| Transformações 
        da energia remetem à origem do UniversoUlisses Capozoli
 A primeira lei da 
        termodinâmica diz que a energia não pode ser nem criada nem destruída. 
        A termodinâmica, para quem tem menos familiaridade com a física, investiga 
        os processos de transformação da energia e o comportamento dos sistemas 
        envolvidos nessas ocorrências. Uma usina nuclear não existiria sem os 
        conhecimentos dessa área.  À primeira vista, 
        pode parecer árido e difícil envolver-se com discussões desse tipo. Mas 
        reflexões sobre a transformação da energia podem trazer a experiência 
        de uma profunda revisão no que parece ser a banalidade do cotidiano.  O movimento dos olhos 
        do leitor para acompanhar esse texto, por exemplo, exige o dispêndio de 
        uma quantidade de energia pelo organismo. Essa energia é retirada de alimentos, 
        de origem animal ou vegetal. A fonte que supre animais e vegetais, no 
        entanto, é o Sol e a usina de força do Sol é a fusão nuclear.  Tanto o caldeirão 
        solar como o de outras estrelas, no entanto, só se aquecem, a milhões 
        de graus, por efeito da gravidade.  A pressão gravitacional 
        comprime as massas de gases que formam esses astros até o ponto de entrarem 
        em fusão. Nesse caso, átomos mais leves combinam-se para formar outros 
        mais pesados. A diferença de massa, nessa conversão, é eliminada sob a 
        forma de energia. É o que diz a fórmula de equivalência de massa e energia, 
        a conhecida E= m.C2.  Pronto. Em meia dúzia 
        de passagens, a fonte de energia deixou o coração quente das estrelas 
        para mover os olhos do leitor.  Pode-se discutir o 
        futuro do Universo a partir da segunda lei da termodinâmica.  A segunda lei diz 
        respeito à entropia, quantidade de desorganização de um sistema. Isaac 
        Asimov escreveu um belo conto sobre entropia e morte do Universo em Nove 
        Amanhãs. A pergunta contida no livro é se a entropia pode ser detida. 
         No cotidiano, temos 
        uma visão equivocada de fluxo e fontes de energia.  A energia elétrica 
        gerada por quedas d'água parece não ter relação com a energia nuclear, 
        eólica, solar, das marés, ou a que mantém aquecido e brilhante o núcleo 
        de galáxias e corpos poderosamente energéticos e distante, os quasares. 
         É uma visão enganosa. 
        Segundo a cosmologia do Big Bang, toda a energia do Universo, originou-se 
        da explosão primordial e não cessou de se transformar. O desafio da ciência 
        é contar como tudo isso aconteceu.  Um átomo radioativo 
        como o do urânio, utilizado em reatores nucleares ou em bombas atômicas, 
        formou-se na fase final da vida de uma estrela de grande massa. O artífice 
        das supernovas, como essas estrelas são conhecidas, é a gravidade.  A gravidade cozinha 
        pacientemente átomos simples nos caldeirões estelares até convertê-los 
        em átomos densos e instáveis de matéria pesada. Quando a ruptura do núcleo, 
        a fissão nuclear, libera a energia desses átomos, em reatores nucleares 
        modernos, a água aquecida movimenta um gerador de energia elétrica. Como 
        uma velha máquina a vapor tocada a carvão.  No interior solar, 
        por fusão nuclear, 600 mil toneladas de hidrogênio são convertidos em 
        hélio a cada segundo. Há uma diferença de massa, entre hidrogênio e hélio, 
        eliminada sob forma de energia. Essa é a fonte que alimenta a vida na 
        Terra.  Mas não só diretamente. 
        O aquecimento da Terra dá origem a certos movimentos como as correntes 
        marinhas e os ventos, além de vaporizar a água que formará a nascente 
        dos rios. Contidas em grandes represas as águas têm sua energia potencial 
        acumulada. Com essa força movimenta as turbinas de conversão de energia 
        cinética, o movimento, em energia elétrica.  Os ventos encrespam 
        as águas do mar e formam ondas que varrem praias e costões rochosos num 
        movimento incessante. É possível retirar energia das correntes marinhas 
        e das ondas e, no futuro, certamente faremos isso melhor que agora.  Com a energia das 
        marés não é diferente. Durante muito tempo não se soube. Mas agora sabemos 
        bem que a gravidade, neste caso a interação gravitacional entre a Terra, 
        Sol e Lua, especialmente, é a fonte de energia que move as marés.  Há muitas outras fontes 
        de energia, como a que movimenta a crosta quebrada da Terra e dá origem 
        a vulcanismo, sismo e maremotos. Ainda assim, o que alimenta todas essas 
        usinas é a energia da gravitacão universal.  |