[an error occurred while processing the directive] Reportagens

Análise comparativa de rentabilidade de plantios florestais com as principais culturas agrícolas regionais

João Carlos Garzel Leodoro da Silva

O objetivo deste artigo não é encerrar uma discussão sobre plantios florestais vis a vis com culturas agrícolas, mas sim colocar mais uma luz nesse tema polêmico e complexo, onde, como pano de fundo, está o modelo de desenvolvimento rural implementado no Brasil.

Historicamente, frente ao modelo de desenvolvimento rural implementado no Brasil as florestas brasileiras foram, e ainda são, substituídas pela agricultura e pecuária, inclusive atuando como uma fonte de renda inicial para essas atividades, onde a venda da madeira possibilita reduzir os custos iniciais daquelas atividades.

Esta prática está concentrada atualmente nas regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil, onde se encontra a chamada “fronteira agrícola”.

Para as regiões Sul e Sudeste, essa mudança no uso do solo já ocorreu, inclusive acima do permitido por lei, aonde cada propriedade, deveria manter pelo menos 20% da vegetação nativa como reserva legal além das áreas definidas como preservação permanente.

Se tal fato tivesse ocorrido, teríamos nessas regiões áreas de vegetação nativa eqüitativamente distribuídas evitando, ou minimizando, vários problemas ambientais, além de possibilitar que a atividade florestal continuasse existindo com madeiras regionais.

Porém, o fato é que os dispositivos legais não foram cumpridos, estando, essas regiões, com um percentual bem abaixo do que é estipulado, e ainda existindo pressão sobre esses remanescentes, seja ainda para a transformação em uso agropecuário ou pela expansão urbana.

Entretanto, a partir da década de 60, o segmento florestal inicia uma nova fase no Brasil (que podemos chamar de “fase moderna” da silvicultura brasileira) com o incentivo fiscal implementado pelos governos da época (décadas de 60 e 70) para a implantação de florestas homogêneas, claramente visíveis nas regiões Sul (baseado principalmente em Pinus) e na região Sudeste (baseado principalmente em Eucaliptus), bem como houve uma política para a criação de cursos de Engenharia Florestal e centros de pesquisa nessa área.

Isto possibilitou a formação de maciços florestais homogêneos, a maioria deles ligados a grandes conglomerados industriais que necessitavam desse insumo para a sustentação do seu negócio.

Os produtores rurais não implantaram áreas de florestas em suas propriedades por várias razões, entre elas:

a) A questão do retorno a curto-prazo, ou seja, os produtores rurais normalmente atuam em atividades onde possam plantar e colher no mesmo ano (culturas anuais), ou em atividades que iniciem o retorno em poucos anos e a partir daí lhes dê uma renda anual (café, laranja), o que é perfeitamente normal. Como a visão para a atividade florestal é diferente, tudo o que foi possível ser transformado para atividade agropecuária foi realizado nas regiões Sul e Sudeste, sendo seguido pelas outras regiões.

b) A visão estatal que ainda impera, aonde o desenvolvimento rural se dá via atividades agrícolas ou pecuárias. Obviamente que são importantes e ninguém nega, porém o que se verifica é um desequilíbrio neste ponto:

1º - a responsabilidade pelas políticas para a agricultura e a pecuária a nível federal são do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, onde as mesmas são normalmente para o aumento da produção/produtividade,

2º - a definição de políticas florestais (que o segmento cita não existir) é realizada pelo Ministério do Meio-Ambiente, onde o que se verifica basicamente é uma política baseada para a conservação das florestas e não em uma política de incremento da atividade, com farta burocracia, diferentemente do que se verifica para a agricultura e para a pecuária.

Os próprios meios de divulgação mostram esta prática, onde a todo momento depara-se com notícias sobre recordes na produção agropecuária, apoio oficial para a agricultura, a importância para a economia nacional, ..., enquanto que sobre a área florestal são normalmente reportagens sobre desmatamentos ilegais, degradação ambiental, ...
Sem prejuízo à atividade agro-pastoril, várias perguntas podem ser realizadas, entre elas: Para o aumento da área de produção agropecuária, onde fica a floresta que estava naquele local, e quais as conseqüências negativas que advém de sua retirada? Ou então, qual a importância da atividade florestal para a geração de renda e empregos no Brasil (que não é pequena, principalmente se for considerada toda a cadeia produtiva) e manutenção ambiental? É possível mudar as políticas para atividades florestais incentivando-as (mesmo para nativas), com redução burocrática e manutenção dos maciços? Ora, uma atividade florestal bem planejada está bem próximo do que se deseja, um desenvolvimento sócio-econômico-ambiental.

c) Somando-se as estes pontos, existe ainda uma visão de que a atividade florestal possibilita ao agricultor um rendimento menor do que as atividades agrícolas. É natural, portanto, que os proprietários rurais não desejem floresta em suas propriedades: 1º - “demora” para investimento realizado; 2º - vasta burocracia, principalmente para a colheita da floresta, isto quando não são criadas novas leis tentando impedi-la, mesmo quando foram implantadas pelo próprio agricultor, e ainda 3º - há a visão de menor retorno. Então, porque (sob a ótica do proprietário) ter florestas nas propriedades rurais?

Porém, com o decorrer do tempo, as florestas que foram implantadas foram chegando no ponto de corte final, inicia-se outra fase na utilização de madeiras de reflorestamento, ficando a madeira fina para as indústrias de celulose, siderurgia e painéis, e a madeira de diâmetros maiores para outras indústrias que dela necessitam, agregando assim valor ao negócio florestal.

Ainda há um fator amplamente discutido que é o chamado “apagão florestal”. Significa que na região Sul e Sudeste a oferta de madeira está sendo menor do que a demanda, e as previsões de médio-prazo são de crescimento nesse diferencial, o que implica que os preços da madeira tendem a aumentar, tornando, portanto, mais atrativo o plantio florestal pelos proprietários rurais.

Obviamente que tais resultados não podem ser entendidos como “verdade absoluta”, visto que o mercado é extremamente dinâmico e os resultados econômicos podem mudar dependendo da resposta dos agentes às informações que recebem. Por exemplo, se houver um incremento intenso no plantio, as previsões de aumento de preço podem não se concretizar.

Com toda essa dinâmica e conscientização que está existindo sobre as florestas, visualiza-se então que os produtores rurais podem agregar renda e reduzir risco em suas atividades com a implantação de maciços florestais. A partir dessa concepção vários estudos foram ou estão sendo realizados por diversos institutos e universidades procurando modelos para otimizar a renda do produtor rural, via a implantação de florestas em suas propriedades, seja: a) no plantio florestal puro, b) de forma consorciada com atividades agrícolas e pecuárias, c) aproveitamento de recursos não madeireiros.

Via de regra, estes estudos mostram que é interessante a implantação de florestas nas propriedades rurais, somando-se também um fator ainda não profundamente estudado, porém compreendido como benefício, que é a redução de risco para os produtores A floresta, ou a árvore, não necessita ser explorada necessariamente no momento pré-determinado se na ocasião os preços não estiverem adequados. Pode-se não alcançar o ótimo econômico, porém pode-se esperar uma época em que os preços possam ser melhores, ou então explorar a floresta para reduzir prejuízos com a atividade agrícola que pode ocorrer a qualquer momento.

Está ficando claro que:

1º - deve-se eliminar o conceito tradicional de que a floresta não é viável economicamente para produtores rurais;
2º - deve-se aprofundar estudos sobre a viabilidade da inclusão de florestas nessas propriedades e sobre quais devem ser os modelos para maximizar as rendas das propriedades e redução de risco;
3º - deve existir a união de esforços do setor privado e público para essa implantação;
4º - há necessidade de reorganização do setor público no que se refere a florestas. Deve-se repensar ou criar políticas de incentivo a atividade florestal, inclusive, ser for necessário, colocar em pastas diferentes (ministérios e secretarias de estado) o que é floresta de produção e o que é floresta de proteção reduzindo a burocracia estatal para a atividade florestal produtiva (reduzir burocracia não significa reduzir controle);
5º - somente legislação restritiva não está impedindo a diminuição de áreas florestais, mesmo porque o problema não se encontra somente nesta atividade;
6º - deve-se utilizar melhor os mecanismos de mercado para incremento destas atividades inclusive para o incremento na oferta de produtos não madeireiros como uma forma de elevar renda aos proprietários rurais evitando a eliminação de áreas florestais.

Este é um ponto interessante. Há outros produtos que podem ser retirados da floresta além da madeira, possibilitando uma nova fonte de renda para o proprietário, tais como plantas medicinais e ou ornamentais, frutos, serviços como ecoturismo ....

Deve-se então ousar e encontrar novos modelos de políticas pública e privada para trabalhar com as florestas, visto que os resultados não são de curto-prazo, considerando inclusive que as atividades rurais podem ser complementares e não excludentes como se verifica atualmente.

Para um melhor entendimento da inserção de florestas em propriedades rurais, apresentamos de forma resumida dois resultados de pesquisas que finalizaram em dissertação (há também teses neste sentido) no curso de pós-graduação em engenharia florestal, área de concentração economia e política florestal. Outros trabalhos existem e podem ser vistos no site www.floresta.ufpr.br na área de pós-graduação ou na área da revista floresta. Outros centros de pesquisa também estão realizando trabalhos nessa área.

O primeiro resultou na dissertação de mestrado de José Sawinski Junior, defendida em 2000, intitulado “Rentabilidade econômica comparativa entre Pinus taeda, Eucalyptus dunnii, Ilex paraguariensis e as principais culturas agrícolas da microrregião de Canoinhas – SC”, que mostra alternativas de renda para o produtor rural via plantios de espécies florestais, bem como possibilitando a utilização da metodologia para análises em outros locais e com diferentes análises temporais (para mais detalhes sobre o projeto, clique aqui).

O segundo trabalho, de 2004, de Sueli Karling, teve como objetivo analisar a viabilidade da produção de Pinus em áreas ociosas, de propriedades agrícolas tradicionalmente produtoras de grãos da região de Guarapuava, através da otimização do uso dos fatores de produção terra, mão-de-obra e infra-estrutura. Considerou-se que os custos de produção de grãos são passíveis de rateio com a cultura do Pinus, e os dados foram levantados através do uso do software Gerente Rural, com preços praticados no ano de 2003. Os custos dos insumos da cultura do Pinus e os preços dos diferentes sortimentos de madeira em pé foram levantados nos principais pontos de comercialização destes produtos na região de Guarapuava (saiba mais sobre o projeto).


João Carlos Garzel Leodoro da Silva é engenheiro florestal, doutor em economia aplicada – área de marketing e estratégias, professor dos cursos de engenharia florestal, engenharia industrial madeireira e do curso de pós-graduação em engenharia florestal da Universidade Federal do Paraná. Contato: garzel@floresta.ufpr.br.

 

Versão para impressão

Anterior Proxima

Atualizado em 10/08/2005

http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

Licença Creative Commons
SBPC/Labjor
Brasil