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Editorial
Aids: fazer ou fazer
Por Carlos Vogt
10/05/2006
Os números da Aids no mundo são alarmantes e, se considerada a geografia da extrema pobreza e a incidência gritante da doença na paisagem árida dessa desolação, há países inteiros e quase continentes na iminência de uma catástrofe sem limites da saúde pública.

Desde 1981, quando foi reconhecida pelo Centro para o Diagnóstico de Doenças, de Atlanta, nos EUA, a doença vem se espalhando do modo célere e com eficácia mortal: são cerca de 45 milhões de pessoas infectadas no mundo, com uma concentração de 95% em países pobres e em desenvolvimento.

No Brasil, em decorrência de políticas públicas focadas na questão e de medidas governamentais acertadas e oportunas, quer na prevenção, quer no tratamento medicamentoso da doença, a situação tem-se mostrado estabilizada, ainda que em níveis elevados e sempre preocupantes.

São cerca de 400 mil casos registrados no país com uma distribuição de 2/3 para os homens e 1/3 para as mulheres, com dados que mostram que, num gênero e noutro, a maior causa da transmissão da doença tem origem nas relações sexuais. Dados de 2002 apontavam que esta era a situação para 58% dos casos masculinos e 86.2% dos casos femininos. Para os homens, 25% eram de relações heterossexuais, 21.7%, homossexuais e 11.4%, bissexuais. Os casos ligados a drogas injetáveis eram de 23.4% para os homens e de 12.4% para as mulheres.

Com o desenvolvimento dos coquetéis para tratamento da Aids e com acesso ainda restrito das populações mais pobres e esses medicamentos, a epidemia, na medida de seu crescimento, foi acentuando os contornos sociais de sua incidência, traçando no mundo globalizado dos já dele excluídos mais um predicado complexo de exclusão estigmatizada, misturando aspectos étnicos/raciais, miséria estrutural e um processo de feminização da doença, por todos os títulos preocupante, não fosse apenas o da acentuação de sua transmissão materno-infantil.

Os esforços nacionais e internacionais são grandes no combate à epidemia da Aids, mas os seus resultados continuam ainda menos rápidos do que a velocidade com que a doença se espalha.

As medidas educacionais e preventivas tem de ser tomadas e implantadas com rapidez maior se se quiser a sua eficácia; o acesso aos medicamentos de última geração precisa ser socializado com a mesma urgência e velocidade; a responsabilidade dos ricos pelos mais pobres não pode ser escamoteada ou ideologizada em declarações inócuas e vazias de ações efetivas. No caso da Aids é fazer ou fazer. Não há outra alternativa, a não ser compactuar com um dos maiores desastres sociais de que se terá notícia na história recente da humanidade e da vida no planeta.