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             Brasil 
              poderia aumentar sua capacidade de transmissão de energia 
            Enquanto 
              o ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, anuncia 
              investimentos de R$ 150 milhões para a pesquisa de soluções 
              para a crise energética, tecnologias desenvolvidas há 
              anos sequer foram bem aproveitadas pelo setor elétrico brasileiro. 
              Um bom exemplo disso são as Linhas de Transmissão 
              com Potência Natural Elevada (LPNE), uma tecnologia que pode 
              até triplicar a capacidade de transmissão de uma linha 
              e que, no entanto, está sendo utilizada em apenas 3% do sistema 
              nacional de transmissão elétrica. 
            Originária 
              da Rússia, a LPNE, também conhecida como HSIL (High 
              Surge Impedance Loading Line), foi trazida para o Brasil em 1992 
              e teve um alto grau de desenvolvimento nacional nos laboratórios 
              do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), no Rio 
              de Janeiro, ligado à Eletrobrás. Para que a técnica 
              se adaptasse ao Brasil, foram necessários alguns anos de 
              pesquisa e a criação de softwares específicos 
              para as LPNE nacionais, o que aumentou a capacitação 
              brasileira no desenvolvimento de distribuição de energia. 
            
               
                 
                    
                    Linha piloto de 1,6 km em Aldeia, Recife - 
                    PE. LPNE de 230kV.  
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            As 
              linhas de transmissão com potência natural elevada 
              consistem basicamente no rearranjo dos cabos condutores de energia 
              de modo que as interferências causadas entre eles sejam minimizadas. 
              As linhas de energia sofrem desse problema porque a eletricidade 
              nos cabos gera campos elétricos superficiais, produzindo 
              efeitos que interferem na transmissão. Ao posicionar os cabos 
              em arranjos assimétricos, a tecnologia LPNE otimiza os efeitos 
              do campo elétrico resultando em um aumento da potência 
              natural da linha de transmissão e, conseqüentemente, 
              em mais energia chegando no final do trajeto. Uma outra vantagem 
              é que, aumentando a potência natural da linha evita-se 
              grandes perdas de tensão, dispensando o uso de capacitores 
              no final dos trechos de transmissão. 
            Mas 
              a tecnologia, que poderia estar otimizando o sistema elétrico 
              nacional desde 1996, ainda não foi absorvida nacionalmente 
              pelo setor elétrico. Atualmente, apenas a Companhia Hidrelétrica 
              do São Francisco (Chesf) utiliza a LPNE e, mesmo assim, foi 
              implantada às pressas para suprir de modo emergencial a cidade 
              de Fortaleza que, na década de 90, apresentava crescentes 
              déficits de energia. A solução mais rápida 
              e econômica para aumentar o abastecimento da cidade foi a 
              otimização das linhas de transmissão, o que 
              foi possível através projeto LPNE desenvolvido pela 
              Cepel. 
            A parceria 
              Cepel-Chesf desenvolveu uma técnica mais simples de aumento 
              da potência natural das linhas, chamada de "feixe expandido" 
              ou LPNE-FEX. Menos onerosa que a LPNE no conceito original, a técnica 
              de LPNE-FEX permite estudos, testes e implantação 
              comercial mais ágeis. Através de uma boa adequação 
              do projeto é possível usar as mesmas torres, com alteração 
              apenas nas ferragens e dimensões dos feixes. 
            Durante 
              o desenvolvimento do projeto, a Chesf montou e energizou, em 1994, 
              um trecho experimental de LPNE de 230V e 1,6 km de extensão. 
              E finalmente em 1996, o trecho Banabuiú/Fortaleza de 180 
              km foi o primeiro do Brasil a utilizar a técnica LPNE-FEX 
              em uma linha comercial. Essa ligação foi completada 
              no ano seguinte com a ligação Paulo Afonso/Banabuiú 
              totalizando 660km de linha em circuito duplo com LPNE-FEX. 
            Os 
              ganhos na transmissão por LPNE são consideráveis. 
              Dados fornecidos pela Chesf (veja tabela abaixo) indicam que, em 
              alguns casos, uma Linha de Potência Natural Elevada pode ter 
              uma capacidade de transmissão até três vezes 
              maior do que uma linha convencional. Dependendo da solução 
              adotada, a implantação da LPNE pode até ser 
              mais cara, mas o custo por MW por quilômetro é sempre 
              bem menor que o de uma linha convencional. No caso da LPNE-FEX Paulo 
              Afonso-Fortaleza, os novos parâmetros elétricos da 
              linha ofertam 150MVAr a mais, o que, a um custo de US$20/KVAr (valor 
              de 1995), totaliza US$ 3 milhões. Calcula-se também 
              que a redução da reatância série, proporcionada 
              pela nova tecnologia, gerou uma redução de perdas 
              estimada em mais de 33.000 MWh/ano. Ao custo de US$30/MWh, resulta 
              à Chesf uma economia anual de quase US$ 1 milhão. 
            Apesar 
              das vantagens da LPNE, a técnica vem sendo utilizada em apenas 
              19% dos 17.995km da malha de distribuição da Chesf, 
              o que equivale a menos de 3.500km. Nesse total, incluem-se linhas 
              LPNE-FEX novas e recapacitadas. A empresa também tem projetos 
              de mais 1.100km de linhas LPNE-FEX, destacando-se 210km para reforço 
              do intercâmbio Norte-Nordeste e 660km de linha até 
              Fortaleza, que receberá a tecnologia de feixe expandido durante 
              o trabalho de reisolamento para 500kV. 
            Outras 
              companhias de energia também se interessaram pelo projeto 
              e deverão migrar para a LPNE. Difícil deixar de imaginar 
              que, se não fosse a crise energética, a LPNE talvez 
              se resumisse a poucos trechos da Chesf e seria mais um fruto da 
              pesquisa nacional deixada na gaveta. 
               
            
               
                |  
                   Comparação 
                    entre as capacidades de transmissão  
                    das linhas tradicionais e das LPNE 
                 | 
               
               
                |  
                   tensão 
                    (kV) 
                 | 
                 
                   LT 
                    tradicional (MW) 
                 | 
                 
                   LPNE 
                    (MW) 
                 | 
               
               
                |  
                   69 
                 | 
                 
                   9 
                    a 12 
                 | 
                 
                   10 
                    a 40 
                 | 
               
               
                |  
                   138 
                 | 
                 
                   40 
                    a 50 
                 | 
                 
                   50 
                    a 120 
                 | 
               
               
                |  
                   230 
                 | 
                 
                   120 
                    a 130 
                 | 
                 
                   130 
                    a 390 
                 | 
               
               
                |  
                   500 
                 | 
                 
                   900 
                    a 1020 
                 | 
                 
                   950 
                    a 2000 
                 | 
               
             
            Dados: 
              Chesf 
               
               
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