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             Usinas 
              de energia impactam meio ambiente. 
             As 
              três principais formas de geração de energia 
              elétrica atualmente em uso no Brasil - hidrelétrica, 
              termelétrica a gás e nuclear - possuem seus respectivos 
              impactos no ambiente. Por enquanto, com a tecnologia disponível, 
              não é possível contornar este fato. Esses impactos 
              são diferentes, e a decisão sobre qual a melhor solução 
              a ser escolhida demanda uma análise baseada tanto em aspectos 
              técnicos quanto políticos. 
             Uma 
              usina hidrelétrica demanda a inundação de uma 
              vasta área, para a ocupação de seu reservatório 
              de água. Este reservatório e sua capacidade, são 
              responsáveis por garantir a oferta de energia mesmo em tempo 
              de poucas chuvas. O impacto causado por esta modificação 
              no ambiente consiste do alagamento de florestas inteiras e nem sempre 
              estas áreas tiveram suas espécies animais e vegetais 
              estudadas. Áreas verdes são alagadas sem nenhuma avaliação 
              sobre o quê está sendo destruído.  
             O 
              professor Ricardo Iglesias Rios e sua equipe, da Universidade 
              do Brasil/UFRJ, estudaram os peixes de água doce da região 
              de Serra 
              da Mesa, próxima ao distrito de Minaçu, em Goiás. 
              Serra da Mesa é uma grande hidrelétrica do sistema 
              Furnas, posicionada em local estratégico, às margens 
              do rio Tocantins. A usina colabora para a interligação 
              do norte com o sul, vital para a redistribuição da 
              energia pelo país. 
            A pesquisa 
              de Iglesias amostrou a região antes e depois do alagamento 
              do reservatório. Segundo o professor, ocorre uma diminuição 
              na riqueza de espécies de peixes que habitam a área. 
              O fato é especialmente perceptível no caso dos peixes 
              migradores. Com a construção dos reservatórios, 
              os animais ficam impedidos de migrar. Este comportamento está 
              diretamente relacionado com a reprodução das espécies, 
              que fica prejudicada. Alguns pesquisadores têm proposto a 
              construção de vias alternativas para os cursos de 
              água nas plantas de hidrelétricas, a fim de permitir 
              que os animais desloquem-se livremente. 
             Também 
              é possível que uma determinada espécie animal 
              habite uma área muito restrita, a destruição 
              de uma grande área verde pode estar consumando a extinção 
              definitiva de uma espécie que só existia naquela região. 
              Em vários casos - no Brasil a maioria deles - a delimitação 
              da área e a inundação dos reservatórios 
              não é precedida por análise de impacto ambiental 
              (os famosos EIA-RIMA). Assim, muitas vezes nem é possível 
              saber o que está sendo extinto. 
             No 
              uso de usinas termelétricas movidas por carvão, acontecem 
              dois tipos de agressão ambiental: lançam-se gases 
              na atmosfera e despeja-se água quente no meio ambiente. Os 
              gases produzidos são vários, muitos deles com emissão 
              amplamente combatida atualmente como o CO2, 
              o gás carbônico. Mas o CO2 não 
              é o único. A queima do carvão produz também, 
              em menores quantidades, CO (monóxido de carbono) e carbono 
              puro, que são lançados na atmosfera, contribuindo 
              para o aumento do efeito-estufa e piorando a qualidade do ar. Os 
              habitantes de cidades como São Paulo vivem no cotidiano problemas 
              respiratórios causados por estes poluentes (embora os gases 
              não sejam originados pelas usinas). 
            A água 
              quente é um sub-produto do sistema de geração 
              de energia de uma usina termelétrica: o calor obtido na queima 
              do combustível é usado para aquecer a água 
              do circuito primário, que por sua vez aquece a água 
              do circuito secundário. Esta, vaporizada, quando é 
              aplicada no dínamo, movimenta as pás da hélice. 
              O movimento do dínamo é aplicado no gerador, onde 
              se converte em energia elétrica. A água quente resultante 
              do circuito secundário, junto com uma quantidade de água 
              de proteção, usada para manter os equipamentos em 
              segurança, é despejada no ambiente, alguns graus mais 
              quente do que foi captada. 
            Dependendo 
              da localização da usina, aproveita-se a água 
              que o ambiente oferece: na Amazônia a água é 
              captada em rios. As usinas nucleares (que nada mais são do 
              que termelétricas, só que em vez de gás, quem 
              produz calor é a fissão nuclear) de Angra dos Reis 
              captam água do mar e nele a despejam. A usina Angra II devolve 
              a água do mar 60 C mais quente do que a temperatura ambiente. 
             Mas 
              o impacto ambiental das usinas nucleares não se limita à 
              água quente. A fissão do urânio, usada para 
              produzir o calor que movimenta as pás do dínamo, deixa 
              sub-produtos complicados de se manejar: rejeitos radioativos como 
              o plutônio, um elemento químico extremamente perigoso 
              para a saúde humana, que tem que ser manipulado com extremo 
              cuidado e conhecimento. Em Angra dos Reis, nas instalações 
              da Eletronuclear, os rejeitos são classificados em dois tipos: 
              o primeiro, mais radioativo, é o material combustível 
              que é introduzido no reator. São pastilhas de dióxido 
              de urânio (U3O8) 
              usadas na reação de fissão. Este rejeito é 
              o mais perigoso. Depois de usadas, as pastilhas combustíveis 
              são mantidas em uma piscina dentro do prédio do reator, 
              em latões especiais de chumbo. A água da piscina - 
              de um tipo especial, conhecida como água pesada - absorve 
              a radioatividade que porventura escape do chumbo. A água 
              pesada é um tipo de água em que alguns átomos 
              de hidrogênio possuem, em seu núcleo, um próton 
              e um nêutron. É indicada para proteger materiais radioativos. 
            O segundo 
              tipo de material radioativo são os uniformes, luvas e capacetes 
              usados pelos funcionários da usina dentro do prédio 
              do reator. Estes materiais possuem baixa radioatividade, e são 
              mantidos dentro de uma sala especial. São reutilizados depois 
              de alguns anos, por terem perdido a radioatividade. 
             O 
              problema das usinas termelétricas é que ninguém 
              as quer por perto. Depois de prontas, oferecem poucos empregos, 
              apesar de envolverem grandes quantidades de mão de obra em 
              sua construção. Em Angra dos Reis, uma disputa antiga 
              perdura na cidade: os habitantes e a prefeitura julgam que a usina 
              nuclear é uma pedra no sapato do município, que procura 
              investir no turismo ligado às suas praias e ilhas, mas poucos 
              gostariam de aproveitar as férias numa praia ao lado de uma 
              usina nuclear. A questão política de onde instalar 
              as usinas termelétricas fica por conta, muitas vezes, do 
              melhor lobby, e não da melhor condição ambiental 
              para a usina. 
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