Sete coisas que precisam acontecer antes de termos uma economia sem empregos

Por Larry Alton

Algumas pessoas trabalham toda a vida só para não precisar mais trabalhar. Perseguem um sonho de aposentadoria porque, mesmo “gostando” de seus empregos, ainda se trata de uma responsabilidade obrigatória; temos que trabalhar para pagar comida, abrigo e todas as demais necessidades básicas. Mas e se, um dia, pudéssemos viver em uma “economia sem empregos”, um mundo em que todas aquelas necessidades básicas nos fossem supridas porque já há fartura delas? Parece que tal conceito deveria ser relegado – indefinidamente – ao âmbito da ficção científica, mas alguns especialistas em economia e tecnologia preveem que isso pode ser uma realidade ainda durante o período de nossas existências.

Se observarmos a que ponto chegamos, com certeza parece que estamos fazendo progresso; inúmeras tarefas humanas já foram substituídas por máquinas e nossos sistemas estão se tornando cada vez mais eficientes na produção de energia, cultivo de alimentos, reciclagem de recursos e até na replicação de objetos e experiências com impressão em 3D e realidade virtual, respectivamente.

Energia ilimitada
O primeiro obstáculo que precisamos superar é o da energia; se tivermos máquinas e computadores automatizando a maior parte de nossas vidas e nos mantendo alimentados e abrigados, essas máquinas e computadores precisam de alguma fonte de energia contínua para funcionar, o que significa que precisamos de uma fonte de energia limpa, renovável e capaz de produzir mais energia do que consome para ser gerada. A energia solar é uma boa candidata nesse caso, assim como a fusão nuclear, mas ainda nos faltam algumas descobertas científicas revolucionárias para que qualquer uma dessas possibilidades seja realista o suficiente para energizar o mundo todo.

Inteligência artificial criativa
Em seguida, precisamos de formas de inteligência artificial para rodar esses sistemas. A inteligência artificial capaz de resolução criativa de problemas está começando a realizar tarefas que antes se acreditava serem exclusivas dos seres humanos, desde escrever artigos jornalísticos até derrotar campeões profissionais de Go. Esses sistemas não seriam necessariamente autoconscientes (caso você esteja preocupado com robôs assumindo o controle), mas precisariam ser capazes de procurar e identificar soluções para problemas fora de qualquer programação. Esse é um importante obstáculo para o desenvolvimento, mas já estamos resolvendo esse problema de algumas maneiras bastante impressionantes.

Redistribuição de riqueza
Não se trata de um apelo político para redistribuir riqueza nem para instituir uma estrutura fiscal diferente, nem nada do gênero. É o reconhecimento de um importante problema no que tange à introdução de novas tecnologias: os cidadãos mais ricos sempre terão acesso a novas tecnologias antes dos cidadãos mais pobres, podendo ter um interesse manifesto em monopolizar essa tecnologia. Isso não significa que precisamos agir como “Robin Hoods” de nossa sociedade roubando dos ricos para dar aos pobres, mas significa que, se quisermos uma sociedade realmente sem empregos, precisamos melhorar a acessibilidade tecnológica para os cidadãos com renda mais baixa.

Avanços de fonte aberta
Na mesma linha, nunca chegaremos ao ponto de zero emprego enquanto os avanços tecnológicos forem mantidos nas mãos de empresários buscando lucro. Incentivar avanços com a promessa de grande potencial de lucro tem sido uma vantagem para o desenvolvimento tecnológico, mas no futuro vai estagnar a acessibilidade e manter estruturas de classe rígidas o suficiente para que os empregos permaneçam como uma necessidade. Elon Musk, Bill Gates e outras figuras fundamentais da tecnologia já deram passos para tornar o desenvolvimento e a acessibilidade da inteligência artificial de fonte aberta — tanto como medida defensiva como um passo em direção à universalidade — mas, outra vez, ainda temos uma grande distância a percorrer.

Um salário mínimo
No processo de passar para o estado “sem emprego”, muitas tarefas humanas começarão a ser substituídas por máquinas. Durante esse período de transição, nem todas as necessidades das pessoas serão plenamente atendidas e teremos discrepâncias necessárias entre trabalhadores e não-trabalhadores. Embora o sistema tenha vantagens e desvantagens, uma distribuição de rendimento mínimo garantido poderia ser uma solução potencial para o problema.

Nova ocupação
Os seres humanos anseiam por ocupação. Nós nos queixamos de ter que trabalhar, mas qualquer funcionário recém-aposentado ou que tenha sido dispensado dirá a você que o fato de não ter nada para fazer é fisicamente depressivo. Se de repente tivermos 7 bilhões de cidadãos entediados e deprimidos, em vez de membros trabalhadores da sociedade, precisaremos mantê-los ocupados de alguma forma. Alguns sugerem uma revolução nas chamadas artes liberais [formação geral, pensamento crítico e inovador], incentivando os humanos a se dedicarem ao que os torna melhores: tornarem-se criativos e seguirem suas paixões.

Globalização
Finalmente, temos que lembrar que esse movimento não significa tornar os Estados Unidos uma economia sem empregos — significa estender todos esses recursos e possibilidades a todas as pessoas do mundo. Neste momento, as relações internacionais são voláteis e de difícil negociação. Sendo assim, antes de conseguir um patamar de igualdade com uma abordagem econômica universalmente automatizada, precisaremos fazer uma rodada de globalização para conseguir que todas as nações do mundo se entrosem bem umas com as outras. É muito mais fácil falar do que fazer, podendo levar, no mínimo, décadas de negociações.

Não fique animado porque já vai poder deixar de trabalhar — ainda estamos a décadas de distância de conseguir sustentar uma economia sem emprego, e mesmo então, vai ser uma viagem turbulenta.  No entanto, se concentrarmos nossa atenção nessas áreas primordiais de desenvolvimento e começarmos a aumentar a conscientização de que esse sistema um dia poderá ser possível, aceleraremos nosso caminho para chegar a essa realidade. Temos muitos problemas a resolver e barreiras a superar, mas, como espécie, estamos prontos para começar a solucionar e superar tais barreiras.

Larry Alton é escritor e consultor, concentrando seu interesse na forma como avanços tecnológicos combinam-se com demografia e transformações na força de trabalho nos Estados Unidos. Este artigo foi originalmente publicado na revista Forbes em 30 de setembro de 2016 e traduzido para o português por Amin Simaika.