Ernst Hamburger dizia ser preciso tornar a ciência tão popular quanto Carnaval e futebol

Físico morreu nesta quarta-feira (4 de julho) em decorrência de um câncer. Em 1970, Ernst Wolfgang Hamburger foi preso e processado por sua oposição à ditadura militar. Convidado a lecionar na Inglaterra, teve o exercício da profissão coibido pelo impedimento de sair do Brasil. Optou, então, por aceitar o convite para ser professor na Universidade Federal da Bahia, em Salvador.

Morreu na quarta-feira (4/7) o físico e professor da Universidade de São Paulo (USP) Ernst Wolfgang Hamburger em decorrência de um linfoma. Conhecido por seus trabalhos com física nuclear, Hamburger também teve atuação marcante na divulgação e educação científica. O cientista foi conselheiro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) entre 1973 e 1979 e membro da diretoria da entidade entre 1979 e 1981. “Ele fez muito pela ciência, pela educação científica e pela divulgação da ciência no País. E foi um lutador incansável e corajoso pela democracia no Brasil”, disse Ildeu Moreira, presidente da SBPC. Hamburguer também foi diretor da Estação Ciência, que ajudou a criar e dirigiu por quase dez anos, de 1994 a 2003.

A presidente de honra da SBPC, Helena Bonciani Nader, lembra a imensa colaboração dele para a realização da Reunião Anual da sociedade em 1977, quando o governo militar proibiu a realização do evento em Fortaleza, depois na USP, em São Paulo. A reunião, no final, aconteceu na PUC-SP, território do Vaticano. “Ele foi um exemplo para os jovens de luta pela democracia, pelos direitos, e foi fundamental para fazer acontecer aquela reunião”, conta a cientista.

Ernst Hamburger nasceu em 8 de junho de 1933 em Berlim, na Alemanha, e chegou ao Brasil em 1936, com três anos de idade. Cresceu entre as ruas Haddock Lobo e Groenlândia, nos Jardins, em São Paulo. Aprendeu português com os amigos na rua e estudou na Escola Estadual Presidente Roosevelt. Naturalizou-se  brasileiro em 1956.

Formado em Física pela USP, na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), em 1954, obteve o PhD, com especialização em física nuclear, na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, em 1959. Em 1970, tornou-se professor titular da USP, posição que ocupou até a aposentadoria compulsória, aos 70 anos de idade.

Também em 1970, foi preso e processado por sua oposição à ditadura militar. Convidado a lecionar na Inglaterra, teve o exercício da profissão coibido pelo impedimento de sair do Brasil. Optou, então, por aceitar o convite para ser professor na Universidade Federal da Bahia, em Salvador.

Como coordenador do curso básico de Física Geral e Experimental para as carreiras de exatas, no Instituto de Física da USP, Hamburger foi um dos artífices da renovação no método de ensino científico no País. A princípio, atuou no âmbito universitário, dando ênfase a aulas práticas de laboratório para tornar o aprendizado mais desafiador. Depois, elaborou diversos projetos destinados à formação de professores do ensino básico.

No território brasileiro, o físico exerceu diversas posições, tanto na academia quanto nos experimentos científicos, por várias décadas.  Além de coordenar e ser coautor de diversas obras didáticas sobre Física, publicou dezenas de livros sobre Física e energia nuclear. É reconhecido também por organizar a produção de filmes (anos 1970) e vídeos (a partir de 1985) didáticos de física, para ensino universitário, médio e fundamental. Além de supervisionar programas de TV para ensino médio de Física na década de 1990, como Colégio 2 na TV Cultura e Telecurso 2000 na TV Globo.

Com informações do Jornal da Ciência

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Assista ao vídeo em homenagem ao pesquisador produzido pelo Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (Cepid Neuromat), com apoio da Fapesp: