Nos alimentamos, nos vestimos e nos protegemos com cores

Por Fauze Jacó Anaissi

As cores nos influenciam muito antes de nascermos. A mulher, ao descobrir que será mamãe, visualiza quase automaticamente (por condicionamento cultural) o bebê vestido de rosa ou azul mas no decorrer da gestação adquire roupinhas de tons amarelos e verdes, por serem consideradas neutras e para não perdê-las, caso o exame que revela o sexo do bebê não seja realizado. Neste caso a cor influencia economicamente o que vai ser adquirido.

Ao crescer, nossa percepção pela cor nos faz entender rapidamente que vermelho significa perigo ou pare, enquanto o verde significa siga em frente. Não por acaso, as cores vermelho e verde compõem um dos eixos do sistema de cores da Teoria de Cores, espaço de cor CIELAB. Por outro lado, daltônico não distingue as cores verde, vermelho e azul. Assim, o semáforo é composto por três círculos de cores diferentes: vermelho, amarelo e verde. Neste caso o amarelo foi escolhido por ser a cor com maior cumprimento de onda, facilitando que todos os motoristas percebam que haverá mudança de sinal, do verde para vermelho, e que se diminua a velocidade e pare.

Em nosso primeiro contato com aprendizado, recebemos com alegria o uniforme colorido que caracteriza a escola, e temos a primeira empolgação por ganhar um conjunto de lápis de cor com 12, 24, 48 até 72 cores. São tantas cores que temos dificuldade de diferenciar ou saber usar os vários amarelos, azuis, vermelhos e verdes. Para complicar, agora ainda tem os lápis tons pastel. Por que tantas cores? Como é possível ter tantas cores?

A cor é resultante de um componente chamado pigmento ou corante. Corante geralmente é transparente e tem brilho, por exemplo os utilizados em canetas hidrográficas (canetinhas coloridas), balas de goma e alimentos em geral. Pigmento é opaco e com pouco brilho, como os encontrado em lápis de cor ou tintas imobiliárias.

A dosagem de pigmento ou corante resulta na tonalidade ou tonalidades. Por exemplo, temos um vermelho intenso ou forte (forma como enfatizamos o quão vermelho é alguma substância). Podemos ter vários tons de vermelho dispersando o pigmento/corante em açúcar, água ou farinha (pó branco). A quantidade da substância colorida dispersada irá nos dar um vermelho mais fraco ou menos intenso. Assim, temos uma palheta de cores.

Aprendemos que a sombra de uma árvore frondosa é mais fresca que a sombra de uma casa ou edificação civil. Por que será? As árvores são revestidas de muitas galhos e folhas verdes, e o verde é uma cor fria.

As cores são divididas em quentes e frias. Cores quentes (vermelho, laranja, amarelo e verde claro) absorvem a radiação térmica que compõe a luz solar, a radiação infravermelha, de que devemos nos proteger quando vamos à praia ou caminhar em dia ensolarado. Cores frias (verde escuro, azul claro, azul escuro, violeta e rosa) refletem a radiação térmica, esfriando embaixo das flores. Assim, as árvores mais frondosas e com folhas mais verdes serão mais frescas. À medida que as folhas envelhecem, amarelam e assim serão menos frescas. O envelhecer aqui é sinalizado pela mudança de cor, sabemos que o outono está chegando e que podemos ter um inverno rigoroso.

Com essa percepção, quando vamos ao supermercado ou sacolão de hortifruti, escolhemos as verduras e frutas pelas cores. Folhas e alguns legumes pela cor verde ou tons de verde; frutas em geral pela cor vermelha, amarela ou laranja.

Dificilmente adquire-se frutas verdes, pois o propósito é de consumir logo. Banana verde – terrível, não dá para comer; banana amarela – maravilha, geralmente doce; banana escura passou do ponto de consumo, faz-se doce. E no caso da melancia, como saber que está madura sem abrir? Geralmente, o indicativo é o ramo seco (rabinho). Porém, se amarelar a casca, certamente passou do ponto de consumo, e o melhor é descartar.

A combinação de cores dos alimentos indica qualidade de vida. Certamente toda a quantidade de ingestão diária recomendada (IDR) de nutrientes e sais minerais será consumida e atenderá as necessidades nutricionais do indivíduo.

Quando caminhamos descalços em dia ensolarado, buscamos partes mais claras para não queimar o pé. Sabemos logo que o asfalto (cor preta) queima os pés. Em corridas de automóvel, como na Fórmula 1, aquecimento dos pneus é obtido pelo atrito com o asfalto, e para aumentar esse atrito no início da corrida os pilotos andam em zigue-zague, de forma quase sincronizada, pneus pretos em asfalto preto, transferência de calor.

Há pensamento de asfalto ecológico, não totalmente preto, para diminuir o aquecimento do planeta. Lembremos que as florestas são uma vastidão de árvores frondosas que refletem a radiação térmica, por outro lado, asfaltos cobrem grande parte das cidades, e contrabalanceiam a ação das árvores.

Cor preta significa soma de todas as cores, ou absorção de toda radiação solar, por isso esquenta muito. Cor branca reflete todas as cores do espectro, ou reflete grande parte da radiação solar, desta forma proporciona ambiente mais claro, mais iluminado.

Podemos ter pisos frios e pisos quentes, as cores definem certas práticas atléticas. Pisos de corrida são de cor quente, que absorvam a radiação térmica solar. Imaginem correr numa pista azul ou verde, cores frias irão refletir a radiação solar nas pernas dos atletas provocando queimaduras. Mas a grama é verde e os jogadores atuam sobre elas, sim, mas geralmente os jogos são no fim de tarde (radiação solar menos intensa) ou a noite. Há ainda estádios cobertos.

Pensando assim, a roupa com que praticamos esporte deve ser clara ou escura? Quente ou fria? Em ambiente fechado de academias é indiferente; contudo em ambiente aberto devemos escolher branco ao invés de preto, cores frias e não as cores quentes.

Quando se fala em esportes, vêm as cores de clubes e de torcidas. Clubes bicolores – alvinegro (branco e preto), e rubro-negro (vermelho e preto); clubes monocromáticos (verde, azul, vermelho, amarelo); tricolores (são várias combinações de três cores: preto-branco-vermelho; preto-branco-azul; branco-vermelho-azul etc.). As cores representam um país: Brasil: verde-amarelo-azul-branco, as mesmas cores utilizadas pela seleção brasileira de futebol, confederações e associações desportivas quando vamos às Olimpíadas representando o Brasil.

E o que dizer da cor da pele ou dos olhos? Indicam uma etnia, uma raça. Podem também, em certas circunstâncias, indicar uma doença. Pele no verão deve ser bronzeada e brilhante, brilho natural indica aumento de melanina. Cores de pele podem compor uma palheta de cores (Pantone image).

E a cor dos olhos? John Moores, investigador biomolecular, explica que a cor dos nossos olhos é o resultado da variação de uns doze ou treze genes que afetam também outras partes do corpo. Por exemplo, a melanina não só faz que os nossos olhos sejam mais escuros, também faz as pessoas mais suscetíveis ao álcool. Aproximadamente 90% da população tem olhos castanhos, enquanto só 7% tem olhos claros, principalmente nos Estados Unidos e nos países do Leste Europeu. Olhos de cor escura, significa que o corpo tem mais melanina. Este pigmento da pele também determina a cor do íris.

A água por definição é inodora (sem cheiro), incolor (sem cor) e insípida (sem gosto). Porém, o que determina as cores das águas dos rios e mares? Profundidade, presença de algas, sedimentos, contaminação. As gotículas de água agem como pequenos espelhos, refletindo a luz à sua volta. Desta maneira, a aparência azulada da superfície do mar é devido ao reflexo da cor do céu. Em dias nublados o mar fica acinzentado. A cor azul (comprimento de onda menor) penetra mais profundamente a água do que as cores com comprimento de onda maiores (vermelho, amarelo e verde), o que torna o fundo do mar também azul. Quanto mais profundas as águas, mais escura é a tonalidade do azul devido à dificuldade de penetração dos raios de luz. Abaixo de 2.000 metros de profundidade, a luz não penetra mais e o mar é preto.

O efeito de reflexo da luz pelas moléculas de água, nós observamos na forma de arco íris, que é o fenômeno de separação das cores que compõem a luz solar. Neste caso, as gotículas atuam como prisma de difração, decompondo a luz branca nas cores que a compõem, menor comprimento de onda (cor fria – azul) para maior comprimento de onda (cor quente – vermelho).

Nascemos, crescemos e nos desenvolvemos sob o domínio das cores. Muitas vezes de forma despercebida ou sem a importância que a cor merece. Gostamos de cores chamativas. Final de ano pensamos nas cores (branca, amarela, vermelha, azul, verde) para nos vestirmos, cada cor com seu significado ou superstição. Esperamos e desejamos que a cor escolhida nos guie no ano que se inicie e se as expectativas não corresponderem, passamos a evitar essa cor.

Onde há cor, há vida! Nos alimentamos de cores, nos vestimos com cores, nos protegemos com cores. Como viver sem cor? Todos deveriam conhecer um pouco as cores para ter mais alegria, saúde e gratidão com a vida.

Fauze Jacó Anaissi é professor associado do Departamento de Química da Universidade Estadual do Centro-Oeste e prepara pigmentos inorgânicos sintéticos desde 2012.

Lattes iD: http://lattes.cnpq.br/5901381058926593

Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-5454-472X

Para saber mais:

Semáforo (https://www.significados.com.br/semaforo/)

Teoria de Cores (https://www.significados.com.br/teoria-das-cores/).

Espaço de cor CIELAB (http://sensing.konicaminolta.com.br/2013/11/entendendo-o-espaco-de-cor-lab/).

Cor preta (https://www.significadosbr.com.br/cor-preta)

Cor branca (https://www.significados.com.br/cor-branca/)

IDR (http://www.ripsa.org.br/lis/resource/935#.XmV_yahKiUl)

Cor da pele (https://br.pinterest.com/pin/485333297344034162/)

Melanina (https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/biologia/melanina.htm)

Cor dos olhos (http://www.odousinstrumentos.com.br/blog/2017/03/29/como-e-determinado-a-cor-dos-olhos/)

Cor das águas do mar (https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-a-cor-do-mar-varia-tanto/)

Cores para fim de ano (https://www.todamulher.com.br/geral/significado-das-cores-para-o-ano-novo/)