Parábola de mulher

Por Carlos Vogt

Primeiro os homens

chuparam-lhe as consoantes do nome

depois os mesmos nomes

cegaram-lhe as vogais dos seios

no dia azado em que a morte veio

cheia de estandartes rotos e sem ânimo

para as rituais alegorias de passagem

encontrou-a muda estirada humana

o sexo seco

em meio a ventres esticados de eloquência

tudo como estava escrito

que assim convém à saciedade anônima

Poema publicado, originalmente, no livro Geração, São Paulo: Brasiliense, 1985, p. 52; retomado no livro Poesia reunida, São Paulo: Landy Editora, 2008, p. 196.