Programas científicos e sociais na Amazônia
   
 
Poema

Da pangéia à biologia molecular
Adalberto Luís Val

A biodiversidade e o novo milênio
Vera de Almeida e Val
Contrastes e confrontos
Ulisses Capozoli
As línguas indígenas na Amazônia
Panorama das línguas indígenas
Ayron Rodrigues
Lucy Seki e o indigenismo
As várias faces da Amazônia
Louis Forline
Euclides da Cunha
Isabel Guillen
Yanomami
Saúde dos Índios
Amazônia e o clima mundial
Manejo florestal
Niro Higuchi
Impactos ambientais
Cooperação internacional
Energia e desenvolvimento
Ozorio Fonseca
Interesse internacional
Programas científicos e sociais
Internacionalização à vista?
Indústria de off shore na selva
Marilene Corrêa da Silva
Peixes ornamentais

Produtos da Biodiversidade
Lauro Barata
Missão de pesquisas folclóricas

Radiodifusão para indígenas
Mamirauá
Vídeo nas aldeias
A música dos Urubu-Kaapor
 

A Amazônia é um território que apresenta muitos interesses e desafios para pesquisas, geradas pela necessidade de preservação e desenvolvimento científico e sociais das várias regiões da floresta, das populações e das riquezas naturais.

Esse potencial leva à existência de órgãos e instituições interessadas em desenvolver programas de pesquisa e auxílio às questões sociais e científicas da Amazônia. Os programas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), do Museu Paraense Emílio Goeldi, do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) e do Exército Brasileiro na Amazônia trabalham para esse desenvolvimento. As suas pesquisas estão, em sua maioria, relacionadas à biodiversidade, preservação do meio ambiente, educação e saúde da população.

O INPA é uma instituição federal vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Foi criado em 1952 durante o governo de Getúlio Vargas. A fundação do instituto foi um ato simbólico em resposta a proposta da Unesco de criar o Instituto Internacional da Hiléia Amazônica, porque o governo getulista apresentou resistências nacionalistas à proposta.

Desde 1993, a proposta do instituto é gerar, promover e divulgar conhecimentos científicos e tecnológicos da Amazônia, para a conservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável dos recursos naturais, em benefício principalmente da população regional.

Atualmente, o INPA está com duas importantes agendas de pesquisas: o Programa de Pesquisas Integradas (PPI) e o Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais (PPG7).

Em 1993, o INPA constatou a existência de 230 projetos fragmentários e identificou 16 linhas de pesquisas de interesse regional. Essas linhas foram agrupadas em sete conjuntos que foram integrados ao PPG-7 e ao Programa de Coleções e Acervos que passaram a constituir os Programas Institucionais. Desde então, a agenda de pesquisas é revista e reformulada a cada dois anos. A nova agenda será definida em 2001.

A agenda de pesquisa definida em 1999 implementou dois programas de pesquisas: Ecossistemas Amazônicos e Recursos Naturais. Esses programas estão relacionados com o objetivo de consolidação de projetos relacionados à geração de conhecimento científico e tecnológico sobre a Amazônia, à conservação do meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável dos recursos naturais em benefício, principalmente, da população regional.

O Programa de Ecossistemas Amazônicos reúne 21 projetos com o objetivo de gerar conhecimentos para a caracterização dos organismos da flora e da fauna da região amazônica, procurando determinar as espécies, interpretar suas origens, distribuição e inter-relações, dimensionar suas adaptações bióticas e abióticas e avaliar como interagem entre si, com o ambiente e com o ser humano. O Programa de Recursos Naturais envolve 17 projetos e busca gerar conhecimentos visando ao aproveitamento de recursos naturais por meio de tecnologias apropriadas, possibilitando um manejo adequado desses recursos. Visa também gerar conhecimentos e produtos para o desenvolvimento de sistemas de produção rural sustentáveis e compatíveis com as características ecológicas, econômicas e sociais da região.

O PPG-7 foi instituído a partir da RIO-92 e viabilizou a captação de recursos financeiros estrangeiros para o financiamento de iniciativas de proteção às florestas tropicais do Brasil. A Comissão de Coordenação Conjunta do programa é composta por representantes dos ministérios da Ciência e Tecnologia, Meio Ambiente, Justiça, do Banco Mundial, Integração, Planejamento e Orçamento, Comissão das Comunidades Européias e ainda os sete países financiadores: França, Reino Unido, Itália, Alemanha, Países Baixos, Japão e Estados Unidos.

O programa tem como metas: demonstrar que é possível harmonizar objetivos econômicos e ambientais em florestas tropicais; proteger os imensos recursos genéticos das florestas tropicais; reduzir a contribuição da Amazônia às emissões globais de gás carbônico; e oferecer um exemplo de cooperação internacional entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento em questões ambientais globais.

Outra instituição importante de pesquisa na Amazônia é o Museu Paraense Emílio Goeldi que tem quatro departamentos de pesquisas: Ciências Humanas (antropologia, arqueologia, lingüística), Botânica, Zoologia e Ciências da Terra.

O museu foi criado em Belém em 1866 por Domingos Soares Ferreira Penna, mas foi consolidado por Emílio Goeldi no período de 1894 a 1907.

O departamento de Botânica realiza pesquisas sobre a flora amazônica com intenção de conhecê-la, conservar os ecossistemas e auxiliar na solução de problemas específicos da região. O Herbário João Murça Pires, criado por Jacques Huber em 1985, possui mais de 150 mil plantas secas. Outras coleções, com milhares de amostras de sementes, frutos, madeiras, pólen e cortes histológicos, fazem parte de outros acervos do departamento.

Ecologia é outro departamento que realiza investigações científicas multidisciplinares ligadas à evolução dos ecossistemas amazônicos. O acervo paleontológico tem mais de 6 mil espécies e mais de mil amostras de minerais. Já os estudos em zoologia tem como objetivo inventariar a fauna amazônica, a análise de sua distribuição geográfica, o comportamento, a relação com meio ambiente e de parentesco entre as espécies. Os resultados destes estudos são utilizados por outras pesquisas que envolvam a elaboração de planos de conservação do meio ambiente e o manejo da fauna. O acervo zoológico chega a cerca de 150 mil espécies e possui uma coleção de mais de um milhão de exemplares de invertebrados.

O departamento de Ciências Humanas do museu compreende estudos arqueológicos, antropológicos e lingüísticos que tem como objetivo comum a ampliação dos conhecimentos sobre as populações contemporâneas e pré-históricas da Amazônia. O museu tornou-se um centro de referência por suas coleções etnográficas e arqueológicas. A coleção arqueológica reúne mais de 81 mil peças e fragmentos de cerâmica, artefatos líticos e outros achados coletados nos vários sítios arqueológicos da região. A área de lingüística dedica-se a descrever e analisar as línguas indígenas para a alfabetização. A produção de material didático também é executado como forma de reverter o processo de extinção de algumas línguas.

Entre os programas de pesquisa em desenvolvimento no Museu estão o Projeto Bacia do Rio Anapu e o Programa LBA - Experimento de Larga Escala da biosfera-Atmosfera da Amazônia.

O projeto Diagnóstico Ambiental e Sócio-Econômico da Bacia do Rio Anapu deverá ser realizado entre 2000 e 2003. O diagnóstico deverá analisar parâmetros chamados abióticos - clima, hidrologia, geologia, pedologia, biótico - fitofisiomania, diversidade florística e zoológica, ecologia e recursos naturais - e sócio-econômicos - colonização passada e presente, economia extrativista, educação, saúde e organização social dos habitantes da bacia.

O programa LBA tem como objetivo estudar as relações entre a biosfera-atmosfera da floresta amazônica. Este programa será realizado em parceria com dezenas de instituições nacionais e internacionais, entre elas o Museu Goeldi, a Universidade Federal de Viçosa, a Universidade Federal do Pará, a Embrapa, entre outras. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), organismo do Conselho Nacional dos Bispos do Brasil, foi criado em 1972. Segundo documento da Assembléia Nacional do Cimi de 1995, o objetivo de sua atuação é o seguinte "Impulsionados(as) por nossa fé no Evangelho da vida, justiça e solidariedade e frente às agressões do modelo neoliberal, decidimos intensificar a presença e apoio junto às comunidades, povos e organizações indígenas e intervir na sociedade brasileira como aliados(as) dos povos indígenas, fortalecendo o processo de autonomia desses povos na construção de um projeto alternativo, pluriétnico e pluricultural".

Segundo o Cimi a missão de cerca de 400 missionários envolve ações pela terra, pelo movimento indígena, por alianças com outros grupos, pela autonomia dos povos indígenas e pelo auxílio na educação, saúde e desenvolvimento da auto-sustentação dessa população. A característica mais forte da presença dos missionários está no diálogo religioso.

Segundo o coordenador de comunicação e divulgação da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) Miguel Batista Maia, da etnia Tukano, agora há um relacionamento mais harmonioso entre as comunidades indígenas e os missionários, porque "a diocese tem dado mais apoio às comunidades através de ecolarização bilíngue, a aceitação da cultura indígena e mais abertura para as discussões".

O Exército Brasileiro atua no território amazônico desde o início do século XVII, quando os portugueses passaram a desbravá-la e consolidando sua posse. O Comando Militar da Amazônia foi criado em Belém em 1956. Dez anos depois o quartel foi transferido para Manaus onde está até hoje.

Programas Ecológicos e para Saúde da população amazônica têm sido prioridade na atuação do exército na região. As Seções de Saúde dos Pelotões Especiais de Fronteira trabalham pelas ações preventivas, direcionada à educação sanitária, pré-natal e vigilância ao parto normal; ao crescimento normal da criança e do adolescente e a profilaxia das doenças transmissíveis e da cárie dental. O programa tem o auxílio de uma rede hospitalar do Exército Brasileiro na Amazônia composta por seis hospitais.

Algumas organizações indígenas acreditam como a FOIRN acreditam que a assistência do exército precisa ser efetivas. "Temos um bom relacionamento com eles, mas ainda falta diálogo", afirma Maia.

O programa ecológico envolve a manutenção de áreas verdes e a preservação de mananciais e cursos de água. Segundo o Exército, o programa pela manutenção de áreas verdes tem o objetivo de regular a participação das organizações militares em programa de apoio à Unidades de Conservação Ambiental em conjunto com campanhas promovidas e associadas ao Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal.

Em 1997, o Ministério do Exército e o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA) selaram um Acordo de Cooperação Ambiental visando a apoiar programas de ecologia e manutenção de áreas de reconhecido valor ambiental, em particular, das Unidades de Conservação Ambiental sob o controle do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). O programa de preservação de mananciais e cursos de água tem objetivo de realizar uma ação educativa em relação às responsabilidades com os recursos hídricos da região.

A principal atuação do Exército na região corresponde ao Tratado de Cooperação Amazônica assinado por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela. Todos esses países têm regiões amazônicas em seus territórios e concordam em empregar esforços pelo desenvolvimento harmônico da Amazônia. Esse tratado envolve também a segurança do país em seus territórios fronteiriços.

No final de outubro aconteceu em Manaus a reunião de 24 ministros de defesa das Américas. O Plano Colômbia tornou-se um tema polêmico e embaraçoso durante o encontro. O governo colombiano espera conseguir o apoio de outros países para combater o narcotráfico.

Há mais de 40 anos a Colômbia convive com guerrilhas. O plano tem por objetivo uma grande operação para retomar o desenvolvimento econômico e social do país, com ênfase no combate ao narcotráfico e à guerrilha que domina algumas regiões.

O exército brasileiro tem cerca de 580 soldados prontos para o combate na fronteira da região amazônica com a Colômbia. O Plano Colômbia vai custar cerca de US$ 7,5 bilhões, sendo que os EUA contribuirão com US$ 1,3 bi. O Brasil intenciona investir até US$ 10 bi na modernização das Forças Armadas para enfrentar o desafio de garantir a integridade da Amazônia.

   
           
     

Esta reportagem tem
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15,
16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25, 26, 27
documentos
Bibliografia | Créditos

   
     
   
     

 

   
     

Atualizado em 10/11/2000

   
     

http://www.comciencia.br
contato@comciencia.br

© 2000
SBPC/Labjor
Brasil