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             Termelétricas 
              receberão grandes investimentos 
            A recente 
              viagem do presidente Fernando Henrique Cardoso para a Bolívia 
              teve como objetivo negociar com o presidente Hugo Banzer, a importação 
              antecipada do gás 
              natural boliviano, visando conseguir matéria prima para 
              o funcionamento das usinas geradoras previstas no Programa Prioritário 
              de Termeletricidade (PPT). 
             O 
              PPT foi criado visando um aproveitamento racional das fontes de 
              energia no país. O objetivo é aumentar a oferta de 
              energia em mais de 15 mil MW, a partir da implementação, 
              até 2003, de 49 termelétricas em 18 estados. O programa 
              conta com investimentos de 12 bilhões de reais e, segundo 
              as autoridades federais, a iniciativa deve gerar cerca de 25 mil 
              empregos diretos e 50 mil indiretos. 
            A cota 
              inicial de importação do gás natural prevista 
              era de 30 milhões de metros cúbicos por dia a partir 
              de 2007. Com a antecipação esse mesmo volume de gás 
              deve ser recebido a partir de 2003, além de mais 10 milhões 
              m3/dia, a começar em 2004, oriundos de uma bacia localizada 
              na região de Yacuíba, Bolívia. Lá se 
              encontram ainda outras duas reservas de gás natural, tendo 
              a Petrobrás como concessionária. 
            A antecipação 
              foi resultado da concordância do governo brasileiro em participar 
              de projetos de desenvolvimento econômico da Bolívia, 
              criando condições de transporte para os bolivianos 
              em direção à região portuária 
              do Brasil, além da construção de um pólo 
              petroquímico na fronteira entre os dois países. Governo 
              e iniciativa privada estão juntos no financiamento e no planejamento 
              deste projeto que tem um custo estimado de 1 bilhão de dólares. 
            O grande 
              volume do gás natural boliviano comprado antecipadamente 
              possibilitou, também, uma consulta da Petrobrás ensejando 
              uma revisão global do contrato de fornecimento, assinado 
              entre os dois países quando da construção do 
              gasoduto Brasil-Bolívia (inserir link para o box O Gasoduto 
              Brasil-Bolivia.doc) nos anos 90. Os bolivianos estão admitindo 
              que, em tese, todos os contratos são renegociáveis, 
              já que o acordo inicial firmado admite que se um dos governos 
              propuser alguma modificação, o outro terá 45 
              dias para dar uma resposta. Em caso de impasse, recorre-se a arbitragem 
              internacional.  
            Esta 
              revisão inclui também a questão do preço 
              do gás natural boliviano que, de acordo com o contrato firmado, 
              prevê pagamentos em dólares. Por esta razão, 
              surgiu uma dificuldade para saber a quem caberia o pagamento da 
              diferença cambial do dólar para o real, detalhe que 
              acabou retardando o andamento da questão. Os problemas causados 
              pela crise de energia estão levando o governo brasileiro 
              a assumir provisoriamente esta diferença, através 
              da Petrobrás. A questão do preço continua na 
              pauta das negociações com os bolivianos. O gás 
              que está sendo negociado é para as 26 termelétricas 
              programadas e que deverão produzir 10 mil MW médios. 
            O plano 
              de obras a ser anunciado tem tudo para levar o setor privado a investir. 
              O investimento público estará presente, através 
              da participação da Eletrobrás, Petrobrás 
              e do BNDES, sendo que esta última instituição 
              será a grande financiadora das obras. Mais investimentos 
              deverão surgir de um fundo de 10 milhões de dólares 
              do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para serviços 
              de energia na América Latina. De acordo com o comunicado 
              do BID "seu objetivo será procurar investimentos potenciais 
              em países onde houver avanço para a economia de energia 
              e projetos de energia renovável, como o México e o 
              Brasil". 
            
              
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                   O 
                    Gasoduto Brasil-Bolívia  
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                   O 
                    Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), com 3.150 km sendo 
                    2.593 em território brasileiro, começa na cidade 
                    boliviana de Santa Cruz de La Sierra e termina em Porto Alegre, 
                    corta os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, 
                    Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, passando 
                    por quatro mil propriedades localizadas em 135 municípios. 
                    O traçado acompanha o Rio Tietê, alcançando 
                    a área de Campinas, onde se encontram as indústrias 
                    que, em 1999, foram as empresas pioneiras na utilização 
                    do gás natural boliviano no país. É um 
                    traçado estratégico quando se considera que 
                    passa por uma área responsável por 71% do consumo 
                    energético nacional, 82% da produção 
                    industrial brasileira e 75% do PIB. 
                  Até 
                    então, no estado de São Paulo, somente a capital 
                    e alguns municípios limítrofes faziam uso do 
                    gás natural nacional, oriundo das plataformas submarinas 
                    de Campos (RJ) e de Santos, no litoral paulista. Este sistema 
                    já se encontra interligado ao duto do gás boliviano 
                    através de uma conexão nas proximidades do Vale 
                    do Paraíba. O gás natural de Campos, após 
                    alimentar alguns municípios na área de São 
                    José dos Campos, é injetado na rede paulistana 
                    pela tubulação que corre paralelamente à 
                    Rodovia Dutra e o de Santos sobe a Serra do Mar, em direção 
                    à Zona Industrial do ABCDM. Essa tripla possibilidade 
                    de alimentação cria maior confiabilidade no 
                    sistema de distribuição de gás natural 
                    no estado. 
                  O 
                    Gasbol começou a ser construído em 1997 e iniciou 
                    a sua operação comercial em 1999. Atualmente, 
                    fornece cerca de oito milhões de m3/dia de gás 
                    natural, podendo alcançar 16 milhões em 2002 
                    e 30 milhões em 2004. A estimativa para 2010, com a 
                    plena operação do Gasbol e de outras obras de 
                    porte, é que a participação do gás 
                    natural na matriz energética brasileira ultrapasse 
                    12%. Um grande salto em comparação com a participação 
                    atual de 3%. 
                  A 
                    construção do Gasbol tem sido polemizada ao 
                    longo do tempo. No passado, uma das questões envolvia 
                    inclusive a corrente nacionalista brasileira que temia a instabilidade 
                    política na América Latina, especialmente na 
                    Bolívia, onde sucediam-se governos militares. Esse 
                    fato retardou bastante a aprovação final do 
                    projeto. Outras críticas atuais ao projeto dizem respeito 
                    a questão cambial e ao não aproveitamento do 
                    gás boliviano em função da falta de condições 
                    técnicas para isso. 
                  Apesar 
                    das polêmicas, no dia 28 de junho começou a operar 
                    a primeira usina termelétrica brasileira utilizando 
                    o gás natural da Bolívia. Trata-se da usina 
                    William Arjona, localizada em Campo Grande (MS), que está 
                    produzindo 80 MW e consumindo 540 mil m3/dia de gás 
                    natural. Esta produção no MS atende a 20% do 
                    consumo de energia desse estado. 
                   
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            Outro 
              grande estímulo para os investidores da iniciativa privada 
              são as medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda, 
              isentando as empresas do pagamento do Plano de Integração 
              Social (PIS) e do Financiamento da Seguridade Social (Cofins), quando 
              o carvão e o gás forem usados para a geração 
              de energia. Além disso, a Receita Federal está recomendando 
              aos Secretários Estaduais da Fazenda que isentem as termelétricas 
              do recolhimento de ICMS. 
            Está 
              nos planos do governo a realização de um novo e amplo 
              conjunto de obras. As construções prioritárias, 
              quando não houver interesse dos empresários, serão 
              bancadas pelo governo. 
            Ainda 
              visando aumentar a participação do gás natural 
              na matriz energética brasileira dos atuais 3% para cerca 
              de 10%, o já foram aprovadas a construção de 
              um gasoduto para importar mais 12 milhões de metros cúbicos 
              por dia de gás natural do norte da Argentina com destino 
              a Uruguaiana (RS), onde está sendo construída uma 
              termelétrica com capacidade para produção de 
              600 MW e que terá uma conexão com a cidade de Porto 
              Alegre. 
            Outros 
              gasodutos estão sendo pensados com o objetivo de importar 
              o gás natural da Venezuela, Peru, Argentina e Bolívia. 
              Recentemente a Agência Nacional de Petróleo autorizou 
              a Pan American Energy do Brasil a importar até 15 milhões 
              de m3/dia de gás natural para a comercialização 
              nos três estados do sul do Brasil. 
            Mesmo 
              diante do cenário otimista do gás natural, como alternativa 
              do governo para ajudar o Brasil a superar a crise de energia, existem 
              críticas de alguns setores contrários às políticas 
              de estimular a utilização do gás natural para 
              termoelétricas em detrimento do uso da biomassa que, como 
              matéria prima nacional, resultaria em mais empregos no país. 
              Soma-se a isso a dependência energética que a importação 
              de gás natural traz ao país. 
            Outra 
              crítica refere-se ao gás do gasoduto Brasil-Bolívia 
              que é queimado por falta de infra-estrutura e de condições 
              técnicas para usá-lo, e ainda o prejuízo com 
              o pagamento dos royalties pelo gás inutilizado. Isso representa 
              quase 1 milhão de dólares de desperdício por 
              dia. Só no ano passado, este prejuízo somou cerca 
              de 20 milhões de dólares. Segundo o setor de comercialização 
              da empresa, o gasto, na verdade, representa investimentos iniciais 
              para garantir o retorno no futuro, afirmando ainda que ao longo 
              de sua vida útil o gasoduto Brasil Bolívia vai assegurar 
              um retorno financeiro adequado para a Petrobrás. 
              
              
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