Cai a visitação dos Museus de Ciência no Brasil: como reverter esse quadro?

Por Bianca Bosso

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) divulgaram recentemente os resultados da Pesquisa Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil 2019. Entre os resultados da pesquisa, aplicada a 2200 pessoas, está o fato de a visitação a locais de Ciência e Tecnologia (C&T) ter diminuído em relação às pesquisas anteriores. Os museus de ciência e tecnologia são um dos locais menos visitados. A pesquisa foi apresentada durante a 71ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que aconteceu no final de julho na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Segundo o relatório, as principais razões para os entrevistados não terem visitado um museu são a falta de interesse em atividades em espaços de C&T e problemas de acesso (“não sabe onde há museus deste tipo em sua região”; “fica muito longe”).” Luciana Noronha, especialista em divulgação científica, aponta outras possíveis razões para esse distanciamento: “É interessante lembrar que as redes sociais e tecnologias ligadas à internet consomem cada vez mais tempo livre dos indivíduos, especialmente dos mais jovens, e se apresentam como opções de entretenimento cômodas e baratas. Isto é agravado pela crise econômica, que dificulta o acesso da população aos seus aparatos culturais”.

Apesar de atualmente desempenharem diversas funções que abrangem ações de ensino, pesquisa científica e projetos extensão (que possibilitam a participação da sociedade nas atividades desenvolvidas na academia), ainda é comum a ideia de que museus são somente espaços de armazenamento e exposição de antiguidades – função primordial em sua origem.

Com um grande alcance geográfico e uma imensa potencialidade, muito há a fazer com e por meio das instituições museológicas. O site Museus Br é uma plataforma que registra 3786 museus localizados em toda a extensão do país e disponibiliza informações sobre 88 projetos museológicos que incluem, além de exibições, feiras, cursos, oficinas e outras diversas atividades.

Os museus universitários, aqueles vinculados a instituições de ensino, costumam utilizar seus espaços para promover ações educativas para os mais diversos públicos. Um exemplo é o projeto O Vale dos Dragões, realizado por alunos de graduação em biologia na Unicamp, que utiliza o espaço do Museu Exploratório de Ciências para promover atividades de ensino para o público infanto-juvenil. Segundo João Victor Verçosa, um dos criadores e desenvolvedores do projeto, “sair da sala e ir ao museu permite uma nova abordagem de aprendizagem, podendo estimular um pensamento crítico e emancipatório – que é o que buscamos com o projeto”.

Outros museus também utilizam seus espaços e exposições para divulgar o conhecimento para o público não especializado: o MAE (Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná) possui, atualmente, três programas e oito projetos voltados para a sistematização do conhecimento local e para a acessibilidade do público. Além disso, diversos museus possuem programas de pesquisa. Antes do incêndio que devastou parte de seu acervo, em 2018, o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, por exemplo, era considerado referência em excelência de pesquisa em seus Departamentos de Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia, Vertebrados e Invertebrados.

Extração de DNA utilizada pelo projeto O Vale dos Dragões para ensinar sobre diferenciação celular e DNA. O projeto é desenvolvido no e com o apoio do Museu Exploratório de Ciências – Unicamp.
Programa de Difusão Cultural desenvolvido pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal do Paraná. Imagem retirada de www.mae.ufpr.br/?page_id=45.

Para estimular a visitação desses locais, políticas mais eficazes de comunicação podem ser estabelecidas entre a sociedade e os espaços museológicos, permitindo um acesso mais amplo às atividades desenvolvidas. Para Luciana Noronha, “é essencial que a população saiba da existência desses centros, que tenha acesso à programação dos locais e que possam apropriar-se desses espaços”. Uma das possibilidades, segundo a pesquisadora, é usar as redes sociais como aliadas no processo de aproximação com o público.

João Victor Amorim, do projeto “O Vale dos Dragões” (que possui perfis nas redes sociais), enfatiza que tenta implementar essas medidas com os participantes das oficinas. “Às vezes, para as crianças, conhecer museus pode parecer sinônimo de algo chato e velho, mas tentamos mostrar o quanto pode ser bem divertido”, diz.