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Esquema de um reator de fusão. Fonte: CFN.

 

 

(Cont.) Investimentos e Perspectivas futuras
Marcelo Knobel

Todos os especialistas na área de fusão nuclear concordam que os reatores seriam excessivamente caros para os padrões atuais, e que a tecnologia envolvida na construção e funcionamento de tais usinas ainda não está completamente desenvolvida. E é justamente esse o ponto mais delicado da questão, pois para avançar nas pesquisas e no desenvolvimento de protótipos são necessários investimentos enormes, sem a garantia de sucesso nos resultados a serem alcançados. Essa é portanto uma aposta que a maioria dos governos não quer assumir, provavelmente sobrepujados pelas necessidades imediatistas e eleitorais dos economistas e políticos, pois resultados efetivos só seriam observados em cinqüenta, talvez sessenta anos. Por outro lado, mesmo insatisfeitos com os recursos até agora obtidos, os cientistas envolvidos com a fusão nuclear continuam a ser bastante otimistas, graças aos enormes avanços alcançados nas pesquisas nos últimos anos.

Permanece ainda a dúvida: vale a pena investir grandes quantidades de dinheiro nas pesquisas em fusão nuclear? A resposta, é claro, depende de previsões para o futuro, e por mais realistas que sejam, diferentes cenários imaginários podem levar a conclusões distintas. Por exemplo, além de ser uma fonte de energia limitada, se os cientistas concluírem que a queima de combustíveis fósseis está provocando de fato mudanças irreversíveis no clima da terra, temos que pensar urgentemente em soluções alternativas. Nessas alternativas podemos incluir as fontes de energia ditas renováveis (como hidroelétrica, solar, eólica, marés, geotérmica, biomassa etc...), a fissão e a fusão.

As fontes de energia renováveis serão cada vez mais importantes, mas não conseguirão suprir todas as necessidades globais, que vêm crescendo continuamente ano após ano. A fissão nuclear poderia suprir essas necessidades, mas tem as suas desvantagens óbvias com relação ao impacto ambiental. Considerando então esse cenário, a alternativa da fusão parece óbvia, mas o empecilho continua sendo econômico. De acordo com B.H. Ripin : "Então, a questão que realmente fica é a seguinte: Podemos nos arriscar a não perseguir vigorosamente a fusão? Uma nova usina nuclear custa entre 1 e 10 bilhões de dólares hoje em dia; uma nova geração de usinas custaria o total de 10 trilhões de dólares! O financiamento das pesquisas em fusão nuclear em torno de 1 bilhão de dólares por ano, mesmo por mais 50 anos, é uma aposta razoável? No meu entender, sim."

Mas também há muitos críticos sérios ao dispêndio de dinheiro com pesquisas em fusão, relacionados com a exiquibilidade e implementação de plantas nucleares, com os problemas de resíduos e proliferação, e com o seu custo total. Por exempo, Edwin Lyman, do Nuclear Control Institute, E.U.A., diz o seguinte: "É realmente um sonho regressivo tentar fazer a energia de fusão funcionar. Se algo como as dezenas de bilhões gastos na pesquisa e desenvolvimento de fusão tivesse ido para pesquisas em energias leves e renováveis, tais como solar e eólica, quem sabe onde estaríamos agora…"

Além dos custos, os governos devem lembrar-se que não se trata de uma simples aposta. Trata-se de investir no futuro da própria humanidade, tanto do ponto de vista energético, quanto da preservação do meio ambiente. Deve se manter, no mínimo, os investimentos necessários para sustentar a pesquisa em uma área tão interessante. Inúmeros exemplos na história da humanidade demonstraram que é extremamente difícil apostar no futuro, mas que a aposta em ciência básica quase sempre resulta em algo proveitoso, muitas vezes inimaginável no momento do nascimento das pesquisas naquela área.

Vale a pena destacar, neste ponto, as palavras, escritas em 1993, do eminente cientista John D. Lawson (especialista em fusão nuclear): "Estamos ainda longe do objetivo final? Tal como podemos conceber atualmente, mesmo com a demonstração do ponto de vista físico e técnico que se espera do ITER, um reator de fusão confiável seria tão complexo que segundo os critérios econômicos atuais seria classificado "não-econômico". Nesta altura é difícil de prever quando a investigação sobre fusão chegará ao fim e poderá fornecer uma contribuição crucial para as necessidades da humanidade.

Seguramente, se pudermos imaginar um mundo tecnológico apoiado, estável, onde as crises políticas e ambientais atuais estejam controladas razoavelmente, então a satisfação de nossas necessidades de energia através da fusão poderá ser um ingrediente essencial do mundo futuro. É uma opção que devemos com certeza manter em aberto para os próximos anos"

Leia a íntegra do artigo de Marcelo Knobel.

   
           
     

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Atualizado em 10/08/2000

   
     

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