O desafio ecológico

Por Carlos Vogt

O Brasil recua de si mesmo, briga contra si mesmo e, mais uma vez, como tem acontecido, perde para si mesmo. Seguindo, obediente, a decisão do presidente dos Estados Unidos, o presidente brasileiro ameaçou retirar o país do Acordo de Paris, voltou atrás, voltou atrás de traz, e até agora estamos sem saber de que lado do círculo de indecisões estamos.

Logo no início do mandato do atual governo federal, os encontros sobre mudanças climáticas, agendados para acontecerem aqui, foram transferidos para outros países, porque o governo se recusou a sediá-los.

Seguindo, obediente, a decisão do presidente dos Estados Unidos, o presidente brasileiro ameaçou retirar o país do Acordo de Paris, voltou atrás, voltou atrás de traz, e até agora estamos sem saber de que lado do círculo de indecisões estamos.

Enquanto isso o planeta esquenta e a Amazônia queima.

Mas não temos um planeta B, como gritado nas ruas de Nova York na manifestação de 250 mil pessoas que, juntamente com outras em vários países, antecedeu, em setembro, a Cúpula do Clima da ONU, convocada pelo secretário-geral, António Guterrez.

Calcula-se em 4 milhões de pessoas a presença nas diversas manifestações que deram força e sonoridade militante ao movimento “Frydays for Future”,  iniciado como protesto silencioso, em agosto do ano passado, e que se alastrou pelo planeta como a consciência indomável da juventude que não quer ver o planeta sucumbir aos desmandos econômicos e financeiros de governos da minoria que concentra, de forma desigual e injusta, a maior parte de toda a riqueza do mundo.

Ao desequilíbrio ecológico e ambiental corresponde, em proporções semelhantes, o desconcerto social, econômico, político e cultural que embasa a desarmonia da vida contemporânea.

É o que aponta, por exemplo,  a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) aplicada no Brasil, desde 2012, pelo IBGE. Segundo a pesquisa, cerca de 104 milhões de brasileiros, metade da população, vivia em 2018, com R$ 413,00 por mês e  o 1% mais rico ganhava 40 vezes mais do que isso.

O problema, ainda maior, é que o país está retrocedendo e, sobre os escombros das ruínas que se anunciam, o governo alardeia, tartamudeando imprecações, a balela ideológica da confusão mental como clarividente revelação da nova Canaã.

Não há como tergiversar com a questão das mudanças climáticas e com o tema das desigualdades sociais. Não há ideologia, não há interesses que se sobreponham à manifestação simples, direta, objetiva e sincera de todos que se unem e em uníssono proclamam: Não há planeta B!