Inovação aberta impulsiona o avanço científico

Por Paulo César Ferraz

O conceito de inovação aberta, criado em 2003 pelo acadêmico americano Henry Chesbrough, diz respeito à prática de interagir com diferentes parceiros visando novos patamares em uma organização pública ou privada. Fugindo do chamado modelo linear de inovação, em que uma única empresa realizava todo o processo de criação de um produto até sua chegada à sociedade, a inovação aberta se caracteriza pela abertura do negócio para o mercado e o fortalecimento de parcerias externas. Cada vez mais comum, essa prática dá à instituição ou negócio a chance de atingir maiores números e desenvolvimento no mercado em que está inserida. Segundo explica Nanci Gambim, gerente de inovação aberta do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), “está no ato de identificar e interagir com os diferentes atores do ecossistema no qual se faz parte, em prol de potencializar e agregar valor aos negócios”.

Também chamado de inovação por feedback, esse modelo de negócios altera o desenvolvimento de novas tecnologias, fazendo com que todo o processo seja acompanhado do retorno das outras partes envolvidas e a comunicação entre os times aconteça em cada etapa. “As fases de produção não acontecem necessariamente uma depois da outra, há maior interação com as instituições e organizações do ecossistema. Aqui, os atores não estão mais dentro de uma mesma organização, responsável pelo processo do início ao fim”, afirma Nanci.  No caso das universidades, a inovação aberta pode ser praticada, por exemplo, ao interagir com empresas privadas em busca de recursos financeiros para a aplicação de estudos científicos. Com as empresas, uma das possibilidades é o investimento e possível lucro de comercialização ao desenvolver novas tecnologias a partir de estudos com pesquisadores ainda de fora do mercado.

Na inovação aberta, a organização pode contar com inputs vindos do mercado e de outros parceiros desde a fase inicial. Tecnologias já desenvolvidas podem ser inseridas em processos da pesquisa científica ou mesmo uma tecnologia nova, ainda sem aplicação de mercado, pode se encaixar em outro projeto de inovação. De acordo com Nanci, não existe “receita de bolo” para praticar inovação aberta em uma organização, seja ela de pequeno, médio ou grande porte: “as proporções com que você pode interagir com cada ator do ecossistema tem que fazer sentido na sua estratégia organizacional”. Porém, a pesquisadora alerta: “a empresa que olha só para si perde chances muito grandes, ou está correndo o risco de ser deixada para trás, às vezes por uma pequena empresa, que está se desenvolvendo rapidamente e ampliando mercado”.

Na Unicamp, um dos vários exemplos de inovação aberta é o Centro de Pesquisa em Inteligência Artificial, ou Brazilian Institute of Data Science (Bi0s), que desenvolve soluções em ciência de dados e Inteligência Artificial (IA) para problemas diversos, conectando o mundo acadêmico com empresas privadas, startups, setor público e sociedade em uma parceria de inovação integrada. Para Herman Bessler, coordenador de negócios do Bi0s, construir uma rede de trabalho nova, a partir da atuação de cada parceiro do projeto, é um desafio importante para quem pratica a inovação aberta. No caso do Bi0s, ele afirma que responder às demandas de mercado na velocidade e no perfil de exigência necessários sem perder a relevância científica e a estrutura organizacional da universidade se faz extremamente necessário.

Entre as diversas características possíveis da inovação aberta está a quebra da base de operações. Muitas vezes, cientistas, instituições de pesquisa e empresas de diferentes países são envolvidos em um mesmo projeto, a fim de colaborar para um fim comum. Através dos avanços e da facilitação da comunicação, organizações públicas e privadas podem contar mais com parceiros de diferentes áreas e locações, tornando o processo de criação de novas tecnologias mais dinâmico e horizontal. Na ciência, um exemplo comum são as parcerias entre universidades de países diferentes, em que pesquisadores de áreas correlatas — ou não — traçam estratégias conjuntas em prol do avanço científico. Nanci explica que é nas universidades que o processo de inovação inicial acontece, sendo a instituição parte de um ecossistema maior, que mobiliza e impulsiona a visão da inovação aberta, “agregando recursos externos e os utilizando para potencializar projetos, interagindo com o mercado e tendo os parceiros interagindo entre si”. 

Paulo César Ferraz é jornalista e aluno da especialização em jornalismo científico do Labjor/Unicamp