
    caso, o Brasil poderá sempre levar em conta, ao lado dos fatores de 
    sucesso, também os de insucesso das experiências já realizadas 
    - adequação, eficiência e eficácia dos critérios 
    da concessão, por exemplo - para implantação e desenvolvimento 
    de seu próprio programa.
  O fato é que já existem 
    experiências interessantes nessa linha. Uma delas, a que realiza o empresário 
    Fábio Albuquerque, na fazenda Presidente Prudente, em Rondônia, 
    a partir do que já havia realizado no bosque de Alphaville e em sua 
    propriedade em Itu, em São Paulo. Com área de 30 mil hectares 
    de mata nativa, perto do rio Madeira, a aposta nesse empreendimento está 
    em jogar as cartas do investimento na expansão do mercado de madeira 
    certificada, cujo crescimento, no Brasil, de 1998 a 2004, registra um aumento, 
    em área, de 80 mil para 1.3 milhão de hectares.
  Em nenhum desses casos trata-se de simples 
    reflorestamento mas de repovoamento, quando é o caso, da flora e da 
    fauna próprias do ambiente e de seu ecossistema particular.
  Há, pois, características 
    culturais positivas na atitude de muitos dos que lidam mais diretamente com 
    nossas florestas, incluindo aqueles que nelas vêem, e com razão, 
    um potencial econômico de grande e inesgotável força, 
    quando o tratamento dado à sua exploração obedece, de 
    maneira estrita, as regras do desenvolvimento sustentável e da preservação 
    ambiental.
  Tenho escrito que, no mundo contemporâneo, 
    é possível identificar três grandes desafios para o conhecimento. 
    O primeiro, é o que chamo desafio tecnológico e que deve responder 
    à questão, já anteriormente aqui anunciada, de saber 
    como transformar o conhecimento em riqueza; o segundo, é o desafio 
    ecológico que nos põe diante da questão de sabermos e 
    podermos estabelecer novos padrões de produção e consumo 
    capazes de atender às necessidades crescentes das populações 
    em todos os cantos da Terra, preservando, contudo, a qualidade de vida e o 
    equilíbrio ambiental no planeta; o terceiro, o da responsabilidade 
    social, é o desafio ético-pragmático, que nos põe 
    diante da necessidade da certeza de que sem o compromisso com a verdade, com 
    a bondade e com a beleza não seremos capazes de cumprir com integridade 
    nenhum dos desafios anteriores. 
  O projeto de lei aprovado pela Câmara 
    dos Deputados e que prevê a concessão de florestas públicas 
    para a exploração sustentável pela iniciativa privada, 
    criando também o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo Nacional 
    de Desenvolvimento Florestal, é um passo importante para que o país 
    esteja melhor capacitado para enfrentar esses desafios do conhecimento, conforme 
    acima apresentados, e constitui um refinamento saudável e eficaz em 
    matéria de políticas públicas nacionais voltadas ao tema 
    da vida e de sua diversidade em nossas florestas.